Tarifa zero em Salvador: Bruno Reis diz que é possível com subsídio federal
Segundo o prefeito de Salvador, Bruno Reis, a medida só seria possível em caso de subsídio integral da União
Por Juana Castro.
O prefeito de Salvador, Bruno Reis (União Brasil), comentou nesta quarta-feira (24) a proposta do governo federal para implantar a tarifa zero no transporte público em Salvador. Segundo ele, a medida só seria possível caso o subsídio integral fosse custeado pela União.
“Se o governo federal pagar o subsídio, sim. Não existe almoço de graça — alguém tem que pagar. Hoje, o custo do sistema de Salvador é de R$ 1 bilhão. A prefeitura já investe cerca de R$ 90 milhões por ano, mas não tem recursos para cobrir o valor total. Se todo o dinheiro do transporte de todos os trabalhadores do Brasil for para um fundo, aí sim seria possível”, afirmou Bruno Reis.
O prefeito destacou que a adoção da tarifa zero em Salvador exigiria articulação entre as três esferas de governo e demonstrou ceticismo quanto à viabilidade da proposta diante do atual cenário político nacional.
“Acho que não vai avançar nesse clima do país, mas estou à disposição para discutir números e contribuir para qualquer análise sobre o tema”, completou.
Tarifa zero para pessoas com mais de 60 anos
Há um mês, Bruno Reis disse que avaliaria o projeto de lei aprovado pela Câmara de Vereadores, em dezembro de 2024, que permite gratuidade na tarifa de ônibus a pessoas a partir de 60 anos – atualmente, o benefício é válido a partir dos 65.
O gestor afirmou, no entanto, ser difícil sancionar o projeto em função da logística financeira que a medida necessitaria. “É um projeto complexo que precisa, à medida que a indicação chegue, ser analisado, mas de antemão posso antecipar que não é fácil a sua implementação diante da crise que vive o transporte público, não só em Salvador, mas em todo o Brasil”, explicou, em entrevista ao Aratu On.
Na oportunidade, ele reiterou, ainda, que a prefeitura de Salvador se baseia no Estatuto da Pessoa Idosa, lei federal que determina gratuidade no transporte público para idosos a partir de 65 anos. O prefeito também argumentou que é possível que a capital baiana tenha dificuldade para conseguir subsídios federais para o transporte público caso a nova faixa de gratuidade seja implementada.
Tarifa zero para desempregados
Também no último mês de agosto a Câmara Municipal de Salvador tam recebeu o Projeto de Lei nº 329/2025, que institui o Auxílio Mobilidade no Transporte Público Municipal. A proposta prevê a concessão de gratuidade no transporte coletivo para pessoas desempregadas inscritas no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal (CadÚnico), com o objetivo de assegurar o direito à mobilidade urbana como instrumento de inclusão social, econômica e profissional.
Segundo o texto do vereador Randerson Leal (PP), o benefício consistirá em um bilhete único gratuito, válido por até dois meses consecutivos, limitado a 30 passagens mensais — não cumulativas. O projeto ainda segue para avaliação das comissões antes de ser votado no plenário da Casa.
Em tempo: Rui Costa diz que foco dos investimentos em mobilidade tem que ser o povo
Em agosto deste ano, o ex-governador da Bahia e atual ministro da Casa Civil, Rui Costa, afirmou que "quando o assunto é transporte e investimentos em mobilidade, o foco tem que ser a população, o povo brasileiro”. A declaração foi feita durante a abertura do encontro Conexão ANPTrilhos 2025 – Mobilidade Estruturante, realizado em Brasília. O ministro também falou sobre as iniciativas do Governo Federal e a retomada do investimento público no setor.
Tarifa zero em Salvador: o que diz especialista
Em 2023, em conversa com o Aratu On, o pesquisador e coordenador do Observatório da Mobilidade Urbana de Salvador (ObMob), Daniel Caribé, afirmou que o financiamento da tarifa zero pode vir de diversas fontes: a remodelação do vale-transporte, o orçamento municipal e a cobrança a donos de carros pelo uso das vias públicas.
À época, o transporte público gratuito já era realidade em mais de 70 cidades brasileiras. Dessas, apenas uma tinha mais de 300 mil habitantes: o município de Caucaia, no Ceará. Além disso, seis capitais discutiam a possibilidade, incluindo São Paulo e Distrito Federal.
A ideia de dividir o subsídio do transporte com os governos estadual e federal também era uma ideia defendida pelo especialista, na ocasião. "O metrô de Salvador, por exemplo, é parcialmente subsidiado pelo Governo do Estado, e a ideia é que isso se amplie, que os entes federais participem mais da gestão e do financiamento dos transportes coletivos, para que a gente possa, gradualmente, chegar a uma tarifa módica [mais acessível] ou até mesmo à tarifa zero".
No entanto, o preconceito e/ou ignorância em relação ao transporte público e à tarifa zero são obstáculos para avançar em um debate sobre o tema.
"As pessoas continuam achando que o que é gratuito é impossível de se alcançar; que o gratuito não presta, que vai ser vandalizado ou não terá boa qualidade. Quando, na prática, é exatamente isso que acontece hoje com o transporte coletivo. Que é ruim, precário, ineficiente, caro e não é público. Ou seja, a gente acaba não olhando para o que de fato acontece, enquanto a gente tem várias políticas públicas no país que, mesmo com seus problemas, acontecem com um mínimo de efetividade", comentou Caribé, à época.
Por fim, ele reforlou que o importante é que a população tenha direito ao transporte público e, com isso, acesse outros direitos sociais, como saúde, educação, cultura, lazer e emprego. "A mobilidade é o meio para se alcançar outros direitos sociais", refletiu o coordenador do ObMob.
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