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Conheça os baianos do Futebol de 5 que vão em busca do tetra no Parapan; vídeo

A carreira de jogador de futebol sempre foi o sonho de Jeferson Gonçalves, o Jefinho. Mesmo quando perdeu a visão, aos sete anos de idade, não deixou a ideia de lado. Na cidade de Candeias, na Região Metropolitana de Salvador (RMS), onde nasceu e ainda reside, brincava com os amigos de forma adaptada - colocando um saco plástico em volta da bola, para que fosse guiado pelo som. 

Por Juana Castro

Conheça os baianos do Futebol de 5 que vão em busca do tetra no Parapan; vídeoarte/Aratu On


A carreira de jogador de futebol sempre foi o sonho de Jeferson Gonçalves, o Jefinho. Mesmo quando perdeu a visão, aos sete anos de idade, não deixou a ideia de lado. Na cidade de Candeias, na Região Metropolitana de Salvador (RMS), onde nasceu e ainda reside, brincava com os amigos de forma adaptada - colocando um saco plástico em volta da bola, para que fosse guiado pelo som. 


Hoje, aos 29 anos, tem tantas conquistas que até “se perde nas contas”. Ostenta um título de melhor do mundo no Futebol de 5 (praticado por cegos), em 2010, e, há 13 anos na seleção brasileira da modalidade, prepara-se para seu quarto Parapan, em Lima, no Peru, que será aberto oficialmente na sexta-feira, 23 de agosto.


Além de Jefinho, outros três baianos defendem o Brasil nos jogos. São eles o também experiente Cássio Reis, de 30 anos, natural de Ituberá e há uma década na seleção; o soteropolitano Gledson Barros, mais conhecido como “Guegueu”, de 28, que atualmente joga na Associação de Pais e Amigos dos Deficientes Visuais de São Bernardo do Campo (APADV), e o novato Maicon Junior, de 19 anos, da cidade de Maraú, estreante na competição.


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Jefinho, Cássio e Gledson | Foto: divulgação/CBDV



Todos passaram a última semana no Centro de Treinamento Paralímpico Brasileiro, em São Paulo, e embarcam para a capital peruana, junto com o restante do time, neste domingo (18/8), em busca do tetra. Isso mesmo. Desde que o ‘Fut 5’ estreou nos Jogos Parapanamericanos, em 2007, a seleção brasileira nunca perdeu uma edição e promete brigar por essa hegemonia, como afirma o fixo/zagueiro Cássio:


“Nós somos cobrados e nos dedicamos o tempo inteiro para isso. Entramos na quadra para vencer. A gente aceita qualquer outro resultado, desde que seja jogando futebol e dando nosso máximo”. O jogador perdeu a visão aos 14 anos, após um deslocamento de retina seguido de catarata.


Apesar de todos os pódios, os atletas estão cientes de que os primeiros confrontos serão duros. No sábado e no domingo (24 e 25/8), o Brasil encara, respectivamente, a Colômbia e a grande rival Argentina.


Para Jefinho, a equipe deve entrar ainda mais concentrada. “Esses primeiros jogos praticamente decidem a classificação para uma possível final. Se a gente sair com vitória, já é um passo gigante”, afirma o pivô/atacante.


Além de Brasil, Colômbia e Argentina, a competição conta ainda com México, Costa Rica e o anfitrião, Peru. Todas as seis seleções se enfrentam e as duas melhores colocadas decidem o título no dia 30 deste mês. A disputa do bronze ocorre no mesmo dia.


HISTÓRIA


Para chegar a este patamar, os baianos começaram cedo. Após perderem totalmente a visão, buscaram auxílio no Instituto de Cegos da Bahia (ICB), situado no bairro do Barbalho, em Salvador. Foi lá onde aprenderam Braille, entenderam sobre inclusão e desenvolveram as técnicas necessárias para se tornarem atletas.


Maicon, ala defensivo e o mais novo do grupo, perdeu a visão aos dez anos, em decorrência de um glaucoma congênito, e ressalta a importância do trabalho do instituto para sua vida. “Aumentou minha auto-estima. Vim do interior, sem muita estrutura… Aqui eu estudei, tive acompanhamento e entrei no futebol, que é a ferramenta principal para a minha evolução, para minha carreira profissional”, diz ele, que apesar da pouca idade, já tem um ouro no Parapan de Jovens de 2017 e outro na Copa América deste ano - o hexa brasileiro.


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Maicon no Parapan de Jovens, em 2017 | Foto: divulgação



O jovem lembra, também, de quando foi convidado pelo técnico do time de Fut 5 do ICB, Gerson Coutinho, a ingressar na equipe, e jogou com a bola de guizo pela primeira vez: “foi maravilhoso!”. 


Mas nem sempre foi assim. Coutinho, que é voluntário na instituição desde 1983 e está desde 2002 no comando do time, conta que, inicialmente, mandaram fazer a bola especial, comprando os guizos e pedindo para inserir em uma bola de futsal, até que a fábrica do objeto adaptado veio para Feira de Santana, na Bahia, facilitando todo o processo.


“Na nossa primeira competição não sabíamos nem as regras direito. Mas fomos ‘pegando a manha’, estudando e montando essa equipe multicampeã, sete vezes campeã brasileira, seis vezes campeã do Nordeste e tricampeã mundial, com vários jogadores que frequentaram a seleção”, fala o professor. 


Quando perguntado sobre a sensação de ter três alunos e um ex-aluno indo para o Parapan de Lima, Coutinho não esconde o orgulho e brinca: “se eu disser que não faz bem para o ego, estarei mentindo. Lógico que fico satisfeito, mas costumo dizer que a gente não faz jogador, e sim a lapidação da pedra bruta”. 


O time do ICB treina, atualmente, na quadra da Unime, em Lauro de Freitas, na RMS, às segundas, quartas e sextas, graças a um convênio firmado com a unidade de ensino.


CARREIRA ESPORTIVA


Toda a renda dos baianos do Fut 5 vem do esporte. Com dois filhos, Cássio afirma que, apesar de ter uma rotina que compromete boa parte da renda, pois envolve suplementação, nutricionista, há incentivos estaduais e federais.


Em conversa com o Aratu On, o ala ofensivo Gledson, também pai de um bebê de quase dois anos, avalia que as condições melhoraram, embora longe do ideal. “Ainda não temos o reconhecimento que merecemos, mas estão acompanhando mais e, com isso, vão dando mais valor às pessoas com deficiência”.


Cássio concorda com ‘Guegueu’ a respeito da visibilidade crescente do Futebol de 5 - o que vem ocorrendo, para ele, desde as Paralimpíadas de 2016, no Rio de Janeiro -. “Foi o divisor de águas do paradesporto no Brasil e a nossa maior conquista”, considera o zagueiro da seleção tetracampeã paralímpica. No entanto, deixa um recado: 


“Espero que o país abrace, reconheça e respeite, porque é algo brilhante que traz muita alegria para todos que estão envolvidos. Não é uma modalidade que a gente apenas disputa para não ‘ficar em casa sem fazer nada’”.


Se eles pensam em se aposentar? Nada disso. Pelo menos, não por agora. Gledson, Cássio e Jefinho, que têm mais tempo de estrada, não querem pendurar as chuteiras tão cedo. O zagueiro acredita que ainda tem físico para mais uma ou duas paralimpíadas, além da de Tóquio, no ano que vem. “A mente é que eu preciso preparar”, diz.


Já Jefinho espera continuar motivado. “Estou chegando aos 30 [anos], né? Graças a Deus tenho uma carreira vitoriosa, mas é difícil, com o passar dos anos, então espero ter condições físicas e técnicas de me manter em um alto nível por bastante tempo, ainda”, reflete o pivô, que aposta, também, em novas revelações, como Maicon. “A gente espera essa renovação, para que o Brasil continue relevante no Futebol de 5”, conclui.


MODALIDADE


A quadra tem as mesmas medidas que a de futsal. O tempo? Vinte e cinco minutos de cada lado. Na linha, cinco jogadores: um goleiro, que tem visão total e quatro na linha, totalmente cegos e que usam uma venda nos olhos para deixá-los todos em iguais condições, já que alguns atletas possuem um resíduo visual (vulto) que dão, nesta modalidade, alguma vantagem a estes.


Há ainda um guia, o Chamador, que fica atrás do gol adversário orientando o ataque de seu time, dando a seus atletas a direção do gol, a quantidade de marcadores, a posição da defesa adversária, as possibilidades de jogada e demais informações úteis. É o chamador que bate nas traves, normalmente com uma base de metal, quando vai ser cobrada uma falta, um pênalti ou um tiro livre.


A bola possui guizos, necessários para a orientação dos jogadores dentro de quadra. Por isso, é preciso silêncio durante o andamento da partida. Através do som emitido pelos guizos, os jogadores podem identificar onde ela está, de onde ela está vindo e podem conduzi-la.


Saiba mais sobre a modalidade no  site oficial da Confederação Brasileira de Desportos para Deficientes Visuais (CBDV).


- Matéria publicada originalmente em 19 de agosto de 2019.


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