Governo lança incubadora para apoiar mídias negras e periféricas no Brasil

Durante o 15º Fórum da Internet no Brasil, realizado entre os dias 26 e 30 de maio no Fiesta Convention Center, em Salvador, a diretora da Secretaria de Políticas Digitais da Presidência da República, Marina Pita, anunciou o lançamento da Incubadora de Soluções para Mídias Negras e Periféricas Independentes, uma iniciativa inédita no país que pretende fortalecer a diversidade no ecossistema jornalístico brasileiro.

“O Estado brasileiro tem um compromisso constitucional com acesso à informação, à liberdade de expressão, e o jornalismo é parte desse processo. Ele apura informações, ele oferece para a população brasileira — mas são várias populações brasileiras — então a gente precisa de um jornalismo plural e diverso”, afirmou Pita.

A incubadora para apoiar mídias será estruturada em três frentes principais: diagnóstico dos desafios enfrentados por veículos independentes no ambiente digital, desenvolvimento de soluções tecnológicas baseadas nesse diagnóstico e testes-piloto com veículos selecionados.

“Vamos ter uma linha de diagnóstico feita por pesquisadores, com seleção digital aberta. A partir disso, serão desenvolvidas ou testadas soluções tecnológicas e, por fim, alguns veículos vão ser selecionados para testar essas soluções”, explicou.

Segundo a diretora, a incubadora para apoiar mídias visa também orientar políticas públicas mais robustas de incentivo ao jornalismo local, periférico e negro. “É uma iniciativa inédita. A gente nunca teve algo assim voltado para o jornalismo periférico, negro, independente, a partir do governo federal”, destacou.

A expectativa é que o convênio entre a Secretaria de Comunicação Institucional (Secom) e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) seja assinado dentro de um mês. Após essa etapa, será formada a equipe responsável pelas pesquisas e pela seleção dos veículos que participarão do projeto-piloto. “Imagino que, a partir de dois meses, a gente comece o processo de pesquisa, de contratação de pesquisadores e, finalmente, de seleção de veículos”, concluiu Marina Pita.

Incubadora para apoiar mídias negras e periféricas

Representando o ministro Sidônio Palmeira, o secretário-executivo da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, Thiago César, destacou o papel estratégico do jornalismo para a democracia e a necessidade de renovar suas bases. “Ao desaparecer o jornalismo, cria-se um obstáculo para a existência da democracia. Estamos aqui para criar um novo berçário pro jornalismo brasileiro”, afirmou. Ele celebrou o lançamento da incubadora como uma conquista para os setores historicamente marginalizados. “É com muita alegria que a gente lança a incubadora de soluções para o jornalismo negro e periférico.”

César também anunciou que a iniciativa está alinhada com uma nova diretriz do governo para descentralizar o acesso às verbas públicas de comunicação. Segundo ele, a Portaria 142, em fase final de elaboração, vai permitir que portais menores e criadores de conteúdo como youtubers também possam acessar os recursos destinados à publicidade institucional do governo federal. “Não por acaso esse projeto [começa] na Bahia. A gente precisa de lugares que essas vozes possam se multiplicar”, completou.

O secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação da Bahia, André Joazeiro, reforçou o papel estratégico da iniciativa para reconstruir áreas desmobilizadas em gestões anteriores. “[A incubadora] é uma ação muito acertada para garantir a democracia, tanto do jornalismo quanto da ciência e tecnologia, dois pilares importantes do nosso país. Todo esse esquema de desmontagens da imprensa e da ciência e tecnologia tem um porquê, porque são pilares fundamentais para a democracia.”

Joazeiro também destacou o compromisso do governo estadual com o recorte racial. “O recorte racial é muito importante aqui pra gente. [O governador] Jerônimo Rodrigues tem pedido que nós levemos essa pauta para as escolas, junto com a secretária da Educação, Rovena Brito.” Segundo ele, o estado já conta com 83 agências de notícias espalhadas pelos territórios de identidade e cerca de 900 pessoas envolvidas em ações voltadas à educação midiática. O secretário ainda anunciou a instalação de 90 laboratórios de games em diferentes regiões e a criação de clubes de ciência com foco na democratização do acesso à tecnologia.

Representando o Ministério da Igualdade Racial, a coordenadora-geral de Redes da Assessoria de Comunicação do MIR, Andressa Almeida, falou sobre a importância de garantir autonomia às mídias negras e comunitárias. “Sou fruto de mídia comunitária. É uma honra estar representando o MIR, a ministra Anielle Franco. Essa iniciativa que a gente está anunciando hoje é fruto do nosso plano de comunicação da Igualdade Racial, e fala muito sobre o respeito ao acesso e à circulação da informação”, afirmou.

Almeida também alertou para os riscos do atual cenário de desinformação e do uso indevido de tecnologias emergentes. “Em um cenário de desinformação, questões com inteligência artificial, a incubadora vai garantir autonomia das mídias que atuam pela democracia. Não existe democracia com racismo. [É preciso] que as mídias negras não somente tenham voz, mas sejam donas das próprias iniciativas.”

A mesa contou ainda com a presença de Renata Mielli, representante do Comitê Gestor da Internet no Brasil, e do diretor-geral da Superintendência de Estudos Sociais e Econômicos da Bahia (SEI), José Acácio Ferreira. A incubadora começará a operar nos próximos meses, com o início das seleções de pesquisadores e o desenvolvimento das primeiras soluções tecnológicas voltadas ao jornalismo local e independente.