Startups de Salvador que estão se destacando no Brasil e no mundo
Conheça startups de Salvador que desenvolvem soluções inovadoras e produtos sustentáveis reconhecidos nacional e internacionalmente
Por Júlia Naomi.
Uma empresa que nasce de uma ideia inovadora, com modelo de negócios escalável e que trabalha em condições de extrema incerteza. É assim que são definidas as 302 startups em Salvador e 724 na Bahia, com atuação em setores de mercado variados. Os números são da Associação Baiana de Startups (AbaStartups).

"Em sua maioria, trabalham no modelo B2B [Business to Business], que é negócios para outros negócios. Os segmentos vão de saúde a turismo", explica Katya Perazzo, especialista em inovação do Parque Tecnológico da Bahia, vinculado à Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti).
Segundo Perazzo, é no setor de serviços de digitalização que as startups baianas mais se destacam, auxiliando empresas tradicionais a modernizarem seus processos e facilitando, por exemplo, o marketing de CRM (Customer Relationship Management). Este termo representa uma estratégia focada em utilizar dados em interações virtuais dos clientes para orientar ações de marketing mais precisas.
Startups de Salvador diversificam cenário de inovação na Bahia
Hiperbanco
Um exemplo de iniciativa B2B de sucesso na Bahia e no Brasil é o Hiperbanco. A startup soteropolitana permite que empresas lancem produtos financeiros sem complexidade regulatória, ao oferecer uma infraestrutura bancária completa via interface de programação de aplicações (APIs).

Assim, viabiliza que seus clientes emitam cartões de crédito pré-pagos com sua própria marca e realizem operações de crédito com segurança jurídica e escalabilidade, por meio da emissão de Cédulas de Crédito Bancário (CCBs).
A startup foi fundada em 2020 e começou com apenas dois integrantes: o casal de empreendedores Carlos Ivan e Júlia Leles. Atualmente, funciona com um time de 25 profissionais distribuídos entre duas unidades, uma sediada no Parque Tecnológico da Bahia e outra no Cubo Itaú, em São Paulo (SP).
Carlos Ivan conta que "o Hiperbanco já transformou mais de 150 empresas em todo o Brasil em fintechs e bancos digitais, levando tecnologia e infraestrutura financeira de ponta a diferentes segmentos do mercado". Além disso, recebeu o título de Startup do Ano 2022, conquistou o 1° lugar na Batalha de Pitch da Bahia Tech Experience 2023 (BTX23) e foi uma das empresas selecionadas no programa Inova Startup 2024, iniciativa que alia incentivo financeiro e capacitações.
De acordo com o CEO, a ideia de fundar o Hiperbanco partiu da visão de que empresas de todos os tamanhos deveriam ter acesso à mesma infraestrutura financeira dos grandes bancos, sem precisar investir milhões em tecnologia e regulamentação.

"Durante anos, percebemos a dificuldade de negócios locais, fintechs, varejistas e ERPs [sistemas de gestão integrados], em integrar serviços bancários de forma simples e segura. Essa lacuna despertou o propósito de democratizar o acesso ao sistema financeiro, oferecendo uma plataforma de Banking as a Service (BaaS) completa, capaz de transformar qualquer empresa em uma fintech", explica.
Ele destaca que a startup é comprometida com o ecossistema local de inovação, atendendo a diversas empresas baianas, a exemplo do Simpbank, banco digital criado em Salvador que opera com sua tecnologia. Além disso, afirma que desenvolve soluções financeiras "que antes só existiam em grandes centros como São Paulo".
Infleet
Ainda no modelo B2B, Salvador também apresenta inovação no segmento de transportes e logística. Fundada em 2017 com a proposta desenvolver um copiloto de gestão de frotas que une soluções de inteligência em uma única plataforma, a Infleet atende clientes de diversos setores, como transportadoras, distribuidoras, construtoras, de energia e logística.

A startup baiana, que atualmente possui uma segunda sede em São Paulo (SP) e atuação em todo o país, combina inteligência artificial, dados e parceria humana para acompanhar o desempenho de veículos e o comportamento de motoristas. O objetivo é prevenir acidentes e reduzir custos operacionais.
"A ideia nasceu de uma dor vivida na prática. Eu trabalhei com gestão de equipamentos em grandes obras e vi como os dados de frota eram fragmentados, com rastreamento em um lugar, abastecimento, multas, manutenção em outros e pouca inteligência de decisão", conta Victor Cavalcanti, CEO e um dos fundadores da startup.
A partir dessa experiência, o time fundador, composto por engenheiros mecânicos e de controle de automação, desenvolveu um modelo de negócios one-stop-shop, termo que indica o atendimento integrado de diversas necessidades em um único ambiente ou plataforma. Nesse sentido, suas soluções unem recursos de gestão de operações, controle de custos, cumprimento de normas e segurança.
Dentre os serviços ofertados pela startup estão:
Telemetria veicular
Sistema que coleta remotamente dados do veículo, como velocidade, localização, consumo de combustível e temperatura do motor. Essas informações são enviadas a uma central para processamento e análise em tempo real, de modo que viabiliza a tomada de decisões mais rápidas e precisas para otimiza a operação e reduzir custos com abastecimento e manutenção.
Com esse serviço, a Buser, plataforma de fretamento colaborativo de ônibus e cliente da Infleet, reduziu em 40% eventos de excesso de velocidade.
Videotelemetria
Combina a instalação de câmeras para captação de imagens internas e externas dos veículos com a coleta de dados em tempo real. Assim, observa o comportamento de direção dos motoristas e informações de desempenho dos veículos. De acordo com o site da Infleet, após a adoção da funcionalidade, a empresa cliente RTS Transportes reduziu 88,87% do uso de celular na consução de veículos da frota.

Além disso, a Infleet oferece a possibilidade de monitoramento em tempo real da localização, velocidade, rota e desempenho dos veículos, viabilizando a redução de tempo ocioso da frota. A startup também disponibiliza um módulo de gestão de multas e checklists digitais para organização de inspeções e registros.
Atualmente, a equipe que começou enxuta é composta por mais de 140 pessoas, distribuídas entre a Bahia, São Paulo e cargos de trabalho remoto. De acordo com Cavalcanti, são mais de 1000 clientes ativos, a exemplo da dinamarquesa de energia Vestas, do Grupo SBF (que controla lojas como Centauro e Fisia/Nike) e da locadora de veículos Enterprise.
TRL9.tech
Voltada para a elaboração de soluções tecnológicas e sustentáveis para redução de custos na indústria nas áreas de segurança, metalurgia avançada e bioeconomia, a TRL9.tech foi criada em 2022, com o objetivo de reduzir o tempo entre a realização de pesquisas científicas e a chegada da inovação no mercado.

Assim, a startup baiana no modelo Business to Business (B2B), desenvolve tecnologias a serem adquiridas por outras empresas, com a possibilidade de atuação em pequena parte da cadeia produtiva.
No campo da defesa e segurança, a TRL9.tech elabora equipamentos para melhoria da performance de serviços de proteção militares e privados. Dentro os produtos estão coletes à prova de balas mais leves que os convencionais, além de compostos de base biológica para proteção de veículos e aeronaves.
Já na metalurgia, a empresa é especialista em técnicas de homogeneização e dispersão de nanomateriais, que permitem a obtenção de ligas metálicas resistentes e duráveis. Exemplo disso é a criação, ainda em desenvolvimento, de compostos especiais de aço aprimorado com grafeno, material leve e resistente que contribui para a redução do impacto ambiental.
A startup também impulsiona avanços em tecnologias de energia limpa. Exemplo disso é a produção de membranas filtrantes de células de combustível a base de hidrogênio. Na área de bioeconomia, utiliza biomassa residual para criação de materiais sustentáveis, como polímeros verdes, nanopartículas de celulose e filamentos de impressão 3D de base biológica.

Atividades como essa utilizam resíduos de plantas como o sisal e o coco de babaçu, sem que haja desmatamento. Assim, alia-se inovação tecnológica com impacto ambiental positivo, desenvolvendo, principalmente, regiões semiáridas do Brasil.
A equipe da startup incubada no Parque Tecnológico da Bahia começou com apenas dois integrantes, os sócios fundadores Rodrigo Polkowski, doutor em Ciências dos Materiais com quase 30 anos de experiência na indústria automotiva, e Ana Clara de Carvalho Polkowski, advogada especializada em sustentabilidade e meio ambiente com mais de 20 anos de atuação.
Em 2025, TRL9.tech é composta por dez profissionais, dos quais oito são pesquisadores cientistas, entre doutores e pós-doutores em química e ciencia dos materiais. De acordo com o CEO, entre as principais conquistas da startup estão a expressividade de seu impacto científico, com artigos premiados nacional e internacionalmente, além de participação em eventos internacionais.
"Esses resultados reforçam nosso compromisso com soluções voltadas ao mercado e com o fortalecimento da produção científica nacional. Além disso, participamos de eventos de inovação no Brasil e no Exterior, como a Feira The Next Web na Holanda. Agora em novembro iremos a Belém expor nossas soluções em um evento do Parque da Bioeconomia da COP 30", destaca.
Capim Pimenta
Em Salvador, sustentabilidade e inovação também caminham lado a lado no modelo Business to Consumers (negócios para consumidores ou B2C). Com uma gestão totalmente feminina, a Capim Pimenta Cosméticos Naturais integra ciência e beleza na produção de cosméticos naturais e veganos, a partir de ingredientes da biodiversidade nacional.

Além de investir em inovação tecnológica e em pesquisas sobre bioativos naturais para tratar condições de pele comuns na população brasileira, como acne, melasma, rosácea e oleosidade, a startup busca reduzir seus impactos ambientais, utilizando embalagens biodegradáveis em 90% de seus produtos.
A startup, incubada pelo programa Áity Incubadora, do Parque Tecnológico da Bahia, nasceu de um sonho de infância compartilhado entre duas irmãs: a farmacêutica Léia Almeida Moreira e a especialista em vendas, marketing digital e inteligência artificial, Naiara Almeida.
"Nosso pai fornecia argila para toda Salvador e região metropolitana, e nossa mãe, que havia feito cursos de sabonetes artesanais no Senac, produzia sabonetes de argila para complementar a renda da família. Desde então, usamos argila e cosméticos naturais para cuidar da pele, especialmente na adolescência. Já naquela época, sonhávamos em criar nossa própria linha de cosméticos naturais", relata Léia.
A co-CEO destaca que ela e a irmã trilharam formações complementares e decidiram se juntar a uma amiga de infância que se especializou em cosmetologia. Em 2020, durante a pandemia de Covid-19, o trio submeteu o projeto da Capim Pimenta a quatro editais de empreendedorismo, sendo aprovado em todos eles.
"Passamos por acelerações, validamos nossa proposta e, em maio de 2024, lançamos oficialmente a Capim Pimenta Cosméticos Naturais, unindo ciência, natureza e propósito social. A partir daí, começamos a desenvolver biocosméticos veganos e sustentáveis, explorando o potencial de bioativos da Mata Atlântica, como a Grumixama (Eugenia brasiliensis)", conta.

A equipe, que começou com seis pessoas, atualmente possui uma equipe multidisciplinar de 13 profissionais, entre farmacêuticos, químicos, biólogos e especialistas em tecnologia, além de revendedoras parceiras e mulheres que fazem parte de sua rede de capacitação e geração de renda.
Com produtos comercializados pelo site, redes sociais, revendedoras e clínicas parceiras, a startup de cosméticos atende todo o estado da Bahia e realiza envios regulares para São Paulo, Minas Gerais, Piauí, Espírito Santo, Natal e Maranhão. "Estamos expandindo nacionalmente com o apoio da aceleradora Getin, do Parque Tecnológico da Bahia e do Programa Sementes", relata Leia.
Em julho de 2025, a Capim Pimenta conquistou o primeiro lugar no Nordeste On (NEON), maior evento de inovação e empreendedorismo do Nordeste. A startup foi reconhecida por seu impacto socioambiental positivo, equipe técnica qualificada e soluções sustentáveis. Devido à vitória na competição, a Capim Pimenta terá a oportunidade de representar a região Nordeste no Web Summit Lisboa 2026, um dos maiores eventos de tecnologia do mundo.
Perspectivas de empreendedorismo na Bahia
Os entrevistados das quatro startups são otimistas quanto ao cenário de empreendedorismo inovador na Bahia. Victor Cavalcanti, CEO da Infleet, por exemplo, considera que o estado oferece custos competitivos e um mercado local relevante nos setores de logística, energia e indústria. Além disso, apresenta uma base de talentos forte, formada a partir de universidades e centros técnicos.
Para acelerar esse desenvolvimento, Cavalcanti defende o investimento na formação de lideranças técnicas por meio de programas de engenharia de produto, inteligência artificial e bolsas em parceria com empresas.
Ele também destaca a importância de promover um ambiente regulatório mais ágil, com maior acesso a crédito para inovação, além de ampliar os incentivos fiscais e os programas de subvenção que estimulem o crescimento do ecossistema.
Já o cofundador do Hiperbanco, Carlos Ivan, considera que a Bahia vive um momento promissor de transformação empreendedora, com o surgimento de novas startups e o fortalecimento de iniciativas de inovação em diversos setores.

"Nos últimos anos, temos observado um crescimento consistente no número de empreendedores tecnológicos, apoiados por programas de aceleração, hubs de inovação e universidades locais. Para o Hiperbanco, que nasceu e cresceu nesse ambiente, a perspectiva é de expansão contínua, com a Bahia se consolidando como um polo de referência em inovação e tecnologia no Nordeste", declara.
Assim como Léia Moreira, co-CEO da Capim Pimenta, Carlos Ivan acredita que o crescimento do ecossistema de inovação pode ser impulsionado com maior acesso a capital de investimento para startups em estágio inicial.
Ambos defendem a ampliação da cooperação entre os diferentes agentes do setor, seja por meio da ampliação do acesso a mentorias, da realização de eventos de conexão entre startups, investidores e grandes empresas ou da expansão de parcerias com universidades, governo e empresas privadas.
Rodrigo Polkowski, da TRL9.tech, destaca a importância da possibilidade de firmar parcerias com a instituições como o SENAI Cimatec, "parceiro técnico de grande relevância" e o Parque Tecnológico da Bahia, "que cria condições favoráveis para o avanço de empresas de base tecnológica no estado".
"Acreditamos que esse ecossistema pode ser ainda mais impulsionado por meio de parcerias interestaduais e pela ampliação do acesso a horas de laboratório para as startups, o que certamente aceleraria seus resultados", pondera.
O papel das universidades e hubs de inovação
Os gestores das startups incubadas no Parque Tecnológico da Bahia consideram que integrar um hub de inovação têm sido decisivo para o crescimento das iniciativas empreendedoras, uma vez que a parceria viabiliza a conexão com um ecossistema de startups, universidades, instituições de pesquisa.
"O ambiente de inovação proporciona acesso a mentores, pesquisadores e investidores, além de infraestrutura e suporte técnico fundamentais para transformar ciência em produto", declara Léia Moreira.
Carlos Ivan complementa que "o ambiente favorece a colaboração entre empresas de base tecnológica, acelera o desenvolvimento de novos produtos e cria credibilidade institucional para atrair investidores e clientes corporativos".

De acordo com Katya Perazzo, especialista em inovação do Parque Tecnológico da Bahia, a parceria do polo de inovação com instituições de pesquisa como a Instituto Federal da Bahia (IFBA), a Universidade Federal da Bahia (UFBA) e a Universidade do Estado da Bahia (UNEB), possibilita que as startups incubadas tenham acesso a alunos experiência em pesquisa e núcleos de inovação.
"Esse acesso a talentos já qualificados é interessante, assim como o apoio na questão da pesquisa aplicada e transferência de tecnologia", explica.
Ela acrescenta que as universidades possuem Núcleos de Inovação Tecnológica (NITS), que podem apoiar tanto no pedido e acompanhamento de uma patente quanto na busca por parcerias de pesquisa e desenvolvimento e acesso a editais.
"Quando você apresenta em um edital uma parceria com uma ICT [instituição científica e tecnológica] com um pesquisador associado a sua empresa, isso traz um bônus na pontuação para esses projetos", detalha Perazzo.
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