Oruam fala sobre Marcinho VP: 'Ótimo pai, um exemplo para mim'

O rapper Oruam quebrou o silêncio e, pela primeira vez, falou abertamente sobre a relação com o pai, Marcinho VP, um dos nomes mais conhecidos do crime organizado no Brasil, apontado como um dos líderes da facção Comando Vermelho (CV). Em entrevista ao programa Domingo Espetacular, ele resgatou um lado pouco conhecido da história da família e surpreendeu ao definir o pai como "um exemplo".

“Eles dizem que ele é o líder, mas, na verdade, ele nem é. O meu pai foi preso quando tinha 19, 20 anos. Não tem como ele, com essa idade, ser esse monstro que a sociedade quer”, declarou o cantor.

O rapper também destacou que, apesar da fama e das associações do pai com o crime, Marcinho VP sempre procurou afastá-lo desse universo. “Ele foi um ótimo pai, um exemplo para mim. Ele tentou esconder a gente o tempo todo da favela, tentou tirar a gente do morro para que a gente não visse aquilo e não quisesse aquilo para a gente”, revelou.

Na entrevista, Oruam fez questão de reforçar que a trajetória dele na música foi construída de forma independente, sem qualquer vínculo com o passado do pai. "Tudo que conquistei foi com a minha música, porque eu não tinha nada antes. Se hoje consegui conquistar o Brasil, foi porque meu pai me ensinou o caminho certo: ‘Filho, você tem que trabalhar, tem que estudar e ser honesto’. Só fui com a foto do meu pai porque ele é meu pai!”, afirmou o rapper.

“O Brasil é isso! É o funk, o rap, o pagode, o samba, é o povão. Eu canto a realidade das favelas: a pobreza, a desigualdade. Falta oportunidade! Enquanto o último daqui não vencer, eu também não venci”, finalizou.

Quem é Oruam?

O nome de Oruam, registrado como Mauro Davi dos Santos Nepomuceno, de 23 anos, ganhou destaque nos noticiários nos últimos meses, mas, para quem não ouve rap e trap, o cantor pode ser um desconhecido.

O artista, cantor de "Oh Garota Eu Quero Você Só Pra Mim", foi detido durante uma operação da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) no Rio de Janeiro. No dia 26 de fevereiro, policiais encontraram um homem foragido da Justiça, identificado como Yuri Pereira Gonçalves, suspeito de tráfico de drogas, na casa do rapper, e Oruam foi incriminado e preso por escondê-lo da polícia.

Pouco depois, o cantor foi solto após assinar um termo circunstanciado. No local, Oruam disse que Yuri não é traficante e, sim, um amigo.

Atualmente, Oruam é um dos principais nomes do rap e trap no Brasil. Filho de Marcinho VP, um dos principais chefes do Comando Vermelho, preso desde 1996, e de Márcia Gama, Oruam tem quatro irmãos.

Marcinho VP foi condenado por tráfico de drogas e assassinatos e, mesmo preso, segundo autoridades policiais e judiciais, continuou a liderar o Comando Vermelho e a ordenar homicídios e outros crimes.

Oruam já conquistou milhares de ouvintes em plataformas como Spotify e YouTube, com músicas que misturam funk, R&B e rap. As letras do rapper falam de ostentação, sexo e o fato de ser filho de um traficante, o que gerou a proposta da "Lei Anti-Oruam" na cidade de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul.

O projeto de lei, apresentado na Câmara Municipal de Campo Grande, propõe a proibição do uso de recursos públicos para contratar artistas que façam apologia ao crime organizado e ao uso de drogas em shows. A proposta, apresentada pelo vereador André Salineiro (PL), aguarda deliberação nas instâncias legislativas da cidade.

Polêmicas

A trajetória de Oruam também é marcada por diversas polêmicas. Em 2024, durante um show no festival Lollapalooza, o rapper usou uma camiseta com um pedido de liberdade para o pai, Marcinho VP, o que gerou críticas nas redes sociais.

Outra controvérsia envolvendo Oruam foram as tatuagens que ele fez no corpo, incluindo imagens do próprio pai e de Elias Maluco, traficante condenado pela morte do jornalista Tim Lopes. O cantor mostrou as tatuagens em um vídeo no Instagram, gerando mais repercussão.