'Crime organizado continua': Fogo Cruzado repreende Operação letal contra CV

Segundo Polícia Civil do Rio de Janeiro 199 pessoas morreram com ação, mas 'crime organizado continua': Fogo Cruzado repreende Operação letal contra CV

Por João Tramm.

'Crime organizado continua': Fogo Cruzado repreende Operação letal contra CV. A ação policial realizada nos complexos da Penha e do Alemão, no Rio de Janeiro, segue gerando fortes reações após registrar o maior número de mortes da história em uma ação de segurança pública no estado.

Até a manhã desta quarta-feira (29), o governo fluminense confirmou oficialmente 119 mortes — sendo 54 suspeitos e quatro policiais. O governador Cláudio Castro (PL) classificou a ação como um “sucesso” e afirmou ter “tranquilidade” para defendê-la.

Ao menos 50 corpos foram encontrados em área de mata no Complexo da Penha, no Rio de Janeiro | Imagem: reprodução/vídeo (@raullsantiago)

'Crime organizado continua': Fogo Cruzado repreende Operação letal contra CV no RJ

Em entrevista ao Aratu On, o coordenador regional do Instituto Fogo Cruzado no Rio de Janeiro, Carlos Nhanga, criticou duramente a narrativa oficial e o modelo de segurança pública adotado pelo governo estadual. Para ele, o resultado da operação não pode ser considerado positivo diante do número de mortos e do impacto sobre a população.

“Em nenhum lugar do mundo, uma operação que termina com o que a gente viu ontem pode ser considerada um sucesso. A cidade parou. Centenas de milhares de cariocas ficaram na linha do tiro. Crianças deixaram de ir à escola, pais e mães deixaram de trabalhar, transporte deixou de circular. Regiões inteiras foram afetadas”, afirmou Nhanga.

A ação tinha como objetivo conter o avanço do Comando Vermelho (CV), principal facção do tráfico no estado, mas reacendeu o debate sobre a letalidade policial e a eficácia das operações em favelas. Segundo Nhanga, medidas desse tipo não trazem resultados concretos no combate ao crime organizado, apenas agravam o ciclo de violência.

“Parece que essas vidas não importam, porque dia após dia isso acontece e nada é feito para sanar esse tipo de problema. O crime organizado continua aí. Em 2021 houve a chacina do Jacarezinho, e se você perguntar aos moradores se hoje eles estão mais seguros, a resposta é a mesma: não. Então é preciso pensar uma segurança pública que proteja vidas e não coloque as pessoas na linha do tiro”, destacou.

A Operação Exceptis, realizada em 2021 no Jacarezinho, era até então a mais letal do Rio de Janeiro, com 28 mortos, incluindo um policial. Assim como naquele episódio, a ação desta semana gerou questionamentos sobre a falta de planejamento e o desrespeito aos protocolos de proteção à população civil.

“É impossível medir o indicador de impacto dessa operação sem considerar as vidas que estão ali. É impossível planejar segurança pública sem levar em conta o impacto sobre as pessoas que vivem ou circulam nas áreas de confronto. Há meses, uma operação no Complexo de Israel parou a Avenida Brasil e feriu trabalhadores dentro de ônibus. Isso mostra que os impactos são imensos e parecem não ser considerados”, reforçou o coordenador do Fogo Cruzado.

Enquanto o governador Cláudio Castro sustenta que as mortes foram resultado de confronto em áreas de mata e classificou os policiais como “as verdadeiras vítimas”, organizações de direitos humanos e entidades civis alertam para a banalização da violência e cobram transparência nas investigações. Para Nhanga, o discurso oficial mascara o fracasso das políticas de segurança:

“Você consegue falar para a família de um policial morto que a operação foi um sucesso? É possível dizer isso para as milhares de famílias dos complexos da Penha e do Alemão que ficaram acuadas durante horas, deitadas no chão, tentando sobreviver? Isso não é sucesso. É tragédia anunciada.”

Balanço da Operação

Segundo coletiva realizada nesta manhã de quarta-feira (29), o Secretário de Polícia Civil, Felipe Curi, compilou os seguintes dados da Operação:

  • Foram 119 mortos, sendo quatro policiais;
  • 113 presos, com 33 sendo de outros estados
  • Apreensão de 91 fuzis, 26 pistolas e um revólver;
  • Apreensão de toneladas de drogas, ainda não contabilizadas.

Ainda nesta manhã, ao menos 50 corpos foram encontrados e levados por moradores para a Praça São Lucas, no complexo da Penha, no Rio de Janeiro. Com isso, os dados da Operação podem ser ainda maiores. 

A ação faz parte de mais uma etapa da Operação Contenção, iniciativa permanente do governo estadual para combater o avanço do CV em territórios fluminenses. Cerca de 2.500 agentes das forças de segurança do Rio cumpriram 100 mandados de prisão.

Pelo menos seis suspeitos baianos entre presos e mortos, foram alvos de uma operação policial realizada nesta terça-feira (28) no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro. Um dos identificados é Júlio Souza Silva, natural de Salvador, apontado pelas forças de segurança como integrante da facção. No local onde ele foi encontrado, os policiais apreenderam um fuzil calibre 5.56 com a bandeira da Bahia estampada, além de nove motocicletas.

Após a megaoperação policial feita no Rio de Janeiro, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, marcou uma reunião de emergência com o governador do Rio, Cláudio Castro (PL). O diálogo se apresenta como uma alternativa às farpas trocadas entre o governador do Rio de Janeiro e o governo federal que acusa a gestão nacional em ignorar os pedidos de apoio da segurança do Rio de Janeiro.

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