Facções criminosas em Salvador: ascensão do crime organizado na capital

Facções criminosas em Salvador têm em comum características da ascensão das grandes organizações nacionais; saiba mais sobre essa conexão

Por Anna Caroline Santiago.

Na Bahia, ao menos 14 facções criminosas disputam o controle do tráfico de drogas, da juventude e, principalmente, do território. A disputa pelo controle das comunidades e das rotas mais estratégicas de Salvador sempre foi de interesse das quadrilhas locais, mas, desde 2018, a capital entrou em um novo estágio de conflito: uma disputa de aliança com facções nacionais como o Comando Vermelho (CV) e o Primeiro Comando da Capital (PCC), organizações com ramificações em todo o país e até em países fronteiriços, como Paraguai, Bolívia, Colômbia e Venezuela.

Facções criminosas em Salvador: ascensão do crime organizado na capital. Foto: Reprodução

Parte da aliança na capital

Entre as facções que mais disputam território em Salvador, as mais proeminentes são o Comando Vermelho (CV) e a quadrilha baiana Bonde do Maluco (BDM), que atualmente se destacam pela crescente influência no poder paralelo da Bahia. 

Além delas, a capital abriga outras organizações, como Katiara, Comando da Paz (CP), Ordem e Progresso (OP) e Terceiro Comando Puro (TCP), sem contar facções com atividade reduzida, como a Tropa do A, fruto da transformação da Ordem e Progresso (OP), que marca a chegada do PCC na Bahia.

Apesar de uma infinidade de associações criminosas, elas têm algo em comum. O processo de ramificação entre elas. Hoje, o Comando da Paz, por exemplo, se incorporou ao CV, enquanto o BDM se aliou a carioca, TCP. Já a Katiara, que atuava em Valéria, apesar de atividade solo, também se alinha ao Comando Vermelho. 

Facções criminosas e o poder de Estado

O professor Luciano Pontes, especialista em Direito Penal e Segurança Pública, destaca que essa expansão das facções nacionais ocorre num cenário marcado pela ausência do Estado em áreas periféricas:

“Salvador apresenta bairros periféricos grandes, em relevos acidentados, com população carente em extrema pobreza. O crime organizado adentra e acaba fazendo o papel do Estado, ordenando o território e impondo suas próprias leis, contrariando o Estado democrático de direito.”

Pontes ainda menciona como os criminosos já se organizam como Estado, a exemplo do “Tribunal do Crime”, onde os próprios aliados fazem juízo de valor das ações dos integrantes. 

Antes da chegada do Comando Vermelho, a facção Comando da Paz, criada em 2007 no Presídio Salvador, tornou-se, em meados de 2020, uma célula do CV, segunda maior organização criminosa do país, que surgiu na década de 1970 no Rio de Janeiro.

Por outro lado, o BDM, conhecido pelas ruas da capital em 2010, como Caveira - foi uma das facções mais antigas da Bahia, entrando em declínio após a morte de seu líder em 2019. Atualmente, possui aliança com o TCP, terceira maior facção do Rio de Janeiro.

O professor Luciano Pontes explica a lógica por trás dessas alianças a partir das ramificações do sistema criminal, e como as organizações “encontraram no Nordeste um terreno fértil ao se aliarem às facções locais”. 

 “As facções do Sudeste funcionam como verdadeiras multinacionais do crime, com ramificações pela América do Sul e até Europa. Elas buscam expandir seus negócios, não só no tráfico de drogas, mas também na lavagem de dinheiro em setores diversos, como o comércio de combustíveis”, afirma. 

Recentemente, pichações da marca do TCP, surgiram em pontos turísticos de Salvador, como o Porto da Barra, sinalizando a força da aliança com o BDM. A terceira maior facção do Rio de Janeiro, com destaque no Complexo de Israel, que abriga as favelas da Zona Norte da cidade, firmou a aliança com a facção baiana em abril de 2024, por meio de uma mensagem divulgada nas redes sociais, afirmando que passaria a adotar o nome Terceiro Comando Puro.

Veja: 

Susposto comunicado de aliança entre o BDM e a facção carioca, TCP. Foto: Reprodução

Na comunidade de Vila Verde, tradicionalmente controlada pelo CV, o BDM agora exerce influência com o TCP, demonstrando a complexidade da disputa territorial. 

Em força paralela com o BDM, o grupo paulista PCC, participa do tráfico baiano desde 2018, mas em abril deste ano, se tornou aliado direto ao BDM e TCP.

Em abril, eles anunciaram e celebrando que estavam no fronte, agora, com o PCC, com fogos de artifício  nas redes sociais; Assista: 

O Aratu On montou o mapa da violência em Salvador com base nos dados do Instituto Fogo Cruzado, que revela a forte influência das facções nos bairros mais violentos.

Bairros com maior índice de violência armada e suas facções dominantes:

Bairros mais violentos segundo dados do primeiro semestre do Instituto Fogo Cruzado. Foto: Aratu On

Vale ressaltar, que nestes números existe a influência da atividade policial, uma vez que, o estado tem, desde 2022, a polícia mais letal do Brasil. Só no primeiro semestre de 2025, 42% dos tiroteios ocorreram em ações policiais. 

O professor Luciano chama atenção para o efeito das ações policiais e o aumento da letalidade: “A polícia baiana enfrenta desafios estruturais, como falta de equipamentos, treinamento e efetivo adequado, tornando confrontos mais violentos e coloca a população civil na linha de fogo cruzado entre polícia e facções criminosas.”

Primeiro semestre de 2025, registrou que 42% dos tiroteios ocorreram em ações policiais. Foto: Polícia Militar Bahia

Os números mostram que, só no primeiro semestre de 2025, 42% dos tiroteios em Salvador ocorreram em ações policiais. Segundo o Instituto Fogo Cruzado, Salvador e região metropolitana registraram 839 tiroteios, com 700 mortos e 164 feridos, sendo que 43,5% dos mortos e 26% dos feridos foram em operações policiais.

Para o professor Luciano, o combate eficaz à violência passa pela integração de políticas públicas, e que não houver “esperança”, a população continuará sendo refém do crime organizado.”

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