Sonhos não têm CEP
“Toda realidade antes é sonhada”. É com esta frase, que ouvi recentemente em uma música, que inicio a coluna de hoje. O motivo? Posso dizer que há dois anos, em 5 de fevereiro de 2022, demos início a uma nova realidade para as pessoas que vivem em Campinas de Pirajá, Marechal Rondon, Alto do Cabrito e Boa Vista do Lobato. Realidade essa que, até então, existia apenas nos nossos sonhos: viver com mais dignidade e desfrutar de mais oportunidades.
A materialização desse sonho ocorreu naquele dia, quando finalmente inauguramos o Centro Cultural Isabela Sousa. A partir dali, muita coisa mudou na nossa região. Uma região que, até pouco tempo atrás, estava acostumada a lidar com o descaso e com o esquecimento. Agora, além dos benefícios que podemos ver de forma prática graças aos serviços e atividades que oferecemos, eu costumo dizer que o Centro Cultural também nos deu uma contribuição simbólica muito importante.
Ainda vivemos em um mundo no qual o lugar onde nascemos diz muito sobre as oportunidades que teremos ao longo da vida. O famoso físico e divulgador científico Neil DeGrasse Tyson certa vez disse que “talvez o próximo Einstein esteja morrendo de fome na Etiópia”. Infelizmente, é algo verdadeiro. Mas não precisamos ir muito longe. Quantos de nós já não conhecemos alguém que parecia ter um potencial imenso, só que infelizmente não teve acesso às oportunidades certas?
Nas periferias do nosso país, formadas sob um contexto de profundas desigualdades, as coisas ainda operam dessa forma. Algo que parece comum e trivial para algumas pessoas é, nas favelas, um luxo inalcançável. Sempre cito o meu exemplo, já que, até os meus 14 anos, o maior sonho da minha vida era viajar de avião. As coisas ainda não são muito diferentes entre as crianças de hoje, mas aos poucos o nosso trabalho está transformando essa realidade.
Acima de qualquer auxílio material que garantimos a milhares de famílias, algo que também é fundamental, queremos tornar cada pessoa protagonista da sua própria história. Por isso, defendemos que sonhos não têm CEP – ou não devem ter, ainda que o contexto social do nosso mundo, por enquanto, não reflita isso. Os sonhos são a mola propulsora para qualquer mudança real e efetiva, e a maior violência de todas ocorre quando as pessoas são impedidas de sonhar. Devolver esse direito a elas é o princípio que move cada esforço nosso, cada projeto, cada iniciativa.
Se você está aqui, saiba que de algum modo também faz parte disso. O Centro Cultural é um sonho coletivo que só saiu do papel graças ao apoio de muita gente. Neste segundo aniversário do maior projeto que já vimos na região, eu só tenho a agradecer a cada pessoa que caminha comigo e que está mostrando que sonhar é possível – e preciso. Foi acreditando que sonhos não têm CEP que chegamos até aqui, e é assim que vamos seguir na luta para reaproximar as pessoas de seus desejos e ajudar a transformá-los em realidade. Gratidão!