Lideranças indígenas criticam ações da Força Nacional no extremo sul
As lideranças indígenas criticaram ações da Força Nacional de segurança no extremo sul baiano e afirmou que discurso oficial é “invenção mal-intencionada”
Por Da Redação.
Lideranças indígenas e representantes locais do Território Indígena Barra Velha de Monte Pascoal, no extremo sul baiano, criticaram as ações da Força Nacional de Segurança na região, alegando que estão sendo alvo de prisões “arbitrárias” e cobraram a libertação do Cacique Suruí Pataxó, preso no dia 2 de julho.
Segundo nota do Conselho de Caciques, que o Aratu On teve acesso, a versão divulgada pela Força Nacional de que houve uma emboscada para justificar a prisão do Cacique é uma “invenção absurda e mal-intencionada”, e o que teria ocorrido “foi uma reação legítima e indignada diante da prisão de uma das lideranças mais ameaçadas do território”.
No último dia 2 de julho, quatro pessoas - dois adultos e dois adolescentes - foram detidas durante uma operação no Território Indígena, que resultou ainda na apreensão de duas pistolas, e 386 munições de diferentes calibres, incluindo 9mm, .380, .44, 5.56, 12, .22 e .32.
Lideranças indígenas questionam atuação
Em outro trecho do documento, as lideranças indígenas questionaram a atuação das forças de segurança, afirmando que “a Força Nacional foi chamada pelas próprias lideranças indígenas, para conter a ação de traficantes, milicianos e grileiros que têm aterrorizado nossas comunidades”, mas que os próprios nativos estão sendo alvo do Estado, exemplificando com a prisão de Suruí.
“A prisão do Cacique Suruí e sua transferência para uma penitenciária representa grave risco à sua vida, pois sabemos que ele é alvo de quem quer calar a voz da luta indígena”. O Conselho de Caciques ainda é mais incisivo ao afirmar que:
“Nossas denúncias estão sendo enterradas com nossos mortos. Quando não nos matam com balas, tentam nos silenciar com prisões, perseguições e tortura psicológica”.
Confira a nota completa:
"O Conselho de Caciques do Território Indígena Barra Velha de Monte Pascoal vem a público denunciar, com profunda dor e indignação, a prisão arbitrária do Cacique Suruí Pataxó, ocorrida no dia 2 de julho, bem como sua condução violenta.
A versão divulgada pela Força Nacional de que houve uma emboscada é uma invenção absurda e mal-intencionada. O que houve foi uma reação legítima e indignada diante da prisão de uma das lideranças mais ameaçadas do território.
Nenhum ataque foi feito contra os agentes. O que houve foi a expressão de uma dor coletiva acumulada por anos de abandono, criminalização e assassinatos impunes.
É preciso refletir:
Por que nossas lideranças estão sendo mortas, presas, humilhadas – enquanto os verdadeiros criminosos continuam soltos, armados e impunes?
Quantos grileiros foram presos? Quantos milicianos tombaram?
Por que os que defendem a floresta estão sendo tratados como criminosos, enquanto os que a destroem seguem protegidos?
Gustavo foi assassinado há 3 anos, Naui e Samuel há 2 anos, e Victor foi morto neste ano. Esses são apenas alguns nomes entre tantos outros que tombaram sem que houvesse sequer uma resposta do Estado.
Nossas denúncias estão sendo enterradas com nossos mortos. Quando não nos matam com balas, tentam nos silenciar com prisões, perseguições e tortura psicológica.
A Força Nacional foi chamada pelas próprias lideranças indígenas, para conter a ação de traficantes, milicianos e grileiros que têm aterrorizado nossas comunidades. No entanto, os primeiros a serem reprimidos foram justamente aqueles que deveriam ser protegidos. A prisão do Cacique Suruí e sua transferência para uma penitenciária representa grave risco à sua vida, pois sabemos que ele é alvo de quem quer calar a voz da luta indígena.
Durante a condução do Cacique, houve insultos, piadas e zombarias. Quando Suruí se identificou como cacique, foi ridicularizado pelos agentes. Isso não é apenas violência institucional — é tentativa de humilhar e desumanizar uma liderança que carrega o peso de proteger seu povo.
Estamos diante de um projeto sistemático de aniquilação das lideranças indígenas. Quem denuncia está morrendo. Quem resiste está sendo preso. O Estado não apenas se omite — ele virou instrumento direto de repressão.
Diante disso, exigimos:
Liberdade imediata e proteção integral ao Cacique Suruí!
Adoção de medidas urgentes de proteção às lideranças indígenas ameaçadas de morte!
Investigação rigorosa das torturas psicológicas e abusos cometidos pelos agentes durante a operação!
Justiça por Gustavo, Naui, Samuel, Victor – e todos os que tombaram defendendo nosso território!
Demarcação já do nosso território tradicional! Fim da criminalização das lideranças indígenas!
Seguiremos de pé, mesmo que queiram nos enterrar. Com nossos maracás, com nossas memórias, com as sementes dos que tombaram florescendo em nossa resistência. Nossa luta é por justiça, por território e por vida."
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