Câncer de intestino, que acometeu Preta Gil, é o 2º em casos no Brasil
Câncer de intestino ou colorretal, que que acometeu Preta Gil
Por Juana Castro.
O câncer de intestino ou colorretal, que acometeu a cantora Preta Gil, morta neste domingo (20), é o segundo tipo mais incidente no Brasil, tanto entre os homens quanto em mulheres, atrás apenas dos de próstata e mama, respectivamente. Os dados são da publicação "Estimativa 2023 – Incidência de Câncer no Brasil", do Inca (Instituto Nacional de Câncer).
Ainda conforme o Instituto, são esperados cerca de 46 mil novos casos de câncer colorretal por ano, no período de 2023 a 2025, o que representa aproximadamente 10% de todos os tumores diagnosticados no Brasil, excluindo-se o câncer de pele não melanoma.
Projeção de casos do câncer de intestino nos próximos anos
A mortalidade prematura por câncer de intestino entre pessoas de 30 a 69 anos pode aumentar em 10% até 2030. Essa é uma das conclusões do artigo "Os objetivos de desenvolvimento sustentável para o câncer podem ser cumpridos no Brasil?", escrito por pesquisadores do Inca e publicado na revista científica "Frontiers in Oncology".
O material - que projeta óbitos por câncer no Brasil entre 2026 e 2030, em comparação com o período de 2011 a 2015 - apontou que o câncer de intestino apresentou o maior crescimento estimado de mortes em todas as regiões do país e para ambos os sexos. A diferença projetada é de aproximadamente 27 mil óbitos a mais, sendo 14 mil entre homens e 13 mil entre mulheres.
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Casos de câncer de intestino nas regiões do Brasil
A região Nordeste teve o maior aumento projetado em relação às mulheres (38%), seguida por Sudeste (7,3%), Norte (2,8%), Centro-Oeste (2,4%) e Sul (0,8%). Entre os homens, o Nordeste teve o segundo maior aumento projetado (37%), atrás do Norte (52%). Centro-Oeste (19,3%), Sul (13,2%) e Sudeste (4,5%) aparecem na sequência.
“O Brasil passa pelo que chamamos de transição demográfica e epidemiológica, na qual, além do envelhecimento populacional, coexistem fatores de risco tanto para doenças crônicas quanto para infecciosas. O câncer de intestino tem alta incidência em países desenvolvidos, e as regiões mais urbanizadas do país vêm apresentando também esta tendência”, afirmou, à época da publicação "Estimativa 2023", a pesquisadora Marianna Cancela.
Levantamentos sobre o câncer de intestino no Brasil
Um levantamento do Inca com base nos Registros de Câncer de Base Populacional apontou aumento da incidência do câncer de intestino nas faixas etárias de 20 a 49 anos e de 50 a 69 anos, entre 2000 e 2015.
Já os dados dos Registros Hospitalares de Câncer (RHC) indicam que, entre 2015 e 2019, cerca de 65% dos casos foram diagnosticados em estágios avançados, abrangendo todas as faixas etárias.
O Inca acredita que estudos como esse contribuem para planejar ações para o controle da doença.
Hábitos saudáveis podem ajudar a prevenir câncer
Embora não haja causa específica, histórico familiar e hábitos de vida podem estar por trás do câncer de intestino, que tem aparecido em pessoas cada vez mais jovens. "A gente vê uma mudança na dieta das pessoas, de forma geral. Está mais ocidentalizada, com ingestão de muita carne vermelha, muita gordura, industrializados e poucas frutas e fibras. Isso aumenta as chances de câncer", comentou o médico oncologista Eduardo Moraes, do Núcleo de Oncologia da Bahia (NOB), em entrevista ao Aratu On, em janeiro de 2023.
Ele reforçou que alguns sintomas servem de alerta, como dores abdominais, obstrução intestinal, náuseas, vômitos e perda de peso repentina. Quando já existe dor, em geral, pode já ser um câncer mais avançado. "Como no Brasil não há campanhas grandes de rastreamento e prevenção ao câncer de intestino, infelizmente, mais da metade dos pacientes diagnosticados têm câncer avançado".
Rastreamento como caminho para diagnóstico precoce do câncer de intestino
Com diagnósticos precoces, as chances de cura superam 90%. De acordo com Dr. Eduardo Moraes, o melhor é detectar antes de qualquer sintoma, e isso é feito com o rastreamento da doença. O exame de rastreamento inicial mais comum é o de fezes (sim, aquele do potinho, que você leva para o laboratório). Se notada a presença de sangue oculto no material, é preciso ficar atento.
"O sangue pode vir por vários motivos (como hemorroida ou fissura), mas é um teste bom, simples e barato e, apesar de não ser específico, é uma boa técnica de rastreamento populacional", frisou.
Há outro exame considerado melhor, todavia mais caro e invasivo: a colonoscopia. Trata-se da introdução, pelo ânus, de um aparelho com câmera na ponta para analisar toda a parte interna do intestino.
A colonoscopia - disponível na rede pública de saúde - deve ser feita a partir dos 50 anos, independentemente de histórico ou sintomas. Pacientes de alto risco (com doença intestinal inflamatória ou precedentes de câncer de intestino na família) devem ser submetidos ao procedimento mais precocemente.
Após a colonoscopia inicial, uma nova só precisa ser feita em cinco a dez anos, a depender do resultado, como quando há presença de pólipos (pequenas verrugas intestinais que podem crescer e virar um câncer).
Tratamento do câncer de intestino
O tratamento do câncer de intestinocolorretal, na maioria das vezes, começa com cirurgia, principalmente se estiver avançado. Hoje, porém, os cuidados são multimodais, ou seja, com diferentes intervenções. A depender da extensão da doença, pode envolver quimioterapia. Nos tumores mais baixos, no reto (na parte final do intestino), também é possível acrescentar a radioterapia.
O oncologista reiterou a importância da prevenção, com hábitos saudáveis, rastreamento - principalmente se houver casos na família - e informação. "Para algumas pessoas, o câncer está associado à obesidade; para outras, à pouca ingestão de fibras e consumo exagerado de carne vermelha (mais que duas ou três vezes por semana) e embutidos (como salame e salsicha). Mas, em grande parte dos casos, a doença é esporádica. Pode acometer qualquer um. Por isso a importância do rastreamento", ponderou. "Informação é fundamental", concluiu.
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