Saiba o que considerar antes de adquirir um carro elétrico ou híbrido

Interesse em carros elétricos no Brasil é expressivo e mercado de usados ganha força

Por Júlia Naomi.

O mercado de veículos eletrificados cresceu 22,3% em maio de 2025, em relação ao mesmo mês de 2024, segundo a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE). Seja com a intenção de reduzir impactos ambientais, acompanhar avanços tecnológicos ou reduzir custos operacionais, cada vez mais brasileiros optam por adquirir modelos de carro elétrico no Brasil. 

Vendas de carros elétricos aumentam 19,5% nos 5 primeiros meses de 2025, em comparação a mesmo período do ano anterior. Foto: José Cruz / Agência Brasil

No mês avaliado, 16.641 unidades de veículos elétricos (VE’s) foram vendidas. Já no acumulado de 2025, foram cerca de 71,3 mil. O número representa um salto de 19,5% em relação ao mesmo período do ano passado, quando foram vendidos 59,7 mil.

Caso pesquisas de intenção de compra se confirmem, a tendência é que estes números continuem em crescimento, pois, segundo o levantamento “Rumo à mobilidade elétrica – Expectativas e prontidão dos consumidores para a era dos veículos elétricos”, 75% dos consumidores brasileiros pretendem adquirir um VE até 2029.

A pesquisa foi realizada pela Strategy&, consultoria estratégica da PricewaterhouseCoopers (PwC), com 17 mil participantes em 27 países. Ela mostra que o Brasil lidera a transição para a mobilidade elétrica na América Latina e supera a média global de intenção de compra de VE's, que é de 62%.

Existem várias modalidades de VE’s, com características que podem atender a diferentes necessidades dos clientes, ou mesmo frustrar expectativas, caso a compra seja feita sem a devida pesquisa e planejamento. São elas: 

  • Veículos Elétricos a Bateria (BEV), que utilizam exclusivamente energia elétrica armazenada em baterias;
  • Veículos Híbridos (HEV), que combinam motor a combustão com um motor elétrico. A bateria do motor elétrico armazena energia elétrica gerada pelo motor a combustão e pela frenagem regenerativa;
  • Híbridos Plug-in (PHEV), que possuem motor a combustão, mas também podem ser carregados em tomadas, com baterias maiores e maior autonomia no modo elétrico;
  • Veículos Elétricos a Célula Combustível (FCEV), que funcionam com energia elétrica gerada pela reação química entre hidrogênio e oxigênio, sem a necessidade de bateria recarregada na tomada.

Escolha entre carro elétrico, híbrido ou a combustão depende da rotina de quem compra

Um dos aspectos a ser considerado antes de fazer a escolha certa é observar a infraestrutura de carregamento de veículos disponível na região em que mora e a necessidade individual. O engenheiro agrônomo Francisco Alisson Xavier, por exemplo, optou pelo modelo híbrido (HEV) Haval, da montadora chinesa GWM, por costumar percorrer longas distâncias nas estradas com sua família.

GWM Haval H6 foi segundo carro híbrido mais vendido no Brasil em 2024, com 17.851 vendas. Foto: Divulgação / GWM

“Eu não tinha ainda total segurança de mudar para um 100% elétrico, porque nós não temos uma rede de abastecimento bem estabelecida nos estados do Brasil, [por exemplo] aqui na Bahia, onde eu mais rodo, indo para o Ceará. Então, isso me fez repensar”, relata.

O engenheiro agrônomo complementa que para a sua realidade, com viagens frequentes, o modelo híbrido foi uma “solução mais real”, uma vez que consegue utilizar o motor elétrico em baixas rotações, sem correr o risco de ficar desabastecido nas estradas.

Para Alisson Xavier, a combinação dos motores à combustão e elétrico proporciona conforto na dirigibilidade, por gerar um torque mais imediato, que favorece a ultrapassagem. Sobre o funcionamento do carro, ele também explica que o motor elétrico é acionado em baixas rotações, ou seja, em velocidades mais reduzidas. “Estou falando em termos de 40km a 50km por hora. Ou então, na estrada, em uma reta entre 70km e 80km por hora, ele também pode entrar no modo 100% elétrico”.

“Quando você está em centros urbanos, você não consegue andar a mais de 60km por hora, então o carro entra no modo elétrico e isso é uma solução interessante para a cidade”, complementa. Nestas circunstâncias, Alisson afirma que seu carro consegue percorrer entre 14km e 16km por litro.

Contudo, ele observa que em cidades pequenas, a economia de combustível de seu modelo híbrido não é tão grande quanto nos grandes centros, devido à necessidade de frenagens constantes e retomada da aceleração, que causa a alternância entre os modos a combustão e o elétrico. “Isso exige mais do motor, então ele não anda muito no elétrico assim como eu gostaria”, relata. 

Ainda assim, o agrônomo considera que não voltaria a comprar um carro à combustão. “Meu passo hoje é ficar no elétrico mesmo, ou no híbrido. Talvez, numa próxima compra, mudaria para um modelo plug-in (PHEV)”.

Já a empresária Giulia Codeço possui um carro 100% elétrico (BEV) da BYD, no modelo Mini Dolphin e considera não precisar abastecer o carro com álcool ou gasolina uma vantagem prática e benéfica para o meio ambiente. “Na cidade é muito mais prático, você carrega quando está em casa. No meu caso, eu carrego na empresa”. 

Até julho de 2025, o BYD Dolphin Mini foi o carro elétrico mais emplacado no Brasil (35 mil unidades). Foto: Divulgação / BYD

Giulia Codeço também reconhece que veículos 100% elétricos não são ideais para percorrer longas distâncias. O modelo de seu carro, por exemplo, possui bateria de 38 kW.h e autonomia de 280 km. “Se você quiser fazer uma viagem longa, você teria que parar em algum lugar, alguma pousada, dormir em algum lugar e colocar seu carro para carregar”, considera.  

Existem carregadores do modelo Dolphin Mini, com corrente alternada (AC), que proporcionam o carregamento de 0 a 100% em uma média de 6 horas.  Porém, carregadores rápidos de corrente contínua (DC) possibilitam um carregamento mais rápido. A versão divulgada no  site da BYD, por exemplo, promete um carregamento de 30% a 80% da capacidade da bateria em 22 minutos. Esta pode ser uma opção mais viável para uso em viagens longas.

Giulia Codeço também aponta como aspecto positivo a isenção do Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) para carros elétricos na Bahia, que não se aplica a modelos híbridos. De acordo com um estudo da Universidade Veiga de Almeida (UVA), apenas 12 estados brasileiros oferecem algum tipo de incentivo para a adoção da mobilidade elétrica, por meio de isenção parcial ou total no imposto. As regras variam em cada unidade federativa.

Outra vantagem dos veículos 100% elétricos é a menor necessidade de restauração. A engenheira eletrônica Ana Clara Fachardo, que é mestranda em eletromobilidade e energia sustentável pela Universidade Técnica Chalmers, na Suécia, explica que estes modelos possuem motores mais simples, com menos peças. “O motor a diesel tem várias partes. Por isso, precisa de mais manutenção nesses componentes”, explica. Exemplo disso, é a ausência de óleos, filtros e velas, nos carros elétricos.

A pesquisadora ainda explica que, mesmo com a redução do número de peças, veículos elétricos costumam ter um preço superior devido ao custo da bateria.  “A bateria não requer tanta manutenção, mas ela em si é um componente complexo. A fabricação ainda é muito cara”, afirma. 

Carros elétricos requerem menos manutenção, devido a menor número de peças. Foto: Getty Images

Ana Clara Fachardo ainda observa a diminuição da diferença de preço entre veículos elétricos e à combustão ao longo dos anos. “Eu acho que a tendência é diminuir mais. Exponencialmente, está diminuindo. Agora você já consegue ver carros da BYD bem competitivos, comparados a carros a diesel. Há cinco anos atrás, tinha uma diferença muito grande. Acredito que está chegando num ponto que não tem como diminuir muito mais, mas ainda há espaço para diminuição”, considera.

Uma alternativa para evitar o custo inicial mais elevado em comparação a veículos à combustão é a obtenção de veículos de segunda mão. Atualmente, de acordo com a pesquisa da PwC, a penetração desse segmento é de apenas 10%, mas este é um mercado em expansão. Segundo levantamento da Webmotors,  a busca por carros elétricos usados cresceu 57% no primeiro semestre de 2025. Já a busca por híbridos usados aumentou 41% no semestre. 

Os números confirmam o aquecimento do setor de VE’s e a busca por alternativas financeiramente viáveis para aderir aos benefícios das novas tecnologias, que, a longo prazo, apresentam redução de custos operacionais. 

O modelo elétrico da Dolphin EV, da BYD, por exemplo, representa uma economia de R$ 22.527,70 em relação ao Chevrolet Onix flex a gasolina em cinco anos, considerando preço de compra, IPVA, seguro, combustível e energia, de acordo com comparativo feito pelo TechTudo com valores referência do estado de São Paulo em 2025.

Condições ambientais influenciam no desmpenho de carros elétricos

Antes de comprar um novo veículo, é preciso saber que o desempenho de carros elétricos pode ser influenciado por condições de temperatura. Ana Clara Fachardo explica que a bateria possui uma faixa ideal de operação, que, em geral, varia entre 20°C e 40°C. “Se você está muito abaixo disso, ela não consegue gerar energia de forma tão rápida”. A engenheira eletrônica exemplifica que carros com autonomia de 300km, por exemplo, podem ter redução para 200km em dias frios.

Ana Clara Fachardo é engenheira de software da Polestar,  marca de carros elétricos sueca. Foto: Divulgação / Polestar

Nesses casos, grande parte da energia do carro é usada para colocar a bateria em condições ideais de funcionamento. “Se estiver muito frio, você tem que usar a energia da bateria para esquentá-la. Se estiver muito calor, existe o risco de explosão da bateria. Por isso, você tem que usar a própria energia da bateria para resfriamento”, detalha.

Carros elétricos causam impactos negativos ao meio ambiente?

A principal vantagem dos carros 100% elétricos para o meio ambiente é que eles não emitem gases estufa, de modo que localmente, representam uma redução importante na poluição do ar. Contudo, existem preocupações relacionadas ao impacto da mineração para a obtenção de materiais como lítio, essencial para a produção das baterias. Considerar a origem da energia utilizada para o carregamento do carro também é importante, pois, em  caso de uso de fontes não renováveis, como combustíveis fósseis, a poluição acontece de forma indireta.

Segunda vida de baterias de carros elétricos pode ser utilizada para armazenar energia solar. Foto: Soninha Vill / Giz

“Se a energia que você usou para abastecer o carro elétrico vem de uma fonte limpa, como a energia solar, do vento e até hidrelétrica, desde o momento que você comprou o carro, ele vai poluir muito menos do que carros à diesel. Mas, para você produzir a bateria, [a poluição] acaba sendo mais alta do que o carro a diesel. Só que, ao longo do tempo, como o carro elétrico não vai poluir, ele acaba se tornando, no final do ciclo, melhor para o meio ambiente”, explica a engenheira eletrônica Ana Clara Fachardo.

Para evitar impactos negativos ao meio ambiente, também é preciso encontrar soluções sustentáveis para o descarte de baterias dos VE’s. A especialista aponta o aproveitamento da “segunda vida” da bateria como uma forma de minimizar impactos ambientais. Esta forma de utilização pode ser feita quando o estado de saúde da bateria já não é ideal para alimentar um carro elétrico, mas ainda é funcional para armazenar excedentes de energia solar, por exemplo. Outra alternativa é o desmonte da bateria para reciclagem dos materiais.

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