Energia e abastecimento na Bahia: como o estado se destaca em renováveis
A energia e abastecimento energético na Bahia têm se destacado no cenário nacional; entenda sobre as problematizações e o porquê do estado ser um dos protagonistas em sustentabilidade do país
Por Laraelen Oliveira.
O estado da Bahia tem se consolidado como um dos maiores polos de energia renovável do Brasil, ocupando posição de destaque na produção de energia solar e eólica. O protagonismo da região não fortalece apenas a matriz energética nacional, mas também impulsiona o desenvolvimento econômico e social do estado, gerando empregos, atraindo investimentos e promovendo capacitação profissional.
Além da liderança em fontes limpas, a Bahia enfrenta desafios estratégicos relacionados ao abastecimento de água, saneamento básico e infraestrutura logística, que são fundamentais para garantir a sustentabilidade do crescimento regional. Nesse cenário, compreender o papel da energia e do abastecimento no cotidiano da população e no futuro do estado é essencial para avaliar como a Bahia vem transformando seu potencial natural em motor de progresso.
Energia solar e eólica: liderança nacional da Bahia
A Bahia conta com um ambiente ensolarado, aliado a políticas de incentivo e investimentos estratégicos, que transforma o estado em um polo de produção limpa, se consolidando no cenário brasileiro de energia renovável.
Os parques solares que já operam no interior do estado são componentes decisivos nesse cenário. O Complexo Solar Lapa, localizado em Bom Jesus da Lapa, possui capacidade instalada de 158 MW e gera cerca de 340 GWh por ano, energia suficiente para abastecer mais de 166 mil lares, evitando a emissão de 198 mil toneladas de CO₂ anualmente. Outro exemplo emblemático é o Parque Solar Horizonte, em Tabocas do Brejo Velho, com capacidade de 103 MW e geração de mais de 220 GWh, fruto de um investimento de US$110 milhões. Esses empreendimentos destacam a Bahia como estado líder na produção de energia solar no Brasil, tanto em capacidade instalada quanto em redução de impacto ambiental.
Além dos grandes parques, o estado investe na formação de mão de obra. Em 2024 a Associação Baiana de Energia Solar (ABS), em parceria com a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Emprego e Renda (Semdec), implementou um projeto gratuito de capacitação iniciado em 2023. Em dois anos, 250 instaladores foram formados, sendo 116 já inseridos no mercado de trabalho: 98 em 2023 e 18 (até novembro de 2024) em 2024, com previsão de mais formandos até o fim do ano. Isso não só fortalece o setor como gera emprego e profissionaliza as pessoas no mercado local voltado para área de sustentabilidade.
Principais parques eólicos do estado
A Bahia é líder nacional na geração de energia eólica, abrigando alguns dos maiores e mais modernos complexos do país. Localizados principalmente no semiárido, esses parques aproveitam os ventos constantes da região para produzir energia limpa e sustentável. Municípios como Caetité, Guanambi, Igaporã, Morro do Chapéu, Sento Sé e Campo Formoso concentram parte significativa dos empreendimentos.
Entre os destaques está o Complexo Eólico de Campo Formoso, que reúne dezenas de aerogeradores de alta capacidade, além do Complexo Eólico de Sento Sé, considerado um dos maiores do Brasil. Outro projeto emblemático é o Complexo Eólico Alto Sertão, na região de Caetité, pioneiro na produção em larga escala e responsável por transformar a economia local com a geração de empregos e o fortalecimento da cadeia produtiva.
Graças a esses investimentos, a Bahia não garante apenas o abastecimento interno de energia, mas também exporta a ideia para outros estados, trazendo uma representatividade em energias renováveis no país.
Linhas de transmissão e gargalos logísticos
Apesar da Bahia ser um dos principais polos de geração de energia renovável do Brasil, especialmente em fontes como a eólica e a solar, o Estado ainda enfrenta obstáculos significativos relacionados à infraestrutura de transmissão e à logística de escoamento. Os grandes parques de geração, em sua maioria concentrados no semiárido baiano, estão distantes dos principais centros consumidores, como Salvador e a região metropolitana, além de outros estados que poderiam absorver esse excedente energético.
Esse desbalanceamento entre a capacidade instalada e a infraestrutura disponível gera gargalos importantes. Em muitos casos, a energia produzida não consegue ser plenamente aproveitada, já que as linhas de transmissão existentes operam em limite ou ainda não foram concluídas. O resultado é a chamada “curtailment”, o desperdício de energia limpa que poderia estar sendo injetada no sistema, mas permanece ociosa por falta de capacidade de transporte.
A situação revela a necessidade de um esforço coordenado entre setor público e privado. De um lado, cabe ao governo viabilizar projetos estratégicos de expansão e modernização da rede de transmissão, garantindo celeridade nos processos de licenciamento e estimulando investimentos. De outro, empresas do setor energético precisam planejar suas operações considerando não apenas a instalação dos parques, mas também a integração com a malha elétrica nacional.
Além disso, os gargalos logísticos não se limitam às linhas de transmissão. O escoamento de equipamentos, peças e insumos para construção e manutenção desses parques enfrenta desafios em razão da infraestrutura rodoviária limitada no interior, o que encarece e retarda projetos. A solução exige investimentos não apenas em energia, mas em mobilidade e logística integrada, de modo que o potencial renovável da Bahia se converta em competitividade econômica e segurança energética.
Abastecimento de água e saneamento básico
Outra área crítica para o desenvolvimento estadual é o abastecimento hídrico. Em 9 de julho de 2025, a Embasa concluiu os testes do Sistema Integrado de Abastecimento de Água (SIAA) Anagé, com investimento de R$99,5 milhões. Essa obra vai atender cerca de 40 mil habitantes da região sudoeste, historicamente afetada pela escassez.
O sistema conta com 75,8 km de adutoras, estação de tratamento de 130 l/s, captação com vazão de 126,5 l/s na Barragem de Anagé, cinco estações elevatórias, tratamento de lodo e reservatório de 1 milhão de litros. A segunda etapa já está em projeto, vinculando a captação na Barragem do Champrão para atender municípios vizinhos como Condeúba, Cordeiros e Piripá. Essa iniciativa representa não apenas a universalização do acesso à água, mas também a base para o desenvolvimento econômico e social da região.
Em paralelo à ampliação dos serviços, a tarifa de água e esgoto foi reajustada. A Agersa autorizou aumento de 4,98%, que entrou em vigor em 18 de julho de 2025. Para famílias da tarifa social, o custo passou de R$14,97 para R$15,72 por mês, incremento de R$0,75. Já para consumo residencial normal, o valor subiu de R$41,18 para R$43,23, um acréscimo de R$2,05. Mesmo com o reajuste, ficou abaixo da inflação acumulada de 5,32%. Essa medida visa equilibrar a sustentabilidade financeira da Embasa e apoiar investimentos, enquanto mantém tarifas acessíveis às famílias de baixa renda.
Investimentos em infraestrutura energética
Em 2023, o estado atraiu mais de R$40 bilhões em investimentos, com destaque para os setores de eletricidade e gás, que representaram 65% desse total. Entre os projetos de maior relevância, destaca-se o Complexo Eólico Oitis, localizado nos municípios de Casa Nova (BA) e Dom Inocêncio (PI), com capacidade instalada de 566,5 MW, e o Complexo Solar Lapa, em Bom Jesus da Lapa, com capacidade de 158 MW.
Além disso, a Neoenergia Coelba anunciou investimentos de R$13 bilhões até 2029 para expandir a rede elétrica no estado, incluindo a construção de 71 subestações e mais de 4.300 km de linhas de transmissão. Esses investimentos visam não apenas aumentar a capacidade de geração e distribuição de energia, mas também impulsionar a economia local, gerar empregos e promover a sustentabilidade ambiental. Com uma matriz energética composta por 93% de fontes renováveis, a Bahia se posiciona como referência nacional na transição energética e no desenvolvimento de uma indústria verde.
Infraestrutura da Bahia: o papel da energia no desenvolvimento estadual
A integração entre energia, transporte, saneamento e grandes obras reforça o papel transformador da infraestrutura na Bahia. O estado investe em múltiplos eixos estratégicos para ampliar sua competitividade e melhorar a qualidade de vida.
Segundo levantamento de 2025, destacam-se os projetos estruturantes como o VLT de Salvador e Região Metropolitana (36,4 km, 34 estações, orçamento de R$4 bilhões, operações previstas para 2027). O Novo PAC, em especial no setor portuário, destinou R$1,5 bilhão para modernizar os portos de Aratu, Salvador e Ilhéus; o de Aratu, por exemplo, pode multiplicar sua capacidade por seis.
A Ferrovia de Integração Oeste-Leste (FIOL) também está em construção, conectando Ilhéus à Ferrovia Norte-Sul, essencial para o escoamento de grãos e minérios. A esperada Ponte Salvador–Ilha de Itaparica, orçada em R$ 11 bilhões e com início das obras previsto para 2026, será a maior ponte sobre a água da América Latina (12,4 km); beneficiará 44 municípios, quase 10 milhões de baianos, gerará mais de 7 mil empregos e promoverá dinamização econômica regional.
Investimentos em educação e saúde, mais de R$2,5 bilhões, incluem a instalação de usinas fotovoltaicas em escolas e novos equipamentos esportivos, fortalecendo o desenvolvimento sustentável e social. Além disso, o estado firmou parceria com o Banco Mundial, que aprovou empréstimo de US$200 milhões para o Programa de Infraestrutura Sustentável, com metas como a instalação de 43 MW de energia solar em prédios públicos e ampliação de mobilidade elétrica.
A Bahia emerge como referência na produção de energia renovável no Brasil, com liderança em projetos solares e eólicos e políticas ativas de formação profissional. Paralelamente, avançar na universalização do abastecimento de água e aperfeiçoar a sustentabilidade tarifária. Todos esses movimentos são complementados por projetos de infraestrutura massivos, portos, transportes, educação, saneamento e mobilidade limpa, que reconfiguram o espaço econômico e social baiano.
O resultado é um modelo integrado de desenvolvimento: energia limpa e água acessível geram condições para prosperidade, enquanto a infraestrutura potencializa o fluxo de pessoas, bens e serviços. A Bahia pavimenta o caminho para ser um hub regional sustentável, conectando interior e litoral, presente e futuro, e transformando sua vocação territorial em bem-estar para milhões.
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