Chip pode restaurar visão de pessoas com degeneração causada pela idade

Um estudo publicado no The New England Journal of Medicine indicou que um chip pode restaurar visão de pessoas com degeneração

Por Bruna Castelo Branco.

Pesquisadores de cinco países desenvolveram uma tecnologia que combina um microchip implantado sob a retina com óculos inteligentes conectados e foi capaz de restaurar parte da visão em pessoas com degeneração macular relacionada à idade (DMRI) avançada. Segundo o estudo, publicado no The New England Journal of Medicine no fim de outubro, 81% dos voluntários apresentaram melhora na capacidade de leitura após 12 meses. Com informações da Agência Einstein.

A pesquisa descreve como a conexão entre os dispositivos devolve ao organismo a capacidade de decodificar estímulos luminosos sem depender das células danificadas pela doença. “Apesar desse implante não estar disponível imediatamente para os pacientes, ele é realmente um avanço muito importante na oftalmologia”, afirma o oftalmologista e retinólogo Diego Monteiro Verginassi, do Hospital Israelita Albert Einstein.

Um estudo publicado no The New England Journal of Medicine indicou que um chip pode restaurar visão de pessoas com degeneração. | Foto: Ilustrativa/Pexels

Como funciona o sistema

A tecnologia utiliza um implante fotovoltaico colocado sob a retina, responsável por receber os sinais de luz. Uma câmera acoplada aos óculos inteligentes captura imagens e as transforma em feixes de luz infravermelha, projetados sobre o chip. O microdispositivo converte a luz em estímulos elétricos — como faria uma retina saudável — e envia os sinais ao cérebro.

Dos 32 voluntários que completaram um ano de acompanhamento, 27 apresentaram avanços nos testes de leitura. “Nesse estudo, a maioria dos pacientes conseguiu melhorar o que chamamos de linhas de visão... os pacientes conseguiram ler de cinco a 12 linhas menores do que aquilo que eles conseguiam ler antes do implante do microchip”, explica Verginassi.

O dispositivo é alimentado pela luz infravermelha emitida pelos óculos, dispensando fios ou baterias, e não prejudica a visão periférica remanescente, permitindo o uso simultâneo da visão orgânica e da artificial.

A pesquisa descreve como a conexão entre os dispositivos devolve ao organismo a capacidade de decodificar estímulos luminosos. | Foto: Ilustrativa/Pexels

Cirurgia complexa e efeitos adversos

O implante, que mede apenas 2 milímetros, exige uma cirurgia delicada. “Hoje já é um tipo de cirurgia que fazemos na prática... porém é um procedimento complexo”, afirma o oftalmologista.

Foram registrados 26 eventos adversos graves em 19 participantes, principalmente relacionados ao aumento da pressão intraocular e a pequenas hemorragias nas oito primeiras semanas. Nenhum caso resultou em perda total da visão ou riscos sistêmicos.

Os pesquisadores agora trabalham em versões aprimoradas do implante, capazes de oferecer maior nitidez, e planejam ampliar o número de voluntários — mas o uso clínico ainda deve demorar.

O implante, que mede apenas 2 milímetros, exige uma cirurgia delicada. | Foto: Ilustrativa/Pexels

A DMRI e a perda da visão central

A degeneração macular relacionada à idade é a principal causa de cegueira irreversível no mundo. A doença destrói progressivamente as células fotossensíveis da mácula, região central da retina. “Na DMRI, essas células sofrem alterações e param de funcionar, causando a perda da visão central que vai aumentando progressivamente em uma cegueira irreversível”, explica Verginassi.

A doença se apresenta nas formas seca e úmida. A seca é a mais comum e ainda carece de terapias eficazes. “As opções se limitam ao uso de vitaminas e terapias com luz, mas os resultados são pouco animadores”, diz o especialista.

A forma úmida é tratada com injeções intraoculares que controlam sangramentos, mas não restauram a visão. É justamente essa lacuna que a nova tecnologia busca preencher. “Obviamente, ainda não falamos em recuperar a leitura plena, mas é um avanço importante ao desbravar um tipo de tecnologia até então inatingível”, conclui Verginassi.

A degeneração macular relacionada à idade é a principal causa de cegueira irreversível no mundo. | Foto: Ilustrativa/Pexels

Siga a gente no InstaFacebookBluesky e X. Envie denúncia ou sugestão de pauta para (71) 99940 – 7440 (WhatsApp).

Comentários

Importante: Os comentários são de responsabilidade dos autores e não representam a opinião do Aratu On.

Nós utilizamos cookies para aprimorar e personalizar a sua experiência em nosso site. Ao continuar navegando, você concorda em contribuir para os dados estatísticos de melhoria. Conheça nossa Política de Privacidade e consulte nossa Política de Cookies.