Esperançar na educação com espiritualidade
Na condição de homem negro, simpatizante das religiões de matriz africana e educador que vivencia - neste contexto pandêmico - as tensões, incertezas e o crescimento assustador do desemprego, da pobreza e da fome que atinge, de forma mais acentuada, a população negra e pobre, sinto-me instigado a estabelecer uma relação direta e indissociável entre nossas forças ancestrais e a educação. Em especial, neste mês de abril, peço licença e reverencio Oxóssi, para os candomblecistas, Òké Aro! Arolé! Senhor das matas, que na condição de caçador, a fim de garantir a sobrevivência dos seus, domina os perigos como ninguém. Sua flecha, como utensílio cultural, detém significados sociais e religiosos permitindo ao orixá exercer o domínio sobre a cultura.
Uma das funções de a educação, em especial, para a população pobre e negra, é a possibilidade de construir pontes que levem à superação das diferenças e desigualdades. Digo isso pois entende ser compreensível e necessário que as escolas estejam fechadas neste contexto pandêmico. Contudo, suas arquiteturas frias e sem cores anunciam a ausência dos seus principais autores! Estudantes, educadores, pessoal da direção, coordenação pedagógica e de apoio. Essas ausências revelam, dentre outras coisas, duas situações emblemáticas:
- O poder e a importância da educação pública - enquanto agente transformador de vidas, a ser utilizada como força motriz para superar as incertezas e construir pontes - sendo silenciados;
- A exclusão educacional, que tem sido imposta aos estudantes através da adoção de aulas, on-line, sincrônicas, assincrônicas, em ambientes que, em sua maioria, não apresentam condições materiais e estruturais para este tipo de atividade. No futuro próximo poderá se constituir em um dos maiores retrocessos educacionais da rede pública de ensino.
Além das vidas perdidas por essa pandemia, esses elementos contribuem para anunciar que o coronavírus infectou, também, a educação, cujos resultados pode contribuir para ampliar o abismo da desigualdade educacional das próximos décadas.
Diante disso, Salubá Nanã! Evoco luz e sabedoria para iluminar nossos governantes e educadores, ciente de que, no caso dos educadores, apesar da má remuneração, das estruturas sucateadas, dos desafios e lutas para superar os silêncios presentes nos currículos escolares que tentam fortalecer ideologias burguesas, são os atores responsáveis e comprometidos pela educação pública e de qualidade. Nanã, neste momento, é reconhecida como anciã do saber ancestral, que detém a calma, o silêncio, a sabedoria, a misericórdia, a evolução e cura. Que ela possa interceder por nós e rasgar os tecidos das diferentes formas de desigualdades que nos adoecem, inquietam e mata a nós e aos nossos.
É urgente pensar no outro e na educação como nos ensinou Paulo Freire: “o ensino da condição humana deveria ser o objeto essencial da educação”.
Vamos esperançar, esperançar, esperançar.... por dias melhores.
*Este material não reflete, necessariamente, a opinião do Aratu On.