Como está desemprego na Bahia? Veja dados recentes sobre mercado de trabalho
Taxa de desemprego na Bahia caiu, mas estado ainda enfrenta desafios estruturais, alta informalidade e baixa atratividade para investimentos
Por Matheus Caldas.
O desemprego na Bahia apresenta sinais de melhora, com queda para 9,1% no segundo trimestre de 2025, mas o cenário ainda é marcado por alta informalidade, salários baixos e desafios estruturais que dificultam a atração de investimentos e a consolidação de empregos de qualidade.
Como está desemprego na Bahia?
A Bahia registrou, no segundo trimestre de 2025, a menor taxa de desocupação para o período desde o início da série histórica da Pnad Contínua, em 2012. Os dados divulgados pelo IBGE em 15 de agosto apontam que o índice caiu de 11,1% no primeiro trimestre para 9,1% no segundo trimestre. Apesar disto, a Bahia é o segundo estado com o pior índice do país.
A variação representou a saída de 128 mil pessoas da situação de desocupação, passando de 776 mil no início do ano para 648 mil entre abril e junho. Paralelamente, o número de ocupados (empregados) aumentou 3,4% frente ao trimestre anterior, o que significa 214 mil pessoas a mais no mercado de trabalho.
Na comparação com o mesmo período de 2024, o crescimento foi ainda mais expressivo: 406 mil ocupados a mais, representando alta de 6,7% no total de pessoas em atividade no estado.
Apesar dos avanços, especialistas ponderam que a Bahia segue em posição delicada no cenário nacional. Doutor em Ciências Econômicas, Antonio Carvalho avalia que os números positivos não eliminam a gravidade do problema. “A evolução nas taxas de desocupação, tanto da Bahia quanto de Salvador, embora seja positiva, quando analisamos a posição do estado e do município no cenário nacional, o que podemos concluir é que essa evolução nos deixa em situação ‘menos pior’, pois a posição ainda é incômoda, preocupante, entristecedora”, afirmou.
Salvador seguiu o mesmo ritmo da Bahia e atingiu a menor taxa de desemprego da história da cidade. Apesar disto, tem o terceiro pior salário médio entre as capitais brasileiras.
Taxa de desocupação por região
A Pnad não fornece dados detalhados por território de identidade ou regiões da Bahia. O levantamento é feito de forma agregada para o estado, sem divisão por municípios ou regiões específicas.
Ainda assim, os números gerais mostram tendência de redução da desocupação, acompanhando o movimento nacional de recuperação do mercado de trabalho após a crise sanitária e os impactos da desaceleração econômica global.
Para Carvalho, o desafio da Bahia é superar limitações históricas que dificultam a atração de investimentos. Entre os principais gargalos, ele cita a precariedade de infraestrutura. “Portos e aeroportos limitados, sistemas viários deficientes, quase inexistência de ferrovias e rodovias mal conservadas, além da segurança pública ineficiente, são fatores que afastam empreendimentos”, destacou.
Quais setores mais empregam no estado?
De acordo com os dados da Pnad Contínua e da Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte da Bahia (Setre-BA), o aumento do número de ocupados está ligado, principalmente, a setores tradicionais, como comércio, serviços e agricultura.
O estado também vem apostando em investimentos industriais e tecnológicos. Nos últimos anos, a Setre tem buscado parcerias com novos empreendimentos para diversificar a matriz produtiva e gerar empregos de maior qualidade.
No entanto, Carvalho pondera que as empresas que permanecem no estado ainda têm baixa capacidade de gerar desenvolvimento. “Tudo isso contribui para a não escolha do estado e do município, com a saída de empresas e a manutenção de atividades e empresas que contribuem menos para o desenvolvimento e ainda remuneram pouco, contribuindo para a sub-remuneração dos trabalhadores e a estagnação dos salários”, afirmou.
Juventude e informalidade
O cenário do emprego na Bahia é fortemente marcado pela informalidade. A taxa no segundo trimestre de 2025 foi de 52,3%, representando 3,375 milhões de pessoas ocupadas de forma informal. Em comparação ao mesmo período de 2024, houve crescimento de 11,5%.
Esse dado mostra que, embora a ocupação tenha aumentado, boa parte das novas vagas não garante direitos trabalhistas ou estabilidade para os trabalhadores. O problema afeta de maneira mais intensa os jovens, mulheres e pessoas em situação de vulnerabilidade social.
Segundo a Setre, os altos índices estão ligados a fatores estruturais, como a predominância de setores de baixa produtividade, os níveis de escolaridade, a concentração da população em áreas rurais e as características históricas do mercado de trabalho nordestino.
Carvalho alerta que o desemprego e a informalidade geram um ciclo negativo. “Desemprego ou desocupação representa, na prática, pessoas sem renda, e pessoas sem renda alimentam um ciclo negativo para a economia. O primeiro impacto é na qualidade de vida dos indivíduos, que ficam excluídos do consumo de itens muitas vezes básicos. O segundo impacto é na economia como um todo, pois a redução do consumo diminui a produção e a comercialização de bens e serviços, o que significa menor atividade econômica e menos empregos”, explicou.
Ações do governo para geração de emprego
Para enfrentar esses desafios, o governo da Bahia tem adotado programas voltados à formalização e ao estímulo à inclusão produtiva. Entre as iniciativas estão:
- Capacitação profissional voltada a jovens, mulheres e segmentos vulneráveis;
- Apoio a micro e pequenos empreendedores por meio do programa de microcrédito Credibahia;
- Incentivo à regularização de trabalhadores via Microempreendedor Individual (MEI);
- Investimentos em infraestrutura e atração de empreendimentos industriais e tecnológicos.
A Setre destaca que, apesar do crescimento da informalidade, os programas de qualificação e acesso ao crédito têm ajudado parte da população a se inserir de forma mais estável no mercado de trabalho.
Economia da Bahia: como o cenário geral impacta o trabalho
A análise de Carvalho reforça que os índices de desocupação estão ligados a limitações históricas da economia baiana. Ele destaca a falta de políticas de incentivos estruturais e fiscais como um dos principais entraves. “A quase inexistência de políticas de incentivos, como a oferta de áreas para instalação de empresas, cooperação com negócios a partir do investimento em estruturas viárias e isenção ou redução de carga tributária, dificulta a atração de investimentos”, afirmou.
Além disto, a precariedade da infraestrutura e os elevados índices de violência em Salvador e em várias cidades baianas desestimulam a instalação de empresas de maior porte. Essa situação acaba por concentrar o mercado em setores de menor produtividade, que oferecem salários baixos e poucas perspectivas de crescimento.
O especialista conclui que o desemprego e a informalidade não são apenas reflexos conjunturais, mas também sintomas de problemas estruturais. “Ao verificarmos este ciclo, concluímos que o desemprego ou desocupação é um indicador claro de desaceleração da economia, de retração do desenvolvimento e impulsionador da pobreza e da desigualdade”, disse.
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