Em meio guerra diplomática, EUA ameaça afetar uso do GPS no Brasil
Segundo especialista, tão ruim quanto paralisar uso do GPS seria induzir ao erro a partir dele
Por João Tramm.
A guerra diplomática entre Brasil e Estados Unidos pode ter novos capítulos e, dentre as sanções estudadas, está o possível bloqueio ou degradação proposital do sistema de GPS dos Estados Unidos no território brasileiro. Para o especialista em tecnologia Leonardo Cardoso, os impactos de uma medida como essa vão muito além de uma simples paralisação de serviços como Uber ou iFood — podendo afetar desde operações de distribuição de energia até o deslocamento de mísseis e navios militares.
“Podem inverter coordenadas globais, atrapalhar navegação, causar caos na aviação, degradar a precisão. O GPS civil tem uma acurácia de 3 a 5 metros, mas se for degradado, essa margem pode subir para 50 metros”, conclui o especialista. “Isso pode parecer pequeno, mas imagine um Uber errando o ponto certo da corrida — ou um avião errando a pista de pouso", explicou Leonardo Cardoso.
Segundo ele, tão ruim quanto a paralisação total do sinal é a indução proposital ao erro, o que representa uma verdadeira medida de guerra. A iniciativa consta em comprometer a precisão de sistemas automatizados civis e militares, uma tática conhecida no meio técnico como "falsificação de GPS", ou GPS spoofing, já usada em outros contextos ao redor do mundo.
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Índia x Mianmar e a guerra do GPS
Cardoso cita um episódio envolvendo a Força Aérea Indiana (IAF), que enfrentou suspeita de falsificação de GPS durante uma missão humanitária para Mianmar. A aeronave transportava suprimentos após um terremoto e, segundo fontes do setor militar, houve tentativa de manipulação dos sinais de navegação.
A IAF afirmou que “todas as missões foram cumpridas conforme o planejado”, mas o episódio chamou atenção para esse tipo de interferência. “A falsificação de GPS pode ser considerada uma forma de ataque cibernético que inclui a geração de sinais falsos de GPS para enganar uma aeronave”, diz um trecho da nota divulgada à época.
GPS: muito além da localização
De acordo com Cardoso, o sistema GPS é muito mais do que um serviço de localização para motoristas de aplicativo. Ele fornece, por exemplo, informações de horário que são essenciais para sistemas como os de energia elétrica.
“Por exemplo, um sistema de controle de energia onde o centro operacional precisa enviar comandos a uma subestação. Sem o GPS, eles perdem o que chamamos de timestamp, a hora exata. Esses sistemas operam com precisão de milissegundos. A falha pode gerar um apagão numa cidade inteira”, explicou.
Além disso, sistemas de lançamento de foguetes e mísseis também dependem da sincronização e navegação via GPS. Uma distorção deliberada nos dados pode não apenas causar falhas, mas até fazer com que uma arma atinja o ponto errado — ou até mesmo seu próprio ponto de origem.
Celulares modernos e alternativas
Enquanto o GPS americano domina o setor, Cardoso lembra que há outros sistemas globais de navegação por satélite — como o Galileo (europeu), o BeiDou (chinês), o GLONASS (russo), o QZSS (japonês) e o NavIC (indiano).
Dessa forma, em especial os celulares mais modernos, fazem a troca de satélite de modo automático, caso o serviço norte-americano pare de funcionar.
Como forma de demonstrar o especialista utilizou uma ferramenta que demonstra quantos satélites estão disponíveis naquele momento na região. Perceba na imagem que a maioria era americana (10), mas outros 14, de três nacionalidades diferentes, estavam sobrevoando o espaço naquele momento.
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