Acarajé do Amor? Mulher mistura doce da moda com quitute baiano; veja
Uma baiana de acarajé de Aracaju, em Sergipe, vem chamando a atenção nas redes sociais após divulgar o "Acarajé do Amor"
Por Bruna Castelo Branco.
Uma baiana de acarajé da cidade de Aracaju, em Sergipe, vem chamando a atenção nas redes sociais após divulgar uma criação culinária inusitada, inspirada na sobremesa ganhou o Brasil nas últimas semanas: um "Acarajé do Amor".
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O Morango do Amor, uma versão da tradicional Maçã do Amor, que mistura fruta fresca, brigadeiro branco e calda de caramelo vermelho brilhante, virou sensação no TikTok e no Instagram em julho deste ano. Com a "viralização" do doce, vídeos que mostram opções salgadas do prato também começaram a surgir na internet: se você procurar, vai encontrar receitas de Linguiça do Amor, Coxa Creme do Amor, Torresmo do Amor, Picanha do Amor, e por aí vai, sempre priorizando a calda crocante que cobre todos os alimentos.
E foi assim que a baiana de acarajé Ana Ercília Silva, dona do "Acarajé da Ana - Hamburgueria", criou o Acarajé do Amor, uma versão doce, com recheio de morango, da iguaria que é Patrimônio Cultural Imaterial da Bahia. Vídeos publicados no Instagram mostram detalhes da sobremesa: por fora, parece um Morango do Amor como todos os outros, mas, ao partir o doce com uma faca, dá para ver que, debaixo da calda vermelha, há um mini-acarajé. Além da calda caramelizada, o prato inclui um creme branco, que parece ser brigadeiro. Veja:
O público, porém, ficou dividido com a novidade: nas publicações de Ana Ercília, há comentários contra e a favor da receita. "Alguém interdita essa mulher, em nome de todos os Santos", comentou um. "Sempre defendo as invenções boas dela, mas, essa foi de mais", disse outro usuário do Instagram. "Deixem o acarajé fora disso, por favor! Ele é perfeito do jeito que é", apontou outra pessoa. "Bom marketing, poucos vão entender...", escreveu uma mulher. "Vocês são demais, uma imaginação invisível, estão de parabéns, tem que se reinventar mesmo, por isso admiro tanto esse acarajé", opinou uma internauta.
Apesar da divulgação do produto, o Acarajé do Amor não aparece no cardápio digital do Acarajé da Ana. Mas, para quem gosta de variedade, lá há outras adaptações do quitute afro-brasileiro, como o Acarajé Burger, feito com "blend bovino, catupiry, sala verde e cebola caramelizada", vendido a R$ 30.
Também tem opções como Acarajé de Siri, Acarajé de Marisco, Acarajé de Aratu, Acarajpe de Sushi, Acarajé no Espeto com queijo coalho, barcas de acarajé e Acarajé Vegano, recheado com vatapá, amendoim com castanha e vinagrete. Quem preferir, pode substituir o bolinho frito por abará.
O Aratu On entrou em contato com Ana Ercília para saber mais sobre o prato e a repercussão, mas, até o momento, não recebeu resposta.
Acarajé rosa
Em julho de 2023, mudanças na receita e aparência do acarajé geraram polêmica em Salvador. Quem lembra do Acarajé da Barbie, criado pela baiana Adriana Ferreira dos Santos, do Acarajé da Drica?
Na ocasião, a Associação Nacional das Baianas de Acarajé (ABAM) repudiou a ideia por, segundo a associação, desrespeitar um alimento considerado sagrado pelo Candomblé. À imprensa, a presidente da entidade, Rita Santos, disse que o "bolinho cor-de-rosa", na verdade, nem deveria ser considerado um acarajé, e ressaltou que a receita original não pode ser modificada e que o preparo deve ser feito por filhas-de-santo, mulheres iniciadas na religião.
"É um patrimônio, não só o ofício, mas também o nosso acarajé. Para mim, o acarajé cor de rosa também não é acarajé, é simplesmente um bolinho de feijão. E ela não pode ser chamada de baiana. Temos dois termos: a baiana de acarajé, de fato e de direito, que são aquelas que preservam a nossa cultura, que valorizam os nossos antepassados, e aquelas meramente vendedoras, que vão vender por dinheiro. Essa é uma que está vendendo pelo dinheiro. Ela não valoriza o nosso legado, ela não valoriza o nosso patrimônio", apontou Rita.
"Os brancos não valorizam o que é nosso, por que vamos valorizar o que é deles? Nós, o estado da Bahia, o maior em número de pessoas negras, temos que valorizar o que é nosso, dos pretos, por que vamos dar 'Ibope' para Barbie?", questionou.
Adriana se defendeu, alegando que fez apenas uma brincadeira: "É uma brincadeira pela estreia do filme. Só vamos fazer essa semana. De forma nenhuma isso afeta as tradições. Eu gosto de inovar. Sempre prezo pela qualidade e em como levar meu produto até os clientes".
Sobre a receita, ela justificou: como usa corante sem sabor, o acarajé continua com o mesmo gosto.
"Não altera nada em sabor. Eu sou uma comerciante do acarajé. É o nosso sustento. Tudo que eu faço gera polêmica e eu estou sempre pensando na qualidade. É muita falta de empatia de quem critica. Não tem necessidade", comentou.
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