Restrição do celular em escolas gera debate entre educadores, pais e alunos
Desde que o presidente Lula (PT) sancionou a lei que proíbe celulares nas escolas, a volta às aulas em 2025 tem gerado debates entre alunos e professores
Sem mais fotos de quadro, consultas durante as aulas e até distrações no intervalo, o ano letivo começou, e com ele a restrição dos celulares em sala de aula. Desde que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sancionou o projeto de lei que proíbe o uso de celulares nas escolas, a volta às aulas em 2025 tem sido diferente e gerado discussões entre alunos e professores.
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Governo restringe uso de celular nas escolas. Foto: Freepik (Imagem Ilustrativa)
Para o professor de tecnologia da rede pública do Instituto Central de Educação Isaías Alves (ICEIA), João Ricardo - conhecido pelos corredores como Preto Ric -, a medida é importante, mas foi implementada de maneira "violenta".
O Projeto de Lei, aprovado pelo Congresso Nacional em dezembro do ano passado, proíbe o uso de aparelhos eletrônicos em escolas públicas e privadas. Cabe a cada rede de ensino e instituição definir as próprias estratégias. Por isso, Preto Ric define a restrição como “importante, mas implementada de forma equivocada”, já que seria necessário um plano pedagógico mais detalhado.
O professor argumenta que, para compreender a relevância da medida, é necessário analisar o contexto em que os jovens vivem hoje e, principalmente, o papel que o celular desempenha na vida deles. Ele destaca que os dispositivos se tornaram ferramentas essenciais para o aprendizado e a memória, funcionando como uma extensão do cérebro.
“Os celulares se tornaram uma extensão do nosso corpo, para memorizar e aprender, e isso é ótimo. O problema é que esquecemos de usar o que nós já temos”, afirma.
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Atividades de aprendizado no Iceia. Foto: Gov Ba
A restrição tem preocupado especialistas e a população em geral devido aos possíveis impactos negativos no aprendizado, na concentração e na saúde mental dos jovens. Preto Ric ressalta que o celular não só facilita o acesso à informação, mas também proporciona sensação de pertencimento e segurança aos estudantes, que dependem cada vez mais do aparelho. Como a proibição foi implementada rapidamente, gerou um choque entre alunos e, principalmente, professores que estão na linha de frente do ensino.
“O ano letivo começou agora, é algo novo, e os alunos continuam tentando lidar com as mudanças”, relata o professor. Ele tenta abordar o assunto com calma, mas reconhece que, com a proibição, “houve uma quebra pedagógica” para garantir o cumprimento da lei.
Antes da decisão, o uso de celulares em sala de aula era determinado exclusivamente pelos professores, em acordo com os alunos. Preto Ric defende que os jovens precisam retomar experiências sensoriais e de memorização, mas critica a demora do Brasil em tratar do assunto e a falta de cuidado na implementação das medidas, que foram delegadas às instituições.
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Roda de dicussões sobre pautas raciais. Foto: Redes sociais | @pretoric
Outros países já adotaram restrições semelhantes antes do Brasil. A França, por exemplo, proibiu o uso de smartphones em escolas para alunos com menos de 15 anos em 2018. Na Espanha, Grécia e Dinamarca, o uso também é proibido, enquanto em países como Estados Unidos, Portugal, Escócia e Canadá, a medida varia entre regiões, sendo total ou parcial.
O que os alunos acham da mudança?
O Aratu On conversou com dois estudantes, um da rede privada e outro da pública, para entender como a mudança tem impactado suas rotinas em 2025.
João Miguel, de 11 anos, que acabou de ingressar no 7º ano do ensino fundamental em uma escola privada no bairro de Brotas, nunca teve o hábito de usar muito o celular em aula, devido a restrições já impostas pelos professores.
Para ele, a nova regra pode ser uma oportunidade para se divertir mais com os amigos. “Para poder me divertir com os amigos, não depender só da conversa ou da quadra estar livre para brincar”, conta.
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Foto: Crianças jogando futebol. Divulgação | Grupo Ped
Já no ensino médio, a restrição chegou de forma diferente. Sophia Ferreira, de 17 anos, que está no 3º ano do ICEIA, compreende a necessidade da lei, principalmente para preservar a saúde mental, manter o foco e evitar a queda no rendimento escolar.
No entanto, ela critica a proibição durante o intervalo. “É um momento de lazer para os alunos e, às vezes, até mesmo para falar com os pais sobre alguma emergência”, explica. Sophia usa o celular nesses momentos para se comunicar com pessoas importantes e acessar redes sociais, definindo-o como um período de descanso.
Gestão
Para entender melhor como a restrição tem sido recebida, o Aratu On conversou com coordenadores do Grupo PED, que gerencia escolas da rede privada Pedacinho de Céu. Eles explicaram como a instituição tem lidado com a proibição, equilibrando as necessidades dos alunos e das famílias, especialmente em casos de emergência.
Segundo Odilon Castro, um dos coordenadores da unidade PED em Cajazeiras, a reação da comunidade escolar não é unânime. “Alguns pais e alunos são favoráveis à proibição, pois acreditam que ela contribui para um ambiente escolar mais seguro e produtivo. Outros são contra, por limitar a liberdade de expressão e o acesso à informação”, relata.
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Escolas apostam em ambientes mais produtivos. Foto: Grupo Ped | Divulgação
Jéssica Henrique, também coordenadora pedagógica da unidade de Cajazeiras, reforça que o uso excessivo de celulares pode fragmentar a atenção dos alunos, prejudicando a concentração e o desenvolvimento de habilidades como paciência e resolução de problemas. “O cérebro das crianças e adolescentes ainda está em formação, e a presença constante de estímulos digitais dificulta a construção dessas habilidades”, explica.
Apesar da proibição, os estudantes não estão completamente desconectados. Dispositivos como chromebooks estão disponíveis em todas as salas para atividades pedagógicas, sob supervisão dos professores. “A tecnologia é uma aliada, mas deve ser usada de forma orientada”, ressalta Jéssica.
Para facilitar a comunicação com as famílias, a escola utiliza um aplicativo próprio, o Pedconecta, que permite contato direto entre pais e instituição. “Em caso de emergência, também temos canais específicos para atendimento, garantindo segurança e conforto às famílias”, complementa Odilon.
Exceção
Uma exceção à regra é feita para alunos que precisam usar dispositivos wearables por questões de saúde, como monitoramento de glicemia ou frequência cardíaca. Nesses casos, a escola adota uma metodologia flexível, exigindo justificativa médica e registrando o uso internamente.
“O dispositivo será utilizado exclusivamente para funções relacionadas à saúde, com os professores devidamente informados”, detalha Jéssica.
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Alunos que precisam usar dispositivos wearables, têm exceção nas restrições.Foto: Divulgação
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