Biblioterapia ganha espaço e chega às escolas com curso para educadores
A biblioterapia, prática que utiliza a literatura como ferramenta de acolhimento e desenvolvimento pessoal, vem conquistando mais espaço
Por Bruna Castelo Branco.
A biblioterapia, prática que utiliza a literatura como ferramenta de acolhimento, autoconhecimento e desenvolvimento pessoal, vem conquistando cada vez mais espaço no Brasil.
A jornalista Carla Sousa, autora do livro Biblioterapia & Mediação Afetuosa da Literatura, lançou recentemente o curso Biblioterapia na Educação: fundamentos, práticas e livros que acolhem no ambiente escolar.
Segundo ela, a formação é voltada a professores e profissionais da educação que desejam transformar os textos literários em instrumentos de acolhimento. “A proposta é que a literatura possa servir de apoio não apenas aos estudantes, mas também a docentes, funcionários e famílias”, afirmou.
Sete em cada dez alunos do ensino médio afirmam utilizar IA em pesquisas escolares, segundo pesquisa do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade de Informação. Apesar do amplo uso de aplicações como ChatGPT, Gemini e Copilot entre adolescentes, apenas 32% deles receberam orientações de professores sobre como utilizar estas tecnologias. Por isso, como explica Carla Sousa entender sobre a Biblioterapia se torna ainda mais importante.
O que é Biblioterapia? Confira a entrevista na íntegra:
Como explicar a Biblioterapia para quem nunca ouviu falar?
Eu gosto de dizer que é a arte de cuidar do outro por meio das palavras, seja através do texto literário, das palavras da mediadora naquele momento ou através das palavras dos participantes. Em uma prática de Biblioterapia, as histórias literárias mobilizam as histórias pessoais. É uma ferramenta de cuidado, de escuta e acolhimento, também para aprendermos a lidar com as emoções. As práticas de Biblioterapia abraçam os participantes e têm os textos literários como personagens principais. Aqui, é também importante dizer o que não é a Biblioterapia. Muita gente ao ouvir a palavra pela primeira vez acha que é terapia com o estudo da Bíblia ou algo relacionado e não é isso. Na Biblioterapia, as histórias literárias mobilizam as histórias das pessoas.
Em que capítulo da sua vida a Biblioterapia chegou para ficar?
Entre os anos de 2015 e 2017 fiz mestrado nessa área e, a partir daquele momento, decidi que iria me dedicar à Biblioterapia e disseminar a prática, para que mais pessoas e profissionais tivessem acesso a esse cuidado com o ser por meio da literatura. É uma prática tão simples e com recurso, de certa forma, acessível. Que são os livros, os textos literários que causam um impacto muito profundo na vida das pessoas.
Qual o maior aprendizado nesses mais de 10 anos trabalhando com a Biblioterapia?
O maior aprendizado é que as pessoas estão precisando de cuidado e a Biblioterapia é uma ferramenta muito poderosa para levar o cuidado às pessoas. Outro aprendizado é que a Biblioterapia serve para todas as pessoas. Eu gosto de dizer que, não importa a idade, não importa o contexto, a Biblioterapia é uma prática acessível e inclusiva.
A Biblioterapia só pode ser aplicada para as pessoas alfabetizadas?
Até quem não sabe ler e escrever pode ser beneficiado com a prática e é por isso que eu digo que a Biblioterapia é inclusiva. Mesmo utilizando o texto literário como recurso, os participantes não precisam ler para serem beneficiados. Os encontros são realizados em grupo e a leitura é feita pela mediadora ou mediador, os participantes podem simplesmente fechar os olhos e ouvir aquelas palavras. Perguntas como ‘o que você entendeu do texto?’, não são usadas na sessão. Perguntamos, apenas, o que a pessoa sentiu ao ouvir aquele texto, qual emoção veio à tona, qual pensamento e memória. É um convite para o interno, compreender como aquele texto tocou o outro. A parte racional de entender o texto e o papel dos personagens, deixamos para as aulas de Português e Literatura.
Você está se dedicando ao curso ‘Biblioterapia na Educação: fundamentos, práticas e livros que acolhem no ambiente escolar’. Como ele vai funcionar?
Agora, em setembro, estou lançando este curso, que vou ministrar em parceria com a bibliotecária Rodenir Zucatelli, que já foi minha aluna. O conteúdo é voltado para profissionais que atuam em escolas e desejam de ir além no seu fazer cotidiano. A ideia surgiu do desejo de cuidar da comunidade escolar através de um recurso que já está inserido no ambiente escolar: a literatura. Durante as aulas, vamos falar sobre esse novo olhar para a literatura, entendendo-a para além do cognitivo. Na Biblioterapia, enxergamos os livros como remédios, capazes de atuar sobre as doenças emocionais e sociais que estão muito presentes na sociedade e também impactam professores, alunos e funcionários. Levar esse recurso de cuidado para as escolas, seja na biblioteca, na sala de aula ou em projetos em diferentes espaços, é algo muito potente.
Quem pode participar do curso?
Qualquer profissional que atua em um ambiente escolar, a exemplo de bibliotecários, professores, pedagogos, psicólogas, assistentes de biblioteca. Enfim, todos que atuam dentro da escola são convidados a participar e a conhecer esse curso.
Como acontecerão as aulas?
Serão quatro aulas que acontecerão Ao Vivo. A Biblioterapia é um recurso de promoção de saúde no ambiente escolar. Mais informações através do meu Instagram ou WhatsApp.
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