Setembro tem recorde no número de mulheres trans baleadas em Salvador e RMS
Setembro registrou o maior número de mulheres trans baleadas em Salvador e RMS desde o início da série histórica, com dois assassinatos em sete dias
Por Ananda Costa.
Setembro foi o mês com mais registro de mulheres trans baleadas em Salvador e Região Metropolitana desde o início do monitoramento realizado pelo Instituto Fogo Cruzado.
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Neste mês, duas mulheres trans foram assassinadas a tiros em um intervalo de apenas sete dias, entre os dias 4 e 11, número inédito em um único mês na série histórica iniciada em julho de 2022.
Ao todo, 13 pessoas trans foram baleadas na região nesse período, 11 não resistiram aos ferimentos e duas ficaram feridas. Dessas, 12 eram mulheres,. Entre os casos com raça ou cor identificada, 89% das vítimas eram negras, revelando a sobreposição de vulnerabilidades enfrentadas por essa população, marcada por transfobia e racismo estrutural.
Mulheres trans baleadas em Salvador e RMS
No dia 11 de setembro, uma mulher trans, identificada como Any Sá, foi morta a tiros na tarde desta quinta-feira (11), na localidade conhecida como Escada, no Subúrbio Ferroviário de Salvador. Segundo a Polícia Militar, o corpo apresentou múltiplos disparos de arma de fogo.
A PM isolou o local e acionou o Departamento de Polícia Técnica (DPT), que realizou a remoção do corpo e iniciou os procedimentos periciais.
Até o momento, nenhum suspeito foi preso. A Polícia Civil investiga autoria e motivação do crime.
Violência armada em Salvador
Os crimes ocorreram em meio a um contexto mais amplo de violência armada. Em setembro, o Fogo Cruzado registrou 105 tiroteios em Salvador e RMS, resultando em 93 mortes e 25 pessoas feridas. Mais da metade dessas ocorrências (51%) aconteceu durante ações ou operações policiais.
A distribuição dos tiroteios e vítimas por município em setembro foi a seguinte:
Salvador: 78 tiroteios, com 67 mortos e 19 feridos
Camaçari: 8 tiroteios, 9 mortos
Lauro de Freitas: 6 tiroteios, 6 mortos e 3 feridos
Pessoas trans e travestis mortas em 2020
Em Oceânia, nação fictícia onde se passa a história de 1984, obra literária clássica do escritor britânico George Orwell, os olhos do Grande Irmão, pseudônimo usado para se referir ao Estado e que se tornou mundialmente conhecido como “Big Brother”, controlam a vida de boa parte da sociedade. As teletelas, aparelhos instalados em quase todos os lugares, inclusive nas casas das pessoas, são capazes da captar imagens, áudios e reações, determinando e monitorando os comportamentos dos indivíduos.
Há, contudo, uma exceção. Os proletas, classe social mais pobre e moradora dos subúrbios, vivem com certa dose de liberdade que não é concedida aos outros. Esse “benefício” é resultado de um sistema político que os abandona à própria sorte e que deixa claro, mesmo que indiretamente, que as vidas daquelas pessoas não importam tanto, ou que elas importam menos.
No Brasil, em 2020, 129 pessoas trans e travestis foram assassinadas entre janeiro e agosto, número que já supera o registrado em todo o ano de 2019. Os dados são fruto de um levantamento realizado pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA).
Na opinião de Keila Simpson, presidenta da entidade, eles são, na realidade, ainda maiores. “Daria muito mais se a gente conseguisse somar tudo. Dá até um certo alívio no coração, de certa forma, não saber quais são os números reais, pois eles seriam ainda mais assustadores”.
Simpson aponta, ainda, a indiferença com a qual, não apenas o campo político, mas a própria sociedade civil olha para este quadro. Tal qual na Oceânia de Orwell, vidas parecem ter pesos e provocar emoções e reações diferentes em nosso país. “Essas mortes não importam, de fato. Existe um apelo heteronormativo que se reflete, também, no campo da violência. A sociedade vê, mas não enxerga. O olhar é de discriminação e preconceito. Ufa! Uma a menos!”.
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