Agronegócio irrigado: inovação garante safra no semiárido baiano

Vale do São Francisco e Oeste do estado tornam-se polos de produção a partir do agronegócio irrigado

Por João Tramm.

O agronegócio irrigado na Bahia tem se consolidado como um dos pilares mais importantes do desenvolvimento regional e nacional. Em áreas tradicionalmente marcadas pelo clima semiárido, como o Vale do São Francisco, que abrange cidades como Juazeiro (BA) e Petrolina (PE), e o Oeste baiano, a tecnologia da irrigação transformou a paisagem e possibilitou a produção em larga escala de frutas como uva, manga e melancia, além da diversificação para outras culturas.

Segundo o gerente de Sustentabilidade da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (AIBA), Eneas Porto, a região Oeste já é reconhecida como a principal área irrigada do país, com cerca de 350 mil hectares em operação.

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Prefeitura de Campo Grande/Divulgação

Esse avanço se deve a dois fatores centrais: a disponibilidade hídrica, garantida por rios e aquíferos, e o aumento no acesso à energia elétrica, fundamental para viabilizar os sistemas de irrigação.

“A irrigação é muito mais do que molhar a terra. Irrigar significa aplicar a quantidade exata de água, de forma eficiente e controlada. Isso potencializa a produtividade em até 30% em relação às áreas que dependem apenas da chuva”, explica Porto.

Além da fruticultura, o uso da irrigação tem possibilitado o cultivo de grãos, fibras, cacau e até culturas pouco tradicionais, como tâmaras, que começam a ser estudadas como nova aposta agrícola. 

“A irrigação é um fator de desenvolvimento econômico, social e ambiental. É a partir dela que conseguimos produzir mais alimentos, a preços mais acessíveis, e transformar o semiárido em uma região próspera e estratégica para o Brasil e para o mundo.”

Um dos principais centro de produção a partir da irrigação é o Vale do São Francisco, que se tornou referência internacional na fruticultura irrigada, especialmente na produção de uvas e vinhos, mesmo sendo um local extremamente seco. Os produtos irrigados se destacam inclusive no cenário de exportação.

Panorama

Para o professor titular da UFRB e engenheiro agrônomo Francisco Adriano de Carvalho Pereira, a irrigação cumpre um papel essencial de estabilização da produção agrícola.

“Ela visa atender à necessidade hídrica em regiões onde a precipitação é insuficiente ou irregular. Temos áreas que chegam a registrar 2 mil milímetros de chuva ao ano, mas em períodos muito curtos, o que inviabiliza o equilíbrio da produção sem irrigação”, explica.

Ele aponta que, em termos gerais, o Médio São Francisco concentra a irrigação de fruteiras como uva, manga e melão, em Juazeiro e Petrolina. Já no Submédio São Francisco, o mercado de vinhos é consolidado e em expansão.

No Oeste da Bahia, a irrigação está voltada principalmente para grãos como soja, milho, algodão e feijão, com mais de 220 mil hectares irrigados.

Outras regiões do estado também se destacam:

  • Baixio de Irecê: polo em expansão a partir do Rio São Francisco, em projeto concebido pela Codevasf e posteriormente leiloado para a iniciativa privada, que administra a infraestrutura.

  • Chapada Diamantina: com produção diversificada de frutas, grãos e hortaliças.

  • Extremo Sul: polo de fruteiras como mamão e frutas cítricas.

De acordo com Francisco Adriano, a Bahia já possui entre 550 mil e 600 mil hectares irrigados, mas o estado tem potencial para ultrapassar 1,6 milhão de hectares. Além das áreas tradicionais, a irrigação cresce também em cinturões verdes no entorno de grandes centros urbanos, voltados ao hortifrúti granjeiro, e em sistemas de pastagens e silagem.

Um movimento inovador é o avanço da produção de cacau irrigado no semiárido, aproveitando a menor incidência de doenças como a vassoura-de-bruxa.

“O cacau é hoje a coqueluche do momento. Já estamos entre os maiores produtores do mundo, e a irrigação abre novas fronteiras de cultivo em áreas antes impensáveis como o semiárido, que não apresenta o riscos de pragas como a produção já foi afetada em outros momentos”, observa o professor.

Desafios

O agronegócio apresenta inúmeros desafios, mas a irrigação alguns problemas adicionais. Segundo Porto, todo o processo é regulamentado: “Ninguém pode simplesmente captar água sem autorização. É preciso licenciamento e outorga do INEMA, além de acompanhamento da Agência Nacional de Águas (ANA) e da FEMA. A tentativa é de garantir segurança hídrica, tanto para a agricultura quanto para os consumidores urbanos”.

Apesar da cautela necessária, o especialista destaca que o excesso de burocracia no licenciamento hídrico é também um desafio. Outro gargalo é o parque elétrico, já que a irrigação demanda grande volume de energia. A expansão das fontes renováveis, sobretudo a solar e a eólica, tem ajudado a reverter esse cenário.

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Pixabay

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