Colégio na Bahia é alvo de críticas após 'reencenação' da escravidão

'Reencenação' da escravidão em instituição de Alagoinhas, na Bahia, colocou aluno negro amarrado a tronco

Por Júlia Naomi.

O Colégio Adventista de Alagoinhas, na Bahia, recebeu críticas nas redes sociais nesta quarta-feira (26), após publicar uma foto de um aluno negro amarrado a um tronco, em uma'reencenação' da escravidão. A imagem foi feita durante uma apresentação referente ao Dia da Consciência Negra. De acordo com a instituição, ocorreram "interpretações equivocadas" sobre a atividade pedagógica.

Escola particular em Alagoinhas recebe críticas após fazer 'reencenação' da escravidão em apresentação escolar do Dia da Consciência Negra. Foto: Reprodução / Redes sociais

No registro, publicado nas redes sociais do próprio colégio, o estudante está vestido com roupas rasgadas, amarrado a um tronco. Ao seu lado, um aluno branco posa com um chapéu de fazendeiro sobre a cabeça e um chicote na mão. A instituição também divulgou uma foto de uma aluna branca, que interpreta a princesa Isabel, assinando a Lei Áurea.

Professora da UFBA critica 'reencenação' da escravidão em escola

O caso ganhou visibilidade após Bárbara Carine, professora da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e autora do livro "Como ser um educador antirracista", vencedor do prêmio Jabuti 2004, publicar um vídeo criticando a abordagem escolhida pela instituição e sugerindo formas de ensino que considera mais pertinentes. 

"Tanto histórico de luta negra no Brasil e no mundo... [a escola] poderia pensar um acúmulo cultural negro, produzido e socializado em tantas esferas, mas aí o pessoal decidiu reproduzir dor na escola, decidiu reproduzir violência na escola, decidiu reproduzir protagonismo branco na escola. Não faz sentido, não faz. É falta de formação? De literatura não é", declarou.

Ela, que é idealizadora da Escola Maria Felipa, que tem o currículo centrado na cultura afro-brasileira, cita uma série de autores e movimentos negros no Brasil, como conteúdos e representações possíveis de serem abordados junto aos estudantes.

Barbara Carine recebeu o prêmio Jabuti 2024 por seu livro  livro

"A gente poderia pensar a memória do povo negro com Luiz Gama, com Luiza Mahim, com Maria Felipa, com Dragão do Mar. A gente poderia pensar a memória do povo negro com tantos ícones que lutaram na luta quilombista, abolicionista, frente negrina... com a Guarda Negra, com o Teatro Experimental do Negro, com o MNU, com a Marcha Zumbi dos Palmares, com a Marcha de Mulheres Negras para Brasília, que a gente teve ontem a segunda edição", sugere.

Ao final do vídeo, a professora recomenda que integrantes de corpos docentes estudem, para evitar a repetição de práticas semelhantes no mês da consciência negra.

Colégio afirma que repudia qualquer forma de racismo

Em nota, o Colégio Adventista de Alagoinhas declara que repudia qualquer forma de racismo e que toda a prática pedagógica é avaliada com seriedade, com o objetivo de refletir fielmente os valores que orientam a instituição. Além disso, afirma que os vídeos que circulam nas redes sociais consistem em trechos isolados da atividade pedagógica, comprometendo a compreensão integral do conteúdo trabalhado.

Leia nota do Colégio Adventista de Alagoinhas na íntegra

"O Colégio Adventista de Alagoinhas repudia qualquer forma de racismo e mantém, como valor inegociável, o compromisso com a dignidade humana, o respeito às diferenças, a igualdade e a justiça. Esses princípios estão alinhados à filosofia da Educação Adventista, fundamentada em um ensino integral, pautado em valores cristãos e humanitários.

Toda prática pedagógica é avaliada com seriedade, especialmente quando envolve questões sensíveis como relações étnico-raciais. O objetivo é refletir fielmente os valores institucionais que orientam o Colégio.

Em relação às interpretações sobre fatos históricos apresentados por alunos durante atividade pedagógica realizada no Dia da Consciência Negra, a instituição lamenta profundamente qualquer entendimento que tenha sido diferente dos valores que defende.

Vale destacar que os vídeos que circularam nas redes sociais consistem em trechos isolados da atividade pedagógica. Estão, portanto, desconectados de seu contexto completo, o que compromete a compreensão integral do conteúdo trabalhado. A circulação de recortes descontextualizados pode gerar interpretações equivocadas e contribui para a disseminação de informações imprecisas.

O Colégio Adventista de Alagoinhas, por meio de sua proposta pedagógica e dos documentos norteadores, promove o fortalecimento da consciência histórica; a valorização do povo negro; a rejeição clara de toda forma de discriminação, e uma formação cidadã ética, responsável e antirracista.

Além disso, trabalha diariamente para que seus estudantes desenvolvam visão crítica, sensibilidade social e compreensão profunda da dignidade de todas as pessoas.

Estamos à disposição dos pais e da comunidade, por meio da nossa direção, para quaisquer outros esclarecimentos sobre o assunto."

Siga a gente no InstaFacebookBluesky e X. Envie denúncia ou sugestão de pauta para (71) 99940 – 7440 (WhatsApp).

Comentários

Importante: Os comentários são de responsabilidade dos autores e não representam a opinião do Aratu On.

Nós utilizamos cookies para aprimorar e personalizar a sua experiência em nosso site. Ao continuar navegando, você concorda em contribuir para os dados estatísticos de melhoria. Conheça nossa Política de Privacidade e consulte nossa Política de Cookies.