SUS recebe tecnologia 100% brasileira contra câncer do colo de útero
Tecnologia que detecta principal causa de câncer do colo do útero aproveita infraestrutura para testes de biologia molecular criada na pandemia de Covid-19
Por Júlia Naomi.
“A partir de hoje, estamos implementando essa nova forma de diagnóstico e prevenção do câncer do colo do útero em 12 estados brasileiros". Com essa frase, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, anunciou o lançamento do teste de biologia molecular DNA-HPV no Sistema Único de Saúde (SUS), durante um evento no Hospital da Mulher de Recife, em Pernambuco, nesta sexta-feira (15).
O teste molecular de DNA-HPV, que faz parte do Plano Nacional para Enfrentamento do Câncer do Colo do Útero, foi totalmente desenvolvido no Brasil, pelo Instituto de Biologia Molecular do Paraná (IBMP), em parceria com a Fiocruz. A tecnologia detecta, inclusive em mulheres assintomáticas, 14 genótipos do papilomavírus humano (HPV), que é a principal causa do câncer.
A tecnologia substituirá o exame citopatológico Papanicolau, que passará a ser realizado apenas para confirmação de casos em que o teste DNA-HPV der positivo. “Com o Papanicolau, o exame precisa ser repetido a cada três anos. Com essa nova tecnologia, o intervalo passa a ser de cinco anos [quando o resultado é negativo]. Além disso, elimina a necessidade de nova coleta quando o resultado é inconclusivo. A mesma amostra já serve para todos os exames necessários, acelerando o encaminhamento ao tratamento”, anuncia Padilha. Dessa forma, haverá aumento de eficiência e redução de custos.
De acordo com o chefe da pasta, a inovação aproveita a infraestrutura para testes de biologia molecular durante a pandemia de Covid-19. "Essa estrutura agora será utilizada para o diagnóstico do HPV, permitindo reduzir o tempo de espera e iniciar o tratamento o mais rápido possível”, explicou.
A Bahia é um dos 12 estados que receberam kits do novo exame, por contarem com serviços de referência para colposcopia e biópsi, de modo que garantem o fluxo assistencial completo para mulheres que apresentarem resultados fora da normalidade. Pernambuco, Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Ceará, Bahia, Pará, Rondônia, Goiás, Rio Grande do Sul, Paraná, além do Distrito Federal também foram contemplados pela tecnologia.
A implementação começa por um município em cada estado. A meta do Ministério da Saúde é que até dezembro de 2026, o exame esteja presente na rede pública de todo o território nacional, beneficiando 7 milhões de mulheres de 25 a 64 anos por ano.
O Ministério prevê que com o avanço da implementação, haverá a possibilidade de que pacientes do SUS realizem a autocoleta do material ginecológico. O procedimento será ensinado às pacientes por um profissional de saúde. Esta medida facilitará a ampliação da cobertura de saúde para populações com dificuldade de acesso a serviços de saúde ou resistência à realização do exame.
Câncer de colo de útero é o terceiro mais comum entre mulheres
O câncer do colo do útero é o terceiro tipo mais comum entre mulheres, depois do câncer de mama, em primeiro lugar, e o câncer de intestino, em segundo. De acordo com o Ministério da Saúde, estima-se que entre 2023 e 2025, foram registrados 17.010 novos casos da doença. Já o Instituto Nacional de Câncer (INCA) calcula que há 15 casos da doença para cada grupo de 100 mil mulheres. A identificação e tratamento precoce da doença aumentam as chances de cura.
Segundo o ministro, a incidência da doença é ainda mais preocupante entre mulheres nordestinas. “O câncer do colo do útero ainda é o que mais mata mulheres no Nordeste. No Brasil, são 20 mortes por dia — até seis vezes mais que os casos de feminicídio em alguns estados. Com diagnóstico mais rápido e tratamento precoce, podemos salvar muitas vidas”, diz.
Governo lança Diretrizes Brasileiras de Rastreamento do Câncer do Colo do Útero
O governo federal também lançou hoje (15) as Diretrizes Brasileiras de Rastreamento do Câncer do Colo do Útero, que estabelecem o rastreamento organizado da doença. A iniciativa convida mulheres com idade entre 25 a 64 anos para realizar o exame pelo SUS. As equipes de Saúde da Família e os Agentes Comunitários de Saúde farão o levantamento regional de mulheres da faixa etária observada que estão com teste ginecológico atrasado, que nunca o fizeram ou que não receberam vacinação contra o vírus HPV.
Para ter acesso ao novo teste molecular DNA-HPV, pessoas interessadas devem marcar uma consulta ginecológica regular nas Unidades Básicas de Saúde. O estado usará o cruzamento de informações de pessoas não vacinadas.
A expansão da medida inclui a implementação de treinamentos para profissionais do SUS e distribuição de kits e insumos do teste, além de suporte diagnóstico por meio do Super Centro para Diagnóstico do Câncer, que, de acordo com o MS, usa tecnologia de ponta para reduzir de 25 para cinco dias o resultado do parecer médico. O Ministério também ofertará curso de citopatologia e suporte à organização local dos estados e municípios, em uma parceria com o Hospital Israelita Albert Einstein.
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