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CINE PIPOCA CULT: A homossexualidade em ‘A Bela e a Fera’ e o cinema do nosso tempo

CINE PIPOCA CULT: A homossexualidade em ‘A Bela e a Fera’ e o cinema do nosso tempo

Por Da Redação

CINE PIPOCA CULT: A homossexualidade em ‘A Bela e a Fera’ e o cinema do nosso tempoReprodução Internet

Do Cine Pipoca Cult, parceiro do Aratu Online


A Bela e a Fera retorna em live action aos cinemas esta semana. Um dos filmes mais esperados do ano, com divulgação ampla que chamava a atenção desde o início pela direção de arte e semelhança com a animação de 1991. Porém, uma revelação recente mexeu com as expectativas e teve país que ameaçou até proibir a exibição da obra como a Rússia, dando classificação de 16 no final. Caso ainda não saiba o que aconteceu, os produtores revelaram que existe uma personagem gay nessa nova versão.


Nem vou entrar no mérito da homofobia, é pequeno demais para considerações. O que chama a atenção em A Bela e a Fera, assim como outras obras que trazem remakes ou mesmo continuações atualmente, é a necessidade de adaptar as histórias para novos tempos onde a diversidade é maior e a tolerância com qualquer tipo de preconceito menor. Discriminações que antes pareciam normais, foram rediscutidas e, ao contrário do que os retrógrados tentam bradar, não existe uma “tentativa” de fazer ninguém virar nada, mas apenas de compreender que as pessoas são plurais, sem precisar seguir uma regra única.


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O mundo mudou. Pode parecer chavão de anúncio publicitário, mas é verdade. A sociedade está cobrando mais direitos e se incomodando mais com injustiças. Respeito é a palavra de ordem. E os filmes, como bom reflexo da sociedade também começam a se adaptar. A Bela e a Fera é apenas um exemplo. E bem discreto, já que trata-se de uma personagem secundária, o Lefou, que se descobre apaixonado pelo vilão Gaston. E, se formos analisar bem, no desenho de 1991 ele poderia ser gay, só não se poderia falar abertamente sobre isso naquela época.


Quarteto Fantástico - filmeHá um cuidado maior nas produções atuais em lidar com diversos temas, por vezes de maneira errônea como fez a versão de 2015 do Quarteto Fantástico, que trouxe o ator Michael B. Jordan como o Tocha Humana, porém manteve sua irmã, a mulher invisível, branca, interpretada por Kate Mara tendo que criar uma justificativa no roteiro de que ela seria adotada. Até hoje me pergunto porque ela também não poderia ser interpretada por uma atriz negra. Seria muito para a cota? Ou seja, adaptar artificialmente as histórias para parecerem politicamente corretas não é o melhor caminho. Soa falso, o público reclama. Tem que ser uma mudança autêntica, uma transformação que dialoga com a sociedade atual.


Os esforços, porém, não deixam de ser válidos, vide o novo Kong que traz uma personagem feminina que não segue o estereótipo da femme fatale, nem da vítima indefesa dos filmes de ação em geral. Brie Larson vive uma fotógrafa de guerra, mulher ativa, determinada, em busca de aventuras. Até o seu figurino é coerente com uma aventura na selva, ainda que com uma camiseta que ressalta os seios, está sempre de calças folgadas e botas, sem cuidados com maquiagem ou cabelo arrumado, muito menos os vestidos que outras personagens de filmes antigos de Kong usavam. Ela também não é uma oferenda ao macaco, não é vista como um objeto, pelo contrário, suas poucas interações com o animal é de troca e reconhecimento, contrastando com a rivalidade estabelecida por outras personagens masculinas.


Brie Larson - Kong - filmeProtagonismo feminino, empoderamento, a mulher como personagem ativa na aventura. Isso é cada vez mais comum. Vide os filmes adolescentes como Jogos Vorazes, Divergente ou mesmo Harry Potter que sempre tinha Hermione como peça fundamental na luta contra Voldemort. Porém, mesmo nesses exemplo, percebe-se sempre a presença masculina dando o suporte a essa heroína que muitas vezes é a única mulher em cena, reforçando aquilo que passou a ser chamado de “Princípio de Smurfette”, em referência à única mocinha azul da vila dos Smurfs. Mesmo no já citado Kong, onde vemos duas mulheres em cena, elas não interagem em momento nenhum, mesmo estando no mesmo grupo de fuga, muitas vezes partilhando espaços pequenos, a interação delas é sempre através dos homens.


Caça-Fantasmas - filme


Esse parece ser o formato mais aceito, em uma sociedade ainda muito machista. Tanto que tentativas mais radicais como as Caça-Fantasmas sofreu boicotes pela internet, sendo o trailer mais negativado da história do Youtube e tendo sua nota em sites como o IMDB extremamente baixas, dadas por pessoas que nem tinham visto o filme ainda. Alguns podem alegar que mexeram em um “mito” e que a raiva era pelo remake em si, mas já existiram outros remakes que “destruíram” nossa memória afetiva e não foram tão rechaçados quanto este, vide o exemplo do já citado Quarteto Fantástico que, apesar de protestos dos fãs, não teve boicote organizado como aqui. Concordo que o filme exagera no estereótipo também ao colocar as quatro mulheres como protagonistas e os homens em papéis tolos, mas isso é apenas uma resposta extrema ao papel que sempre foi dado à mulher em filmes de ação.


Talvez o melhor exemplo dos novos tempos seja o recente filme Logan. Wolverine sempre foi o protótipo do macho-alfa. Extremamente forte, independente, agressivo, com um instinto animal de sobrevivência e marcação de território. Com um senso de justiça dentro dele e, no fundo, uma boa pessoa, que acaba sempre brigando com sua própria personalidade arredia para tentar se colocar em grupo e proteger os seus, é verdade. Porém, uma personagem machista que sempre viu a mulher como inferior, não por acaso ele tentava proteger Jean Grey mesmo quando ela demonstrava ser mais poderosa que ele, transformada na Fênix.


Logan - filmeEm Logan, no entanto, ele já está velho e fragilizado. Ainda consegue lutar e proteger os seus, mas acaba tendo que aceitar a ajuda de uma miniatura sua com a mesma força e poderes, inclusive as garras de adamantium. A questão é que essa personagem é uma menina. Ou seja, o filme nos mostra esse macho-alfa Wolverine passando o bastão, literalmente, para uma garotinha. É uma reconstrução de paradigmas, sem dúvidas. E muita gente já espera filmes solo de Laura, a X-23, diante da empatia construída durante a projeção. Uma transição bastante orgânica e bela. Isso não quer dizer que os homens precisem sair de cena, mas este caso não deixa de ser simbólico. Dividir espaços em igualdade é sempre o melhor caminho.


Homossexuais, transgêneros, diversidade étnicas, igualdade de gêneros. Isso é a pauta clamada na sociedade atual. Não é a “chatice” do politicamente correto como alguns reclamam. É apenas o respeito ao ser humano, suas escolhas e suas diferenças. E é isso que o cinema vem tentando demonstrar de maneira progressiva. É preciso estar atento e se adaptar aos novos tempos. Para o bem de todos. E não tenham medo de levar suas crianças para ver o novo A Bela e a Fera. Acredite, elas compreendem melhor essas questões, pois ainda não estão contaminadas pelos preconceitos da sociedade.



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