Mapa da Violência em Salvador: áreas mais perigosas e como se proteger
Instituto Fogo Cruzado aponta os bairros mais afetados pela violência armada no primeiro semestre de 2025
“A violência armada tem cor, raça, classe e território muito bem definidos”, define Tailane Muniz, coordenadora regional do Instituto Fogo Cruzado na Bahia, sobre o Mapa da Violência em Salvador. Diante do cenário apresentado pelo levantamento, o Aratu On mostra as áreas mais perigosas e como se proteger na capital baiana.
Nesta semana, dois levantamentos chamaram atenção para a capital baiana como a mais violenta do Brasil. O alerta vem do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado nesta quinta-feira (24) pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Já o Fogo Cruzado detalha os bairros mais afetados pela violência armada no primeiro semestre de 2025.
Salvador lidera nos índices de violência armada
Entre os municípios da Região Metropolitana, Salvador foi o mais impactado: concentrou 73% dos tiroteios, 69% dos mortos e 79% dos feridos registrados em 2025. Os bairros com maior incidência são:
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Lobato: 23 tiroteios, 18 mortos e 5 feridos
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Beiru/Tancredo Neves: 22 tiroteios, 5 mortos e 5 feridos
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Mussurunga: 19 tiroteios, 14 mortos e 4 feridos
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Fazenda Coutos: 18 tiroteios, 18 mortos e 3 feridos
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Narandiba: 14 tiroteios, 13 mortos e 2 feridos
Na Bahia, ao menos 14 facções criminosas disputam o controle do tráfico de drogas. Paralelamente, o estado tem, desde 2022, a polícia mais letal do Brasil. Só no primeiro semestre de 2025, 42% dos tiroteios ocorreram em ações policiais.
Segundo o Fogo Cruzado, Salvador e RMS registraram 839 tiroteios, com 700 mortos e 164 feridos. Desses, 43,5% dos mortos e 26% dos feridos foram em operações policiais. O número de mortos em chacinas policiais subiu de 17 (em 2024) para 57 em 2025.
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O número de chacinas policiais aumentou de cinco para 14 em apenas um ano. Também cresceu o número de adolescentes baleados em ações policiais: de três, em 2024, para 14 em 2025, uma alta de 367%.
Outro dado alarmante é que 69 pessoas foram baleadas dentro de casa no primeiro semestre de 2025 — 64 morreram e cinco ficaram feridas. Em 2024, foram 64 vítimas, com 57 mortes e sete feridos.
Balas perdidas, disputas e perseguições
Em 2025, 19 pessoas foram atingidas por balas perdidas: sete morreram e 12 ficaram feridas. Nove dessas vítimas foram atingidas durante ações policiais, com quatro mortes e cinco feridos.
Também se destacam mortes em disputas por território entre facções e em perseguições. Foram 81 tiroteios em confrontos entre grupos armados, que deixaram 45 mortos e 28 feridos. Já em perseguições, foram 22 tiroteios no semestre.
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Segundo Tailane Muniz, “A Bahia possui a polícia mais letal do Brasil desde 2022, e 42% dos tiroteios no primeiro semestre de 2025 ocorreram em ações policiais, uma proporção extremamente elevada que demonstra a persistência de um modelo operacional baseado no confronto armado.”
Quem são as vítimas?
Tailane destaca que, além de a violência se concentrar em bairros periféricos, o perfil das vítimas reforça esse padrão. “Entre as pessoas com recorte racial identificado em nossos dados”, disse.
“370 foram identificadas como negras; apenas 17 eram brancas. Isso evidencia que a violência armada na Bahia afeta desproporcionalmente a população negra e periférica, seja como vítima de grupos armados ou da própria ação policial”, aponta.
A maioria das vítimas é do sexo masculino. Em Salvador e RMS, entre os 864 baleados, 784 eram homens -ou seja, 91% do total.
Para a coordenadora do Fogo Cruzado, o perfil das vítimas não é aleatório - “ele reflete exatamente as desigualdades da nossa sociedade”. Segundo ela, as vítimas são, em geral, homens jovens, negros e moradores de periferias - “e isso deveria orientar as políticas públicas de segurança, que precisam focar na proteção dessas populações em vez de continuar com estratégias que as vitimizam ainda mais”.
Quais os crimes mais recorrentes?
Além dos homicídios, outros crimes preocupam Salvador. Dados da Polícia Civil revelam que os mais frequentes, depois dos assassinatos, são roubo e furto de veículos, com 4.925 e 3.591 registros, respectivamente. O furto de veículos foi o único crime que não apresentou redução desde 2023.
Outro destaque do Anuário é o roubo e furto de celulares. Embora Salvador tenha apenas 1,2% da população nacional, responde por 3,9% desses crimes no país, ficando em 4º lugar no ranking nacional — atrás apenas de São Paulo, Belém e São Luís.
Como vivem os moradores dos bairros mais violentos?
O Aratu On conversou com dois moradores dos bairros listados entre os mais perigosos: Júlio Cesar Borges, 24 anos, estudante de jornalismo em Mussurunga; e Raissa Dámasio, 23, publicitária moradora de Narandiba.
Raissa conta que sente impactos diretos na rotina. “Eu evito sair antes das 6h e depois das 19h. Geralmente eu e meu companheiro nos organizamos mapeando os possíveis caminhos alternativos e transportes alternativos”.
O horário citado por Raissa coincide com o pico de roubos e furtos de celulares, que acontece entre 10h e 20h, segundo o Anuário.
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Já Júlio afirma não sentir os efeitos da violência em seu cotidiano. “Nem eu e nem minha família sentimos algo para precisarmos mudar”. Ele acrescenta: “A minha mãe, ela tem comércio no bairro, ela tem uma confeitaria e dois trailers e não alterou, esses episódios não alteraram o horário de fechamento, de abertura, de nada disso”.
No entanto, Júlio reconhece que há áreas críticas. Segundo ele, moradores de Mussurunga evitam a localidade de Vila Verde, próxima ao bairro. A região é cenário de confrontos diários entre facções, com alianças entre Bonde do Maluco (BDM) e Terceiro Comando Puro (TCP) contra o Comando Vermelho (CV), que atualmente domina o território. As informações foram repassadas ao Aratu On por fontes locais.
Raissa, por sua vez, mora em uma rua que liga a Estrada da Cachoeirinha, no Cabula IV, à principal Edgar Santos, frequentemente usada como rota de fuga. Para ela, a presença da viatura não traz sensação de segurança. “Viatura perseguindo moto, muitas motos passando em alta, ignorando os quebra-molas, derrapando no chão, alguns gritando pra correr mais”, relata.
A Bahia no ranking da violência
A Bahia figura como o 2º estado mais violento do Brasil em 2024, segundo o Anuário. O ranking é liderado pelo Amapá (45,1 mortes por 100 mil habitantes), seguido por Bahia (40,6), Ceará (37,5), Pernambuco (36,2) e Alagoas (35,4).
No total, foram registrados 6.036 homicídios na Bahia em 2024 - uma taxa de 40,6 por 100 mil habitantes. Apesar do número elevado, houve uma queda de 8,4% em relação a 2023, quando a taxa era de 44,4.
A Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA) afirma que tem atuado para mudar esse cenário. Em nota ao Aratu On, o órgão destacou a contratação de 6 mil novos policiais em dois anos, além de investimentos em estrutura, armamento, inteligência e operações integradas contra facções.
Como resultado, a SSP-BA aponta uma redução de 16,6% das mortes violentas na capital baiana no primeiro semestre de 2025.
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