Ônibus movido a fezes humanas utiliza dejetos de 1,5 milhão de pessoas

Ônibus movido a fezes humanas utiliza dejetos de 1,5 milhão de pessoas; veículo já percorreu mais de 42 mil km

Por Laraelen Oliveira.

Em Barcelona, existe um ônibus que despertou a curiosidade de muitos moradores da região. O veículo percorreu cerca de 42 mil km, sem gasolina e sim de biometano, gás obtido a partir da decomposição de resíduos orgânicos. O 'combustível'? fezes humanas.

O biometano é uma energia limpa e renovável, gerada a partir do Lodo úmido, a substância é produzida no tratamento de águas residuais da cidade. De acordo com o jornal francês Le Monde, em termos mais simples, o projeto utiliza “dejetos humanos de mais de 1,5 milhão de moradores da cidade catalã”. 

Um ônibus movido a biometano pode evitar a emissão de até 3 toneladas de CO₂ por ano, em comparação com um veículo a diesel/Foto: Transporte Metropolitano de Barcelona/Divulgação

O biometano é uma energia limpa e renovável, gerada a partir do lodo úmido, substância produzida no tratamento de águas residuais da cidade. De acordo com o jornal francês Le Monde, em termos mais simples, o projeto utiliza “dejetos humanos de mais de 1,5 milhão de moradores da cidade catalã”.

Redução de emissões e eficiência energética

O projeto foi iniciado há aproximadamente mais de três anos e já conseguiu reduzir em média 85% a pegada de carbono e aumentou cerca de 70% a eficiência energética obtida do biogás, apenas com seu ônibus piloto. 

O projeto LIFE NIMBUS é iniciativa conjunta do Cetaqua (Centro de Tecnologia Hídrica), Aigües de Barcelona, Transports Metropolitans de Barcelona (TMB) e da Universitat Autònoma de Barcelona (UAB). O objetivo do ônibus é tornar a mobilidade urbana mais sustentável e promover a economia circular a partir da transformação de resíduos em energia limpa. 

Como funciona o motor sustentável do ônibus?

O avanço tecnológico no transporte público sustentável, como o ônibus movido a biogás em Barcelona, aponta caminhos importantes para reduzir as emissões de gases de efeito estufa. O motor sustentável funciona a partir de um biogás composto por 65% de metano e 35% de CO₂, que passa pelo processo de power-to-gas. Nesse sistema, o CO₂ é combinado com hidrogênio renovável, resultando em biometano de alta pureza. Esse combustível pode ser utilizado em motores Euro VI sem necessidade de adaptações, garantindo eficiência e menor impacto ambiental.

A mobilidade urbana é responsável por quase 25% das emissões de CO₂ na União Europeia. Projetos como o LIFE NIMBUS buscam reduzir esse impacto/Foto: Reprodução 

Com essa tecnologia, os ônibus percorrem, em média, 14 mil km por ano apenas com energia limpa, reduzindo em até 80% as emissões de CO₂ em comparação com veículos tradicionais a diesel ou gás natural. O sucesso da iniciativa, comprovado pelo projeto LIFE NIMBUS, resultou no lançamento do projeto SEMPRE-BIO, que recebeu um investimento de 11 milhões de euros para ampliar a produção de biometano e expandir linhas de ônibus em Barcelona. O objetivo é tornar o processo mais escalável e economicamente viável, atendendo à crescente demanda por transporte sustentável.

Esse cenário europeu dialoga diretamente com o contexto brasileiro, especialmente com a Bahia, estado que se destaca nacionalmente no uso de energias renováveis. Grande parte da matriz energética baiana é composta por fontes limpas, como a eólica e a solar, o que reforça o potencial da região para investir em projetos semelhantes de mobilidade sustentável. A integração de transportes movidos a biogás ou biometano poderia ampliar a liderança do estado na transição energética, reduzindo emissões e diversificando a matriz.

Se metade da frota de ônibus no Brasil fosse movida a biometano, as emissões de CO₂ cairiam em mais de 50 milhões de toneladas por ano/Foto: Reprodução 

Entretanto, desafios ambientais ainda se impõem. Um estudo recente mostrou que até a cor dos carros pode influenciar a temperatura urbana, aumentando o fenômeno das ilhas de calor, especialmente em grandes cidades. Além disso, relatórios do Tribunal de Contas do Estado (TCE) apontam falhas e cobram planos mais consistentes do governo da Bahia para a área ambiental, demonstrando que, embora haja avanços em energias renováveis, é preciso consolidar políticas públicas que articulem transporte limpo, gestão urbana e mitigação dos efeitos climáticos.

Assim, experiências como as de Barcelona podem servir de inspiração para que estados como a Bahia unam inovação tecnológica à sua já robusta matriz renovável. A adoção de transportes coletivos movidos a biometano, combinada a políticas ambientais efetivas, pode transformar as cidades em espaços mais sustentáveis, reduzindo emissões e melhorando a qualidade de vida da população.

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