Carreira política de Jerônimo Rodrigues: de militante a governador da Bahia

Carreira política de Jerônimo Rodrigues começou em grupo católico em Jequié, seguiu por movimento estudantil em Cruz das Almas e se consolidou com filiação ao PT em 1990

Por Matheus Caldas.

A carreira política de Jerônimo Rodrigues (PT) foi coroada, em 1º de janeiro de 2023, com o maior cargo da Bahia: o de governador. Pouco conhecido do grande público, ele se tornou, rapidamente, uma das figuras mais famosas do estado. Embora tivesse pouca evidência na opinião pública, o petista começou na carreira política ainda na década de 1970.

Foi na adolescência que a carreira política de Jerônimo Rodrigues teve início, com referências na militância estudantil e religiosa.

Aos 14 anos, ele ingressou no movimento juvenil Guvic Esperança, em Jequié, cidade onde foi morar com nove anos. O grupo era um coletivo juvenil da Paróquia de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro.

Jerônimo Rodrigues (agachado à esquerda) | Foto: Acervo pessoal

Nesta época, Jerônimo teve influências de duas das quatro irmãs: Rita e Marta. Os três, inspirados pelos ideais progressistas, sobretudo em um cenário de oposição da esquerda à ditadura militar, começaram a se interessar, progressivamente, pela política.

Jerônimo é o mais jovem do tr. Na época, no início na década de 1980, os três seguiam caminhos em grupos estudantis distintos das escolas públicas nas quais estudavam. Dos nove filhos de Seu Ziza e Dona Maria Cerqueira, os três foram os únicos que iniciaram e seguiram a carreira política – hoje, Marta Rodrigues (PT) é vereadora em Salvador, Rita Rodrigues (PCdoB) foi vereadora e vice-prefeita de Jequié, entre 2000 e 2008.

Carreira política de Jerônimo Rodrigues ascende na década de 1980

Após terminar o ensino médio em Jequié, Jerônimo partiu para a vida acadêmica. Inicialmente, tentou o curso de Construção Civil, na Universidade do Estado da Bahia (Uneb), em Salvador. Na época, morou um período com uma das irmãs, Marta, que realizava pós-graduação na instituição.

Jerônimo, no entanto, ficou pouco tempo em Salvador. Ele rumou em direção a Cruz das Almas, onde estudou Agronomia, na Universidade Federal da Bahia (Ufba). Foi aí o ponto de partida para o agora governador seguir as duas bandeiras pelas quais ficou conhecido antes de entrar no PT: a educação e o desenvolvimento rural do interior do estado.

Na Ufba, fez parte do movimento estudantil. Embora não tenha coordenado o grupo, se dividia entre as atividades acadêmicas e de luta de classes. 

Neste período em Cruz das Almas, Jerônimo participou de protestos pelas reformas dos alojamentos estudantis na Ufba e pela ampliação do restaurante universitário.

No final da década de 1980, após concluir a graduação, teve o primeiro cargo público: foi secretário de Agricultura em Aiquara, cidade onde ele e os irmãos nasceram, situada a 414 km de Salvador.

Jerônimo Rodrigues em restaurante universitário na juventude | Foto: acervo pessoal

Filiação ao PT

Jerônimo filiou-se ao Partido dos Trabalhadores em fevereiro de 1990. Na época, ele seguia conciliando a carreira acadêmica com os movimentos sociais. Em 1991, aprovado no concurso público para lecionar na Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs), foi morar na segunda maior cidade da Bahia.

Aos 25 anos, Jerônimo aderiu ao Movimento de Organização Comunitária de Feira (MOC), grupo que contribuía com comunidades do semiárido e do entorno da cidade, com construção de cisternas e projetos para melhoria de infraestrutura para pessoas de diferentes territórios de identidade.

A consolidação da carreira política de Jerônimo Rodrigues no PT veio justamente nesta fase. “Acho que isto foi fundamental e ele teve ligação maior com as pautas de território de identidade”, diz Marta Rodrigues.
No MOC, Jerônimo se consolidou como seguidor das linhas educacionais de educadores como Anísio Teixeira e Paulo Freire.

Cargos de Jerônimo com Dilma, Wagner e Rui Costa

Entre 2007 e 2010, Jerônimo foi assessor especial da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado da Bahia. Em 2010, assumiu o mesmo cargo na Secretaria do Planejamento do Estado.

Com a posse da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), em 2011, passou a integrar a equipe do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA). Ocupou cargos como secretário executivo adjunto, secretário nacional de Desenvolvimento Territorial (SDT/MDA), assessor especial do ministro do Desenvolvimento Agrário e secretário executivo do Programa Proterritórios/Cumbre Ibero-Americana.

Durante permanência no governo Dilma, formalizou a divisão do estado em territórios de identidade, ideia da qual é entusiasta desde o período em que começou a lecionar na Uefs. Permaneceu na esfera federal até 2014.

Ainda em 2014, coordenou o Programa de Governo Participativo de Rui Costa (PT), eleito governador da Bahia naquele ano. A atuação se repetiu em 2018, com a reeleição de Rui. Entre as propostas elaboradas por Jerônimo que se tornaram políticas públicas, estão as policlínicas regionais de saúde, o Programa Primeiro Emprego e programas de assistência estudantil voltados à segurança alimentar e à permanência escolar.

Jerônimo teve cargo no governo de Dilma Rousseff | Foto: redes sociais

Em 2015, Jerônimo assumiu a recém-criada Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR), onde permaneceu até 2019. Sob a gestão dele, o governo estadual investiu mais de R$ 2,5 bilhões para fortalecer a agricultura familiar. Foram implantadas ou requalificadas 442 agroindústrias familiares, além de iniciativas voltadas à regularização fundiária e ambiental.

De 2019 a 2022, Jerônimo foi secretário estadual da Educação. Neste período, liderou o programa de reestruturação física das escolas, com mais de R$ 3,5 bilhões investidos na ampliação, modernização e construção de unidades escolares.

Durante a pandemia da Covid-19, criou programas como o Vale-Alimentação Estudantil, que forneceu recursos financeiros aos alunos da rede estadual, além do Bolsa Presença, com repasses mensais de, ao menos, R$ 150 para famílias de baixa renda.

Relação com as irmãs e chegada ao governo

Jerônimo foi o último dos irmãos na política a exercer um cargo eletivo. A primeira a disputar e vencer uma eleição foi a irmã, Rita, em 2000. Se elegeu vereadora de Jequié e, no pleito seguinte, foi eleita vice do prefeito Reinaldo Pinheiro (PP).

Após deixar a prefeitura, tornou-se servidora pública e não ocupou mais cargos eletivos, mas segue com a coordenação do PCdoB do território de identidade do Médio Rio de Contas, que engloba municípios como Jequié, Aiquara, Ipiaú e Ubatã.

Em 2009, foi a vez de Marta Rodrigues. Ela foi eleita vereadora de Salvador para mandato até 2012. Após quatro anos fora do Legislativo soteropolitano, voltou em 2017 e ocupa cadeira na Câmara Municipal desde então. 

Por mais de uma vez, foi líder da oposição na Câmara durante as gestões dos prefeitos ACM Neto (União) e Bruno Reis (União).

Rita e Marta, irmãs de Jerônimo Rodrigues | Foto: arquivo pessoal

Campanha para governador e vitória em 2022

Com a decisão de Rui Costa de apoiar Lula na campanha presidencial e de não concorrer o Senado, o PT surpreendeu. Após Jaques Wagner e Otto Alencar (PSD) abrirem mão da disputa pelo grupo petista, nomes como Moema Gramacho, Jorge Solla e Luiz Caetano se colocaram na disputa interna do partido.

No fim, o franco-atirador Jerônimo Rodrigues foi escolhido por Rui e surpreendeu a opinião pública.

Jerônimo enfrentou ACM Neto, ex-prefeito de Salvador e principal nome da oposição. Pela primeira vez em anos, o PT enfrentou segundo turno, fato que não acontecia desde a vitória de Wagner, em 2007. Apesar disto, Jerônimo venceu com 52,79% dos votos válidos e manteve o PT à frente do Executivo estadual.

A campanha foi marcada pelo massivo apoio do presidente Lula, então candidato à presidência, movimento encarado por especialistas como decisivo para Jerônimo vencer a eleição.

Perfil político e aliados estratégicos

Jerônimo Rodrigues é dono de um dos maiores arcos de alianças da história do PT na Bahia. Ele é apoiado por partidos como PCdoB, PV, PSB, MDB e PSD.

Alguns dos apoiadores mais importantes da gestão do petista são os senadores Otto Alencar (PSD), Jaques Wagner (PT), o ministro da Casa Civil, Rui Costa (PT), o vice-governador Geraldo Jr. (MDB) e o ex-ministro Geddel Vieira Lima (MDB).

Para o jornalista Rodrigo Daniel Silva, mestre em Comunicação Política pela Ufba, Jerônimo possui perfil mais alinhado ao de Wagner. “Wagner se projetou como um político de articulação, um negociador. Rui construiu a imagem de “gerentão”, de gestor técnico. Jerônimo ainda tenta se firmar como construtor político, mas precisa lidar com um ambiente mais restrito para justificar suas dificuldades - e, por isso, sua margem de manobra é menor”, analisa.

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