Há quanto tempo PT governa Bahia? Veja a linha do tempo completa
Há quanto tempo PT governa Bahia? Para os mais velhos, esta pergunta pode ser óbvia, mas, quem tem menos de 18 anos não tem recordações do estado sem ser administrado pelo Partido dos Trabalhadores
Por Matheus Caldas.
Há quanto tempo o PT governa a Bahia? Para os mais velhos, esta pergunta pode ser óbvia. No entanto, quem tem menos de 18 anos não tem recordações do estado sem ser administrado pelo Partido dos Trabalhadores, cujas gestões foram capitaneadas por Jaques Wagner, Rui Costa e, agora, por Jerônimo Rodrigues.
São, portanto, 18 anos e meio de administração do PT na Bahia. Em quase duas décadas, contextos diferentes se apresentaram, e os governadores lidaram com gestões dos presidentes Lula (PT), Dilma Rousseff (PT), Michel Temer (MDB) e Jair Bolsonaro (PL).
Há quanto tempo o PT governa a Bahia? 2006: o início de tudo
A eleição de 2006 marcou uma virada histórica na política baiana. Ex-ministro do Trabalho do governo Lula, Jaques Wagner contrariou as pesquisas da época e derrotou, no primeiro turno, o então governador Paulo Souto (PFL), apoiado pelo ex-senador Antônio Carlos Magalhães, figura central da política baiana durante décadas.
A vitória de Wagner simbolizou o fim da era carlista e o início de um novo ciclo de poder na Bahia. Com 52,89% dos votos válidos, o petista conquistou a confiança do eleitorado com um discurso voltado para inclusão social, fortalecimento dos serviços públicos e parceria com o governo federal.
2007–2010: O primeiro mandato de Jaques Wagner
Para o cientista político João Vilas Boas, Wagner foi “o artífice da virada”. “Ele trouxe o discurso da inclusão, políticas públicas para populações historicamente marginalizadas e uma reconfiguração da máquina pública, sobretudo com foco na interiorização de serviços”, relembra.
Uma das marcas do primeiro mandato petista foi o Programa Todos pela Alfabetização (Topa), voltado à erradicação do analfabetismo entre jovens e adultos. Outro ponto de destaque foi o programa Água Para Todos, que universalizou o acesso à água potável.
Wagner também promoveu ajustes na estrutura administrativa do Estado e reforçou sua base de apoio com alianças estratégicas, a exemplo do MDB e o PP. A proximidade com o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva contribuiu para a chegada de obras e recursos federais à Bahia.
2010: Reeleição com ampla vantagem
Em 2010, Jaques Wagner foi reeleito com 63,83% dos votos válidos, e derrotou Paulo Souto novamente primeiro turno. A vitória consolidou a força do PT na Bahia e refletiu a popularidade de seu governo, além do fortalecimento do lulismo no Nordeste.
Durante o segundo mandato (2011–2014), Wagner teve como marca os projetos de infraestrutura, como a ampliação do metrô de Salvador — que, embora tenha avançado lentamente sob a gestão da prefeitura, começou a sair do papel quando se tornou responsabilidade do governo do estado.
A Copa do Mundo de 2014 aconteceu sob a gestão de Wagner, com destaque para a inauguração da Arena Fonte Nova em Salvador, fruto de uma Parceria Público-Privada (PPP).
Em 2018, ele chegou a ser indiciado pela Polícia Federal por suspeita de receber R$ 82 milhões em propina do consórcio responsável pelas obras do estádio. Em 2019, no entanto, a 2ª Seção do Tribunal Regional Federal da 1ª Região anulou toda a operação, conduzida pela PF e pelo Ministério Público Federal (MPF)
2014: Rui Costa assume bastão
Indicado por Wagner como seu sucessor, Rui Costa (PT) era, então, secretário da Casa Civil. Na ocasião, o adversário da oposição foi o mesmo: o ex-governador Paulo Souto (DEM). Com 54,53% dos votos válidos, Rui foi eleito governador da Bahia, manteve o ciclo petista no estado e marcou a terceira derrota consecutiva de Souto.
Para João Vilas Boas, Rui deu “musculatura técnica” ao governo. “Ele aprofundou investimentos em obras estruturantes, como hospitais, escolas em tempo integral e em policlínicas regionais”, diz.
O cientista aponta que o ex-governador tentou se descolar da imagem tradicional do político, ao assumir um perfil mais gerencial. “Isso ampliou a popularidade, inclusive em setores mais refratários ao petismo. Isso ajudou o PT a manter a posição de força, mesmo em momentos que a sigla enfrentava crise de identidade nacional”, pondera.
Rui assumiu com o desafio de equilibrar as contas públicas em meio à recessão econômica nacional e adotou um perfil mais técnico e voltado à gestão fiscal, mas também buscou manter os investimentos em educação, saúde e segurança pública.
Um de seus principais projetos foi o Pacto pela Educação, que previa melhorias na infraestrutura escolar, formação de professores e maior integração com os municípios.
2018: Reeleição e liderança entre governadores
Nas eleições de 2018, Rui Costa foi reeleito com 75,50% dos votos válidos, um dos maiores percentuais entre todos os governadores do país. Ele desbancou o atual prefeito de Feira de Santana, José Ronaldo (DEM), que obteve 22,30%.
Mesmo com o avanço do bolsonarismo no âmbito nacional, a Bahia se manteve como reduto petista. Durante o segundo mandato, Rui enfrentou crises sanitárias e sociais agravadas pela pandemia da Covid-19, mas saiu com aprovação elevada e conseguiu eleger o sucessor: Jerônimo Rodrigues.
Apesar disto, críticas surgiram quanto à violência urbana e à lentidão em algumas obras estruturantes, como o VLT do Subúrbio e a construção da Ponte Salvador-Itaparica.
2022: Jerônimo Rodrigues mantém hegemonia
Com a decisão de Rui Costa de apoiar Lula na campanha presidencial e de não concorrer o Senado, o PT surpreendeu. Após Wagner e Otto Alencar (PSD) abrirem mão da disputa pelo grupo petista, nomes como Moema Gramacho, Jorge Solla e Luiz Caetano se colocaram na disputa interna do partido.
No fim, o franco-atirador Jerônimo Rodrigues foi escolhido por Rui e surpreendeu a opinião pública.
Jerônimo enfrentou ACM Neto (União), ex-prefeito de Salvador e principal nome da oposição. Pela primeira vez em anos, o PT enfrentou segundo turno, fato que não acontecia desde a vitória de Wagner, em 2007. Apesar disto, Jerônimo venceu no segundo turno com 52,79% dos votos válidos manteve o PT à frente do Executivo estadual.
A campanha teve forte apoio do presidente Lula, então candidato à presidência. E isto foi fundamental para a vitória, segundo percepção do jornalista, mestre em Comunicação Política pela Universidade Federal da Bahia (Ufba), Rodrigo Daniel Silva.
“O eleitor comparou: se Rui Costa conseguiu entregar obras mesmo enfrentando presidentes adversários como Temer e Bolsonaro, Jerônimo, com Lula no Planalto, teria ainda mais capacidade de entrega. Essa confiança no alinhamento federal foi, na minha visão, o que definiu o voto”, opina.
Jerônimo prometeu prioridade à educação básica, combate à fome e ampliação de investimentos no interior do estado.
2023–2025: Os primeiros anos de Jerônimo
O início do governo Jerônimo foi marcado por desafios complexos, especialmente nas áreas de segurança pública e educação. O governador enfrentou, principalmente, críticas sobre a violência crescente em Salvador e na Região Metropolitana.
Em contrapartida, ele deu início a obras que estavam paradas, como o VLT de Salvador, além de projetos de infraestrutura hídrica, novos colégios de tempo integral e programas voltados à juventude e à agricultura familiar.
Para Rodrigo Daniel Silva, contudo, o atual governador pecou em não apresentar plano de austeridade logo no início do mandato. “Rui Costa fez isso em 2018, ao ser reeleito. Isso é relevante porque 2022, último ano da gestão Rui, foi marcado por um aumento expressivo nas despesas do estado, como mostram os relatórios do Tribunal de Contas”, relembra.
“O resultado foi um rombo de R$ 2,5 bilhões nas contas públicas em 2023 e um governo com capacidade limitada de investimento”, acrescenta.
Hegemonia pode ser mantida?
Em 2026, Jerônimo tentará a reeleição para o sexto mandato consecutivo do PT. Do outro lado, o adversário deve ser novamente ACM Neto.
Primeira pesquisa divulgada nesta quinta-feira (31) aponta o ex-prefeito de Salvador como favorito para vencer o pleito, com 53,5% das intenções, contra 28,1% do atual governador.
Um dos autores do livro “A eleição que não terminou: A disputa histórica pelo governo da Bahia em 2022”, Rodrigo Daniel Silva acredita que Jerônimo não possui um trunfo que Rui e Wagner tinham: apontar um adversário para justificar dificuldades.
Para ele, Wagner explorou as heranças deixadas pelo carlismo como justificativa para críticas. Rui, por sua vez, atribuía aos ex-presidentes Michel Temer (MDB) e Jair Bolsonaro (PL) problemas vivenciados no estado. “Jerônimo não tem esse espaço: não pode responsabilizar nem Rui Costa, que o lançou, nem Lula, que é seu maior aliado”, aponta o jornalista.
Apesar da diferença de contextos, Silva enxerga Jerônimo com perfil mais alinhado ao de Wagner. “Wagner se projetou como um político de articulação, um negociador. Rui construiu a imagem de “gerentão”, de gestor técnico. Jerônimo ainda tenta se firmar como construtor político, mas precisa lidar com um ambiente mais restrito para justificar suas dificuldades - e, por isso, sua margem de manobra é menor”, analisa.
Para João Vilas Boas, Jerônimo tem conseguido “mostrar serviço” e “fortaleceu o discurso de que a Bahia está no rumo certo”. Ele, no entanto, alerta que “nenhum projeto de longo prazo se sustenta apenas com narrativas”.
Vilas Boas aponta que o PT enfrenta um paradoxo: mesmo com avanços, como a cobertura de policlínicas, a expansão da malha educacional e investimento público menor, apenas, que São Paulo, a segurança pública é o calo.
“O enfrentamento da violência tem sido ponto frágil da gestão petista, o famoso calcanhar de Aquiles, marcado de uma estratégia de alta letalidade e pouca resolutividade. Isso afeta diretamente a percepção do eleitor, sobretudo nas grandes cidades”, contrapõe.
Ele também indica que, mesmo com a construção de um “cinturão sólido de apoio na Bahia” e de um cenário de “reduto petista”, o modelo vem apresentando sinais de fadiga.
“A oposição, liderada por ACM Neto, vem ganhando terreno. O desafio de Jerônimo é manter a máquina em pleno funcionamento, apresentar resultados objetivos e renovar a imagem do partido sem romper o construído até aqui”, conclui.
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