Desafios da infraestrutura na Bahia: gargalos, burocracia e desigualdade
Os desafios da infraestrutura na Bahia abrange dimensões e uma relevância que coloca em crédito o avanço urbano do estado; entenda melhor sobre os gargalos, burocracia e desigualdade regional
Por Laraelen Oliveira.
A Bahia tem dimensões continentais e de relevância estratégica no Nordeste, enfrentando um cenário de grandes desafios quanto ao tema infraestrutura. Apesar dos avanços em mobilidade urbana, energia e integração logística, além das iniciativas socioambientais, ainda persistem gargalos que comprometem a competitividade econômica, a equidade territorial e a qualidade de vida da população.
Áreas com maior déficit de infraestrutura
Segundo a análise do especialista em arquitetura e urbanismo, professor aposentado da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Paulo Ormindo, os maiores entraves estão no transporte ferroviário e portuário. De acordo com o urbanista, a Ferrovia Centro-Atlântica não recebeu investimentos adequados, deixando cidades como Cachoeira e São Félix com operações ferroviárias ultrapassadas, que cruzam áreas urbanas de forma lenta e perigosa.
O outro gargalo está nos postos. O Porto de Salvador, por exemplo, carece de articulação ferroviária, o que limita sua eficiência logística. Já os portos como o de Aratu e o Temadre, especializados em combustíveis, têm restrições de calado que impedem a atracação de grandes navios. Esse bloqueio logístico força a produção agrícola baiana a escoar por outros estados: 50% da soja vai pelo Maranhão ou pelo Sudeste, enquanto 73% das frutas do Vale do São Francisco seguem pelo Ceará e pelo Rio Grande do Norte.
Além disso, projetos como a Fiol (Ferrovia de Integração Oeste-Leste), essenciais para o escoamento da safra do oeste baiano, seguem lentos e marcados por entraves financeiros, colocando a Bahia em desvantagem frente a estados vizinhos.
Burocracia, licenciamento e entraves logísticos
Outro obstáculo relevante é a burocracia. Órgãos que antes atuavam como planejadores, como a Conder e o antigo Derba, foram transformados em estruturas voltadas à licitação do que ao planejamento estratégico. Isso resultou em obras fragmentadas, muitas vezes redundantes, como a sobreposição do BRT e do metrô em Salvador.
Ormindo destaca que a falta de continuidade administrativa agrava o problema: cada governo troca equipes e reformula prioridades, interrompendo projetos de longo prazo. Esse modelo gera iniciativas “irreais”, como a Ponte Salvador-Itaparica, que acumula décadas de promessas sem sair do papel. O projeto, considerado grandioso, carece de estudos ambientais e socioeconômicos consistentes e pode até aumentar a concentração de investimentos em Salvador, em vez de distribuí-los.
Diferença entre regiões metropolitanas e interior
A desigualdade territorial é outro ponto sensível. A Região Metropolitana de Salvador (RMS) responde por 45% do PIB baiano, sendo que 60% dessa riqueza está concentrada na capital. Essa centralização cria um “efeito buraco negro”, como descreve Ormindo, em que investimentos, indústrias e serviços se concentram em Salvador e drenam oportunidades do interior.
Enquanto cidades como Feira de Santana, Juazeiro e Barreiras demonstram potencial de expansão, sofrem com falta de conectividade ferroviária, portuária e até de água, já que a Bahia tem apenas 13 grandes açudes, contra 243 no Ceará. O Canal do Sertão Baiano, projeto que poderia beneficiar 44 municípios com abastecimento hídrico, segue apenas no papel.
Essa desigualdade se reflete também na monocultura do turismo e do carnaval em Salvador, que, embora relevantes para a economia, ofuscam investimentos em setores industriais e agrícolas do interior.
A importância do planejamento territorial
A carência de planejamento estruturado é uma das causas mais apontadas para os atrasos. Planos diretores urbanos, como os PDDUs de Salvador, muitas vezes refletem mais interesses imobiliários do que diretrizes técnicas de longo prazo.
Projetos de mobilidade como o metrô avançaram, mas ainda são insuficientes: bairros periféricos de Salvador continuam isolados, enquanto o BRT é subutilizado e criticado por sua redundância. Tentativas de implementar novos modais, como o VLT, esbarram na inadequação técnica e no risco de se tornarem obsoletos em pouco tempo.
De acordo com Ormindo, o estado carece de uma política de planejamento territorial estruturada e permanente: “Planos como o PDI Bahia 2050 e o PDUI poderiam oferecer uma visão de futuro, mas faltam equipes técnicas e continuidade para garantir sua execução”.
Iniciativas para superação dos gargalos
Apesar das críticas, algumas iniciativas apontam para caminhos de melhoria. A expansão do metrô até Campo Grande, por exemplo, é considerada uma obra de impacto positivo e relativamente barata, capaz de integrar bairros centrais de Salvador.
Na área industrial, há expectativa de retomada com a chegada de novas montadoras, como a chinesa BYD, após a saída da Ford. No setor portuário, discute-se a revitalização do Porto de Ilhéus e a ativação do Terminal Sul da Fiol, ainda em compasso de espera.
Além disso, projetos de irrigação e energia renovável no semiárido, como parques eólicos e solares, têm potencial de reduzir desigualdades regionais, se forem integrados a políticas de infraestrutura e logística.
Infraestrutura da Bahia: veja o que já foi feito e o que falta fazer
A Bahia já conquistou avanços, como a instalação do polo petroquímico de Camaçari, a modernização de trechos rodoviários e a consolidação do metrô de Salvador como referência no Nordeste. Contudo, permanece o desafio de diversificar investimentos e levar desenvolvimento ao interior.
Faltam ações estruturantes para superar gargalos históricos: ampliar o número de reservatórios de água, modernizar ferrovias, expandir portos de calado profundo e integrar planos de mobilidade urbana com a realidade da população.
Em síntese, os desafios da infraestrutura na Bahia passam por gargalos logísticos, excesso de burocracia e forte desigualdade regional. A superação desses obstáculos depende de um planejamento territorial consistente, investimentos de longo prazo e maior equilíbrio entre Salvador e o interior. Sem isso, o estado corre o risco de manter-se prisioneiro de uma infraestrutura fragmentada e desigual.
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