Se você não escolhe, alguém escolhe por você
“Aqueles que não gostam de política serão governados por aqueles que gostam”. Esta célebre frase, muitas vezes atribuída ao filósofo Platão, resume bem um pensamento que deve ser cada vez mais disseminado: se você não participa do processo democrático, outras pessoas tomarão a decisão no seu lugar. E o que isso provoca, no fim das contas? A insatisfação generalizada com o sistema político.
Entre os jovens de 16 e 17 anos, por exemplo, cujo voto é facultativo, esse problema é bem evidente. Um levantamento realizado pela CNN com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) revelou que o número de adolescentes que fizeram o título de eleitor caiu 82% em uma década, no recorte entre 2012 e 2022. Não é por acaso que qualquer pesquisa, realizada entre pessoas de qualquer faixa etária, revela que a maioria dos brasileiros não se sente representada pelos políticos.
A conexão entre os dois fenômenos é nítida. É basicamente uma relação de causa e efeito: se a gente abre mão do direito de votar, ou até vota, mas sem estabelecer um vínculo real com os representantes, a sensação de que estamos abandonados pelos políticos é uma consequência praticamente natural. A solução, portanto, não é se afastar da política, mas ficar cada vez mais perto dela.
É muito importante, inclusive, que a participação ativa na política vá além do período eleitoral. Ter o título de eleitor regularizado e votar com consciência é uma etapa muito necessária, mas não é o bastante. O caminho para o fim do sentimento de abandono começa pelo voto, só que também depende do nosso envolvimento todos os dias. É preciso sempre estar ao lado do seu representante para que os problemas de um bairro, por exemplo, sejam identificados e solucionados.
Entendo perfeitamente toda a insatisfação que temos com aqueles políticos que só aparecem em época de eleição, prometendo mundos e fundos e depois somem. Vi isso na minha comunidade desde pequena e passei muito tempo sem gostar de política também. Mas em determinado momento percebi que só a nossa luta por mais direitos poderia colocar fim a esse sentimento e garantir as transformações necessárias na nossa comunidade.
Abrir mão de votar e acompanhar a política é, afinal, como ir a um restaurante, pedir ao garçom para trazer uma comida aleatória e depois se incomodar com o prato que ele trouxe, que talvez possa até nos provocar uma reação alérgica. A solução para isso não seria, evidentemente, deixar de comer, mas tomar para si a possibilidade de escolher aquilo que é melhor para você.
A política é preciosa demais para deixarmos na mão de terceiros. Precisamos participar, cobrar e fiscalizar. Para que ninguém tome decisões no nosso lugar.
*Este material não reflete, necessariamente, a opinião do Aratu On.