Comer ou n&atilde;o comer a carne? Gozar ou n&atilde;o gozar dos prazeres da carne? A carne vale? Quanto vale a carne? Contam por a&iacute; que Deus moldou o barro at&eacute; este se tornar carne em suas m&atilde;os. H&aacute; quem literalize esse mito sobre a origem da humanidade, h&aacute; quem o veja como s&iacute;mbolo, como narrativa e alegoria que desenha na nossa imagina&ccedil;&atilde;o o nascimento da nossa ra&ccedil;a &ndash; a humana. &nbsp;
Lembro que, quando eu era pequena, uma das coisas que eu mais amava era brincar com a terra, o barro e a areia molhada da beira do mar. Brincar com o que d&aacute; para moldar. Lembro da sensa&ccedil;&atilde;o de modelar a massa disforme com minhas m&atilde;os e dali surgir algum ser, que nunca se transformou em carne nas minhas m&atilde;os. Transformar barro em carne &eacute; proeza exclusiva de Deus, mas me parece que, quando uma crian&ccedil;a brinca com o barro, ela chega bem perto da natureza criadora que molda entre os dedos a criatura. H&aacute; na crian&ccedil;a, assim como h&aacute; na natureza, o divino, o espontaneamente divino. &nbsp;
Voltando para a carne, vamos falar mais sobre ela, aquela que &eacute; retirada da boca dos homens no per&iacute;odo da Quaresma como forma de limpar o corpo (que, por ironia, tamb&eacute;m &eacute; carne) para se preparar para a P&aacute;scoa, a ressurrei&ccedil;&atilde;o de Cristo. O calend&aacute;rio cat&oacute;lico se faz nessa ordem: Carnaval, Quaresma e P&aacute;scoa. A festa da carne, a retirada da carne como prepara&ccedil;&atilde;o para a ressurrei&ccedil;&atilde;o e, enfim, a ressurrei&ccedil;&atilde;o. &nbsp;
Dito isso, eu me pergunto: desde quando a carne passou a ser um problema para a ascens&atilde;o? Desde quando a carne passou a ser um s&iacute;mbolo do impuro, daquilo que n&atilde;o pode habitar o sagrado? Separar a carne (enquanto s&iacute;mbolo) do sagrado foi um dos maiores equ&iacute;vocos cometidos por uma pequena parcela poderosa da humanidade. Os homens autodeclarados porta-vozes dos ideais crist&atilde;os nos disseram: a carne &eacute; profana e nela n&atilde;o habita o sagrado. &nbsp;
Da&iacute; passamos a associar o impuro &agrave; carne e a enxergar os prazeres da carne como impuros. Pois ent&atilde;o eu lhe digo a Boa Nova: a impureza n&atilde;o est&aacute; na carne. A sujeira, o veneno est&atilde;o nos modos como habitamos a carne, pois n&atilde;o h&aacute; sagrado que n&atilde;o seja experimentado no pr&oacute;prio barro que &eacute; o nosso corpo de carne. &nbsp;
A &ldquo;minha carne &eacute; de Carnaval&rdquo;, e n&atilde;o h&aacute; quem me tire dela. A briga entre o Carnaval e a Quaresma &eacute; a luta entre a carne e o esp&iacute;rito. Mas quem disse que um est&aacute; contra o outro? A Hist&oacute;ria tem a resposta: a Igreja Cat&oacute;lica disse e repetiu isso ao longo dos s&eacute;culos. Uma mentira contada muitas vezes vai sendo internalizada como uma verdade. &nbsp;
&Eacute; dessa cis&atilde;o oligofr&ecirc;nica que nasceu o imagin&aacute;rio de termos que &ldquo;lutar contra a carne&rdquo;. Se n&oacute;s somos carne, n&atilde;o temos que lutar contra ela, pelo contr&aacute;rio. N&oacute;s temos que habit&aacute;-la com consci&ecirc;ncia, n&oacute;s n&atilde;o precisamos neg&aacute;-la. O convite &eacute; honr&aacute;-la, habit&aacute;-la sabendo do seu car&aacute;ter perec&iacute;vel e, ao mesmo tempo, divino. A carne cont&eacute;m o &eacute;ter. &nbsp;
Acreditar que a carne &eacute; suja e pecaminosa &eacute; um modo disfuncional de habitar a crueza visceral que &eacute; ser humano. Isso n&atilde;o funciona. Seus efeitos s&atilde;o a quebra artificial do que &eacute; uno: carne e esp&iacute;rito, um contendo o outro. &nbsp;
<img src="https://adm.aratuon.com.br/assets/8b85be90-b9cf-458b-a543-63834105539b.jpg?width=1558&amp;height=876" alt="">
O Carnaval, festa popular que atrai cerca de 53 milh&otilde;es de pessoas em todo o Brasil, tem suas origens nos festivais pag&atilde;os primitivos de s&eacute;culos atr&aacute;s, tendo evolu&iacute;do depois para as festas dos antigos romanos, antes de o cristianismo se tornar a religi&atilde;o oficial do Imp&eacute;rio Romano. O Carnaval foi incorporado no calend&aacute;rio cat&oacute;lico e, olhando bem para a ordem das coisas, n&atilde;o &eacute; curioso vir primeiro o Carnaval, depois a Quaresma e, ent&atilde;o, a P&aacute;scoa? &nbsp;
Primeiro desce para a carne, depois tira a carne e, depois, ressuscita. Vai para o impuro, purifica, eleva. A palavra &ldquo;Carnaval&rdquo; vem do latim carnelevarium, que quer dizer algo como remover ou retirar a carne. Mas, por ironia, &eacute; justamente no Carnaval que encarnamos a carne em suas mil e uma formas e jeitos. &nbsp;
Sabe aquela express&atilde;o &ldquo;p&atilde;o e circo&rdquo; (panis et circenses)? Essa frase &eacute; atribu&iacute;da a Juvenal, um poeta romano que, em suas S&aacute;tiras, no final do primeiro s&eacute;culo da era crist&atilde;, trouxe uma cr&iacute;tica &agrave; estrutura social da &eacute;poca. &nbsp;
Ao longo dos anos, essa express&atilde;o foi sendo usada de muitas formas, principalmente no campo da pol&iacute;tica. Eu a trago aqui para dizer que n&oacute;s precisamos de p&atilde;o (comida), n&oacute;s precisamos de circo (divers&atilde;o) e n&oacute;s somos carne (festejar no corpo). &nbsp;
O homo ludens, o homem l&uacute;dico, express&atilde;o cunhada pelo linguista holand&ecirc;s Johan Huizinga, &eacute; esse homem que brinca, festeja, goza, gargalha e dan&ccedil;a. &Eacute; o homem que mant&eacute;m vivo em si o seu puer (crian&ccedil;a), sem perder de vista o seu senex (adulto). O que seria da corte sem o buf&atilde;o, o bobo, aquele que era pago para divertir o rei? &nbsp;
Sim, a carne vale, e divers&atilde;o &eacute; para ser levada a s&eacute;rio, como dizia em alto e bom tom o g&ecirc;nio brincante Chico Science. O Carnaval &eacute; a catarse coletiva em riso, choro, gozo e suor. &Eacute; o rito de passagem alegre para o novo ano, que finalmente se inicia. &Eacute; o respiro que diz que vamos iniciar celebrando, pulando e cantando &ndash; tudo junto. &nbsp;
A carne vale, e vale muito. Habit&aacute;-la no Carnaval &eacute; um exerc&iacute;cio de integra&ccedil;&atilde;o dos polos que nunca deveriam ter sido separados. Afinal, j&aacute; dizia o mestre: &ldquo;Assim na terra como no c&eacute;u&rdquo;. Assim na carne, como no esp&iacute;rito. Assim em cima, como embaixo. Deus n&atilde;o habita em cima, nem embaixo. Ele habita o entre. J&aacute; o Diabo, divide. &nbsp;
Pois bem, seja nas ruas, nas encruzilhadas, nos retiros ou nas matas, a carne vale. A sua carne vale. Habite-a e festeje-a. Ela &eacute; t&atilde;o perec&iacute;vel quanto sagrada. &nbsp;
Ontem foi Quarta-Feira de Cinzas. Hoje o ano finalmente se inicia. Celebremos a carne que continuamos habitando em cada dia do extraordin&aacute;rio cotidiano reprodutivo e criativo de nossas t&atilde;o sagradas quanto profanas vidas. &nbsp;
(Agora, j&aacute; no fim dessa conversa, me lembro novamente do barro. Certa vez, eu vi um menino brincando, moldando barro na beira do rio Almada, no sul da Bahia. Eu olhei e vi. Eu n&atilde;o sei exatamente dizer como isso aconteceu, mas, em suas m&atilde;os, estava Deus).
<img src="https://adm.aratuon.com.br/assets/b3bd96dc-da3f-4f89-9c70-15c7aff35f6a.jpg?width=1920&amp;height=1097" alt="Imagem feita com IA">
*Este material n&atilde;o reflete, necessariamente, a opini&atilde;o do Aratu On

Estamos de volta ao nosso espa&ccedil;o no Aratu On, com o prop&oacute;sito de seguir divulgando a filosofia da consci&ecirc;ncia cidad&atilde; participativa transformadora. E nesta nossa primeira reflex&atilde;o, o destaque &eacute; o Projeto de Lei de Iniciativa Popular Via Cidad&atilde;, que lancei em dezembro do ano passado, com a proposta de aumentar as dedu&ccedil;&otilde;es no Imposto de Renda para as doa&ccedil;&otilde;es realizadas por Pessoas Jur&iacute;dicas a entidades beneficentes do Terceiro Setor nas &aacute;reas de sa&uacute;de, educa&ccedil;&atilde;o e assist&ecirc;ncia social.
Com a mensagem "Salvar vidas n&atilde;o tem pre&ccedil;o, a solidariedade n&atilde;o pode ser tributada", o PL tem o compromisso de ampliar e proteger as doa&ccedil;&otilde;es feitas a institui&ccedil;&otilde;es filantr&oacute;picas de todo Brasil que possuam o Certificado de Entidade Beneficente de Assist&ecirc;ncia Social (CEBAS), emitido pelos Minist&eacute;rios da Sa&uacute;de, do Desenvolvimento Social e Agr&aacute;rio e da Educa&ccedil;&atilde;o, que desempenham papel fundamental para o cuidado, a dignidade humana e melhoria na qualidade de vida das pessoas que mais precisam.
Assim, criamos um projeto de lei popular b&aacute;sico e simples, para que seja facilmente compreendido, j&aacute; que o acesso aos cuidados com a sa&uacute;de e &agrave; assist&ecirc;ncia &eacute; uma necessidade de todos. Um direito que, mesmo estando garantido na nossa Constitui&ccedil;&atilde;o Federal, n&atilde;o &eacute; oferecido &agrave; popula&ccedil;&atilde;o com a devida efici&ecirc;ncia. E o mais preocupante ainda &eacute; que muita gente n&atilde;o se d&aacute; conta disso, e acaba aceitando apaticamente essa realidade. Por isso, precisamos conscientizar, participar e transformar.
<img src="https://adm.aratuon.com.br/assets/014b57d1-dbb7-42ff-9d01-1ca0fda12c45.png?width=700&amp;height=394" alt="Imagem: reprodu&ccedil;&atilde;o/Movimento Via Cidad&atilde;">
As assinaturas s&atilde;o realizadas no portal <a href="participe.movimentoviacidada.com.br" target="_blank" rel="noopener">participe.movimentoviacidada.com.br</a>, onde tamb&eacute;m &eacute; poss&iacute;vel conhecer todos os detalhes do Projeto de Lei. Cada assinatura &eacute; uma contribui&ccedil;&atilde;o para refor&ccedil;ar valores constitucionais e tamb&eacute;m para ampliar o alcance de a&ccedil;&otilde;es sociais em benef&iacute;cio da popula&ccedil;&atilde;o, promovendo a justi&ccedil;a social e o fortalecimento das institui&ccedil;&otilde;es que atuam no interesse p&uacute;blico.
O nosso Projeto de Lei est&aacute; alinhado &agrave; miss&atilde;o do Via Cidad&atilde;, um movimento nacional de conscientiza&ccedil;&atilde;o e participa&ccedil;&atilde;o criado pela Funda&ccedil;&atilde;o Paulo Cavalcanti, que busca a transforma&ccedil;&atilde;o socioecon&ocirc;mica do Brasil a partir do exerc&iacute;cio da democracia participativa, de modo estrat&eacute;gico, com atitude e a&ccedil;&atilde;o. Al&eacute;m disso, a medida cria um ambiente favor&aacute;vel para o fortalecimento do Terceiro Setor, promovendo uma rede de apoio que pode gerar empregos e desenvolver projetos inovadores.
Precisamos estimular o amadurecimento da intelig&ecirc;ncia cidad&atilde;, para que todos os brasileiros entendam o poder que eles possuem. O poder emana do povo e a democracia participativa tamb&eacute;m precisa ser plenamente exercida. As pessoas t&ecirc;m vontade, mas n&atilde;o sabem expressar essa vontade dentro de um Estado democr&aacute;tico de direito, que na verdade muita gente nem sabe do que se trata. &nbsp;Ent&atilde;o, vamos come&ccedil;ar a ensinar ao povo brasileiro sobre os seus direitos, faz&ecirc;-los despertar a autoestima cidad&atilde; e, assim, poder efetivamente ter a certeza de que t&ecirc;m capacidade de participar da transforma&ccedil;&atilde;o positiva da nossa na&ccedil;&atilde;o.
*Este material n&atilde;o reflete, necessariamente, a opini&atilde;o do Aratu On

A perda de seguidores após uma revelação religiosa pode ser encarada como um verdadeiro livramento divino. Aqueles que se afastam de nós nesse momento estão apenas mostrando que não estavam verdadeiramente alinhados com nossos valores e crenças mais profundas. É preciso compreender que, muitas vezes, o afastamento de algumas pessoas é necessário para que possamos nos conectar de forma mais autêntica e significativa com aqueles que verdadeiramente nos apoiam e nos compreendem em nossa jornada espiritual.
Eu sou profundamente feliz com as escolhas que fiz em relação à minha religião, a fé que me rege e as pessoas que fazem parte da minha vida. Cada experiência e cada desafio contribuíram para minha jornada de crescimento espiritual e autoconhecimento.
Diante disso, convido você a refletir sobre como devemos nos comportar com nossas escolhas: Será que estamos sendo autênticos em nossas crenças e valores? Estamos rodeados por pessoas que nos apoiam e nos aceitam verdadeiramente? Estamos dispostos a abrir mão daqueles que não compartilham de nossa visão de mundo em prol de nossa própria felicidade e autenticidade?
Que possamos seguir em frente com gratidão, abertos para novas conexões e oportunidades que estejam alinhadas com nossa verdadeira essência. Lembre-se de que a jornada espiritual é única e pessoal, e devemos nos cercar de pessoas que estejam verdadeiramente alinhadas com nosso caminho e propósito. Que possamos ser fiéis a nós mesmos, respeitando nossas escolhas e vivendo de acordo com nossa verdade interior.
VEJA TAMBÉM: <a href="https://aratuon.com.br/tvaratu/2024-05-14/intolerancia-ate-quando-anitta-perde-mais-de-200-mil-seguidores-ao-anunciar-nova-musica/" target="_blank" rel="noopener">Intolerância até quando?: Anitta perde mais de 200 mil seguidores ao anunciar nova música</a>

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<div class="embed-responsive">*Este material não reflete, necessariamente, a opinião do Aratu On</div>
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“Aqueles que não gostam de política serão governados por aqueles que gostam”. Esta célebre frase, muitas vezes atribuída ao filósofo Platão, resume bem um pensamento que deve ser cada vez mais disseminado: se você não participa do processo democrático, outras pessoas tomarão a decisão no seu lugar. E o que isso provoca, no fim das contas? A insatisfação generalizada com o sistema político.
Entre os jovens de 16 e 17 anos, por exemplo, cujo voto é facultativo, esse problema é bem evidente. Um levantamento realizado pela CNN com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) revelou que o número de adolescentes que fizeram o título de eleitor caiu 82% em uma década, no recorte entre 2012 e 2022. Não é por acaso que qualquer pesquisa, realizada entre pessoas de qualquer faixa etária, revela que a maioria dos brasileiros não se sente representada pelos políticos.
A conexão entre os dois fenômenos é nítida. É basicamente uma relação de causa e efeito: se a gente abre mão do direito de votar, ou até vota, mas sem estabelecer um vínculo real com os representantes, a sensação de que estamos abandonados pelos políticos é uma consequência praticamente natural. A solução, portanto, não é se afastar da política, mas ficar cada vez mais perto dela.
É muito importante, inclusive, que a participação ativa na política vá além do período eleitoral. Ter o título de eleitor regularizado e votar com consciência é uma etapa muito necessária, mas não é o bastante. O caminho para o fim do sentimento de abandono começa pelo voto, só que também depende do nosso envolvimento todos os dias. É preciso sempre estar ao lado do seu representante para que os problemas de um bairro, por exemplo, sejam identificados e solucionados.
Entendo perfeitamente toda a insatisfação que temos com aqueles políticos que só aparecem em época de eleição, prometendo mundos e fundos e depois somem. Vi isso na minha comunidade desde pequena e passei muito tempo sem gostar de política também. Mas em determinado momento percebi que só a nossa luta por mais direitos poderia colocar fim a esse sentimento e garantir as transformações necessárias na nossa comunidade.
Abrir mão de votar e acompanhar a política é, afinal, como ir a um restaurante, pedir ao garçom para trazer uma comida aleatória e depois se incomodar com o prato que ele trouxe, que talvez possa até nos provocar uma reação alérgica. A solução para isso não seria, evidentemente, deixar de comer, mas tomar para si a possibilidade de escolher aquilo que é melhor para você.
A política é preciosa demais para deixarmos na mão de terceiros. Precisamos participar, cobrar e fiscalizar. Para que ninguém tome decisões no nosso lugar.
*Este material não reflete, necessariamente, a opinião do Aratu On.

“Toda realidade antes é sonhada”. É com esta frase, que ouvi recentemente em uma música, que inicio a coluna de hoje. O motivo? Posso dizer que há dois anos, em 5 de fevereiro de 2022, demos início a uma nova realidade para as pessoas que vivem em Campinas de Pirajá, Marechal Rondon, Alto do Cabrito e Boa Vista do Lobato. Realidade essa que, até então, existia apenas nos nossos sonhos: viver com mais dignidade e desfrutar de mais oportunidades.
A materialização desse sonho ocorreu naquele dia, quando finalmente inauguramos o Centro Cultural Isabela Sousa. A partir dali, muita coisa mudou na nossa região. Uma região que, até pouco tempo atrás, estava acostumada a lidar com o descaso e com o esquecimento. Agora, além dos benefícios que podemos ver de forma prática graças aos serviços e atividades que oferecemos, eu costumo dizer que o Centro Cultural também nos deu uma contribuição simbólica muito importante.
Ainda vivemos em um mundo no qual o lugar onde nascemos diz muito sobre as oportunidades que teremos ao longo da vida. O famoso físico e divulgador científico Neil DeGrasse Tyson certa vez disse que “talvez o próximo Einstein esteja morrendo de fome na Etiópia”. Infelizmente, é algo verdadeiro. Mas não precisamos ir muito longe.  Quantos de nós já não conhecemos alguém que parecia ter um potencial imenso, só que infelizmente não teve acesso às oportunidades certas?
Nas periferias do nosso país, formadas sob um contexto de profundas desigualdades, as coisas ainda operam dessa forma. Algo que parece comum e trivial para algumas pessoas é, nas favelas, um luxo inalcançável. Sempre cito o meu exemplo, já que, até os meus 14 anos, o maior sonho da minha vida era viajar de avião. As coisas ainda não são muito diferentes entre as crianças de hoje, mas aos poucos o nosso trabalho está transformando essa realidade.
Acima de qualquer auxílio material que garantimos a milhares de famílias, algo que também é fundamental, queremos tornar cada pessoa protagonista da sua própria história. Por isso, defendemos que sonhos não têm CEP – ou não devem ter, ainda que o contexto social do nosso mundo, por enquanto, não reflita isso. Os sonhos são a mola propulsora para qualquer mudança real e efetiva, e a maior violência de todas ocorre quando as pessoas são impedidas de sonhar. Devolver esse direito a elas é o princípio que move cada esforço nosso, cada projeto, cada iniciativa.
Se você está aqui, saiba que de algum modo também faz parte disso. O Centro Cultural é um sonho coletivo que só saiu do papel graças ao apoio de muita gente. Neste segundo aniversário do maior projeto que já vimos na região, eu só tenho a agradecer a cada pessoa que caminha comigo e que está mostrando que sonhar é possível – e preciso. Foi acreditando que sonhos não têm CEP que chegamos até aqui, e é assim que vamos seguir na luta para reaproximar as pessoas de seus desejos e ajudar a transformá-los em realidade. Gratidão!

Na minha última coluna de 2023, escrevi sobre o sentimento de gratidão que o mês de dezembro nos convida a expressar, já que é o momento de agradecer por tudo de bom que aconteceu. Já agora, em janeiro, sinto que é o momento perfeito para renovarmos a nossa fé, projetando o futuro com muito otimismo. Basta pensar nas inúmeras metas e planos que todos nós elaboramos nesta época do ano! Ainda que nem todos eles saiam do papel, certamente nos motivam para o início do novo ciclo.
Para mim, há um motivo em particular que torna este mês muito especial: foi em janeiro de 2022 que demos os últimos acabamentos nas obras do Centro Cultural Isabela Sousa, inaugurado oficialmente na primeira semana de fevereiro. Foi um dos momentos mais especiais da minha vida e que trouxe uma energia maravilhosa para aquele ano, que ainda reservou outros eventos super marcantes, como a nossa posse na Câmara Municipal.
Refletir sobre esse processo, que contou com o apoio de incontáveis amigos e parceiros, é uma espécie de rito que reforça o porquê da nossa luta e me faz ter a convicção de que estamos no caminho certo. Toda a transformação que
promovemos na comunidade parecia impossível há alguns anos, mas se tornou possível à medida que passamos a acreditar que o futuro poderia ser completamente diferente de tudo aquilo que a gente já tinha visto!
Outro aspecto que torna este mês tão carregado de fé diz respeito às tradições de Salvador! Quer um exemplo? A Lavagem do Bonfim, que inaugura o nosso calendário anual de grandes eventos e traz consigo toda a espiritualidade e boas vibrações que tem direito. Neste ano, estive no cortejo acompanhada por centenas de amigos, e fizemos uma festa linda! Um dia para guardar na memória e para abrir o ano da melhor maneira possível.
Saindo do mês de janeiro, mas ainda dentro desse contexto, outro exemplo é a Festa de Iemanjá. No segundo dia de fevereiro, esta se torna mais uma demonstração da espiritualidade que nos acompanha desde que nos entendemos
por gente! Um tipo de espiritualidade que só se encontra no povo baiano, graças à diversidade e ao sincretismo que temos por aqui, e que mostra para o mundo inteiro a riqueza cultural da nossa gente.
Nada disso ocorre por acaso: a fé, desde os primórdios da espécie humana, exerce um papel central na forma como vivemos e nos organizamos coletivamente. E não me refiro à fé necessariamente em um sentido religioso, mas ela em todas as suas variações possíveis. Qualquer sonho ou meta que temos é, essencialmente, um ato de fé. Acreditar que o amanhã será melhor que o hoje é o que nos move e sempre nos moveu!
Os Racionais MCs já cantaram que o “pensamento é a força criadora”, e eu penso que é bem por aí mesmo! Sem a esperança de que as coisas podem ser melhores no futuro, nenhuma luta tem sentido. O mundo só muda quando acreditamos que ele pode mudar. Por isso, espero que esse início de 2024 seja, para todos nós, acompanhado por muita fé. Não tenho dúvidas de que, assim, o futuro nos proporcionará momentos extraordinários! Que assim seja!
*Este material não reflete, necessariamente, a opinião do Aratu On.

O fim do ano chegou e, com ele, ressurge aquele espírito de olhar para tudo o que foi feito ao longo de 365 dias e começar planejar o que pode ser melhor a partir do próximo dia primeiro. Para mim, é realmente encantador como as coisas parecem mudar em dezembro. Sinto que é o momento do ano que mais nos permite tomar um fôlego para refletir sobre a vida e, principalmente, agradecer.
Existem pessoas que acham besteira, mas é inegável o poder simbólico presente em todo processo de virada de ano. Nós, coletivamente, o encaramos como a oportunidade para resetar determinados hábitos e dar início a outros, quase como um renascimento. Seja em um caderninho, no celular ou apenas na mente, fato é que cada pessoa elabora e registra os seus próprios objetivos para o novo ciclo.
Confesso que a minha lista inicial de metas sempre vai se ajustando e se adaptando com o passar dos meses (para a galera dos signos, vale destacar que sou geminiana!). Mas, honestamente, penso que é normal que seja desta forma e
acredito que muita gente pode se identificar, já que a maior parte das circunstâncias que afetam nossas vidas não estão sob o nosso controle. Então, para mim, o mais importante é preservar o princípio por trás de cada meta, e não a meta em si.
Ao longo dos últimos 12 meses, passada a correria que foi 2022, tive a oportunidade de contemplar melhor o trabalho que venho desempenhando ao lado de tanta gente boa pelas comunidades de Salvador. Essa luta que eu travo diariamente, e que tive a honra de compartilhar um pouco aqui nas minhas colunas, não é uma luta que se trava sozinha. E se posso deixar um conselho para você que me lê, é esse: cerque-se de quem sonha o mesmo sonho que você. O valor disso é imensurável.
Quem já me conhece sabe, mas nunca é demais lembrar: todo esse esforço para transformar vidas só se tornou possível graças a uma oportunidade que eu tive em 2014, no meu ensino médio. O sonho de viajar de avião me levou a Brasília para o Parlamento Jovem Brasileiro. Foi lá, representando a Bahia como deputada jovem, que percebi o valor de lutar por um sonho coletivo. Agradeço por isso até hoje. Desde então, minha vida pode ser definida pelo encontro com as pessoas certas, nos lugares certos e na hora certa. Se eu, a “menina de Campinas de Pirajá”, tive a chance de me tornar a vereadora mais jovem de Salvador há cerca de um ano e meio, foi graças a todas as pessoas que atravessaram minha trajetória e que se juntaram a mim nessa luta em busca daquilo que parecia improvável: levar mais dignidade a quem vive nas periferias da nossa cidade.
Já foi documentado por inúmeros poetas que o caminho é mais importante do que o destino. Não posso discordar de uma vírgula desse pensamento. Afinal, é o “caminho” que se faz presente no nosso dia a dia e que nos proporciona os
momentos em que verdadeiramente percebemos a importância de trabalhar em torno de um propósito. O “caminho” significa, no fim das contas, estar do lado das pessoas por quem eu tanto trabalho. É olhar no olho de cada uma delas e sentir o valor de cada sonho, de cada história, de cada vivência.
Por tudo isso, não poderia escrever sobre outro tema na minha última coluna de 2023. Foi mais um ano em que tive a honra de celebrar muitas conquistas para as nossas periferias, além de refletir muito sobre o futuro que a nossa gente precisa. É um ciclo que se fecha repleto de gratidão pelas coisas que foram feitas e com a convicção de que, daqui há um ano, voltarei para escrever outro texto ainda mais grata pelo que está por vir e pelas pessoas que nunca deixaram de acreditar nos mesmos sonhos que eu.
Desejo que o final de ano de cada um seja repleto de prosperidade e que não falte a ninguém nada daquilo que é mais essencial. A você, que me acompanhou em mais uma jornada de 365 dias, só posso dizer um “muito obrigada” do fundo do meu coração! Espero que possamos ampliar essa onda de gratidão neste fim de ano, porque agradecer engrandece. Nos vemos em 2024!
*Este material não reflete, necessariamente, a opinião do Aratu On.

A chegada do mês de novembro marca o aumento dos debates em torno da temática racial no nosso país. Afinal, este é o mês em que celebramos o Dia da Consciência Negra, símbolo da luta do povo negro desde os tempos de escravidão, e que tem uma importância, na minha opinião, cada vez mais reconhecida. Para quem vive nas favelas da cidade mais preta fora da África, é o momento de refletir sobre uma luta perene, que merece ser valorizada sempre.
O surgimento das periferias brasileiras está indissociado da questão racial. Isso porque o processo de favelização começa a ocorrer justamente no final do século XIX, depois que a escravidão foi legalmente abolida no país. Como esse marco não veio acompanhado de um processo de reparação e justiça social, as pessoas que eram escravizadas se viram, ali, completamente à margem de qualquer política pública que lhes concedesse educação, saúde, emprego e, óbvio, moradia.
Desde então, são nas favelas onde vivem grande parte das pessoas negras aqui no Brasil. Um dos estudos mais recentes, do Instituto Locomotiva, divulgou no ano de 2021 que 67% dos habitantes de regiões periféricas são pretos e pardos. Na prática, isso significa que, a cada três moradores de uma favela, dois são negros. Aqui em Salvador, cuja população negra ultrapassa os 82%, tenho certeza que o número é ainda maior. Com base na minha vivência, arrisco dizer que passa de 90%.
Todos esses números, somados ao preâmbulo histórico, são fundamentais para afirmar uma coisa: as periferias brasileiras são negras. É impossível debater negritude no Brasil sem debater a questão das favelas, e vice-versa. Portanto, não tenho dúvidas de que a luta por mais direitos e dignidade em cada quebrada também é, no fundo, uma das formas mais contundentes de combater o racismo.
A luta antirracista, na minha concepção, passa por romper uma série de aspectos históricos e estruturais que fazem, por exemplo, as favelas caírem no esquecimento ou, ainda pior, nos estereótipos. Isso não acontece em vão: um ciclo vicioso faz com que esses lugares sejam estigmatizados pelas pessoas e, assim, passem a ser relegados pelo Estado. E, como saímos de um modelo de país escravocrata, as nossas vidas são vistas como menos importantes.
Quem mora em comunidade sabe como esse é o tipo de lugar que reúne muito talento e potência. Não é à toa que daqui saem grandes atletas, músicos e, cada vez mais, referências das mais diferentes áreas do conhecimento. Durante muito tempo, no entanto, o que chegava para nós eram apenas as migalhas, e os resquícios desse passado de desprezo ainda ecoam por aqui. Pouco a pouco, temos conseguido mudar essa realidade.
Para mim, sempre ficou evidente que eu tinha que lutar pelas pessoas das periferias porque existem duas dimensões de violência que precisam ser superadas: a primeira é a dimensão física, que demanda a nossa defesa por moradias mais dignas, saneamento básico, mobilidade, etc. Essa é uma dimensão sempre muito urgente porque diz respeito à sobrevivência. Só que não podemos deixar de lembrar de uma segunda dimensão dessa luta, que é mais subjetiva.
A dimensão subjetiva diz respeito, basicamente, ao que eu sempre chamo de “direito de sonhar”. Tudo que escrevi até agora faz parte de um contexto que leva as pessoas de comunidade a terem a autoestima cortada pela raiz. Mas não me refiro à autoestima apenas no sentido estético, e sim em um sentido mais amplo, que trata das possibilidades e dos horizontes que cada um pode vislumbrar.
Na minha adolescência, por exemplo, o meu maior sonho era viajar de avião, e eu só consegui realizá-lo em pouco tempo graças a uma oportunidade muito rara dentro da minha realidade. Foi ao realizar esse sonho que eu percebi que poderia sonhar com algo ainda maior e, principalmente, contribuir para que outras pessoas também possam. Caso contrário, eu provavelmente estaria sonhando em viajar de avião até hoje, e sem os recursos necessários.
É por isso que todo o meu trabalho é pautado não apenas no presente, mas também no futuro. Desde a fundação do Centro Cultural Isabela Sousa, intensificamos as nossas ações com as crianças da periferia, justamente para não permitir que as circunstâncias históricas do nosso país levem elas a crer que é impossível sonhar. Hoje, temos meninos e meninas que querem ser médicos, advogados, artistas e até presidentes. E, ao garantir condições de estudo, lazer e cidadania, temos levado a sério a missão de mostrar que eles de fato podem.
Voltando à reflexão que intitula esta coluna, é impossível desconsiderar que toda essa luta é intrínseca à questão racial. Viver nas periferias é lidar diariamente com as contradições de um país potente, mas que ainda precisa encarar com honestidade as heranças de um passado escravista, que fundamenta o racismo estrutural até hoje e que faz as nossas favelas serem tratadas da forma que são.
Por esse motivo, não deixo de trabalhar um minuto sequer e celebro, com muita serenidade, cada melhoria que conquistamos, por menor que possa parecer. Ao final de cada dia, agradeço pelas oportunidades que tive e que me permitem, hoje, buscar avanços na vida de tanta gente das periferias soteropolitanas. Dia após dia, de grão em grão, sei que isso contribui para diminuir a chaga do racismo.
*Este material não reflete, necessariamente, a opinião do Aratu On.

Quando falamos dos diques de Salvador, logo nos vem à mente o Dique do Tororó, famoso pela sua proximidade com a Arena Fonte Nova e por ser um espaço com muitas opções de lazer para a família. Mas aqui perto, no Alto do Cabrito, existe um dique com o potencial de ser tão atrativo quanto o seu "primo rico" localizado na zona central da nossa cidade. Para isso, no entanto, ele precisa ser melhor cuidado.

O Dique do Cabrito está situado entre os bairros do Alto do Cabrito e Marechal Rondon, em uma área de convergência para os moradores da região, e também costuma receber gente de Campinas de Pirajá, Boa Vista do Lobato e Pirajá. Sua extensão de mais de três quilômetros o torna um ótimo local para caminhadas e corridas matinais ou noturnas, atividade que eu e meus familiares costumamos fazer, inclusive. Mas quem conhece o local sabe que isso é muito pouco perto do que ele poderia ser.

A história da Bahia passa por essa região. Cabrito e Pirajá, por sinal, são citados no hino do nosso estado. Isso porque algumas das principais batalhas da Independência ocorreram por aqui e foram fundamentais para a expulsão das tropas portuguesas em 2 de julho de 1823. Por esse motivo, também acredito que há um potencial turístico, cultural e econômico que está sendo subaproveitado, já que esse é um destino que foge do roteiro de pessoas de outros cantos da cidade.

Falando em potencial econômico, lembro que há cerca de 15 anos, era comum a prática da pesca no dique. Moradores costumavam pescar os peixes logo no comecinho da manhã, para que eles pudessem ser vendidos fresquinhos pouco antes do almoço. Isso não só gerava renda para as pessoas da própria região, como também representava uma opção financeiramente mais acessível de alimentação para as famílias mais carentes. Hoje, com o abandono do Estado, o dique está sendo aterrado e a pesca ficou inviável.

O caráter de sociabilidade do Dique do Cabrito também foi algo que se perdeu ao longo do seu processo de abandono nos últimos anos. Tenho boas memórias do lugar na época em que ainda estava preservado. Ele era uma espécie de ponto de encontro natural para quem mora na região, como a gente vê em muitas praças de cidades no interior. Sabe aqueles amigos que você já não vê há algum tempo? Para as pessoas da região, era certo ir ao dique numa tarde de domingo, por exemplo, e reencontrar a galera. Esse é um lugar que ainda guarda boas lembranças para muita gente.

Sob responsabilidade do Governo do Estado, faz anos que não vejo o Dique do Cabrito receber um bom serviço de manutenção, tampouco de reforma (que, hoje, já seria o mais apropriado). A limpeza é muito precária, provocando um mau cheiro que incomoda a todos. Sem contar o risco de proliferação de doenças, pragas e animais perigosos, já que o matagal no entorno só cresce e vários são os relatos de cobras encontradas por aqui. As inúmeras pessoas que moram ao redor do dique estão sujeitas a um cenário de falta de dignidade.

Já passou da hora do governo voltar o seu olhar para a região e lembrar que nós existimos. Há muito tempo, quem vive aqui se sente completamente abandonado pelos órgãos estaduais que poderiam fazer alguma coisa. Não faltam exemplos pelo Brasil de regiões abandonadas que passaram a ser cuidadas pelo Estado e se tornaram verdadeiras referências de transformação. O que falta é apenas boa vontade, que está desaparecida.

Enfim, com o espaço que tenho aqui no <a href="https://aratuon.com.br/autores/isabelasousa/" target="_blank" rel="noopener">Aratu On</a>, espero ajudar a dar visibilidade ao problema, porque é uma demanda que escuto de moradores, vizinhos meus, diariamente. É muito triste saber que temos um lugar na comunidade que poderia ser motivo de orgulho, além de movimentar a economia local, mas que hoje é apenas uma fonte de preocupações e reclamação. Aqui, reafirmo o meu compromisso de dar voz à pauta e lutar para que as autoridades competentes cuidem do Dique do Cabrito. Nós merecemos!

*Este material não reflete, necessariamente, a opinião do Aratu On.

Estamos chegando ao final de mais um mês de setembro, quando o Brasil promove, desde 2015, sua campanha nacional de prevenção ao suicídio. Embora trate desse assunto em particular, o Setembro Amarelo nos permite conversar sobre saúde mental de forma mais ampla, em todas as suas vertentes. E neste ano, especificamente, não faltaram exemplos para nos ajudar a refletir sobre o tema.

Wesley Safadão, Baco Exu do Blues e Richarlison. O que esses nomes têm em comum? Todos eles admitiram, ao longo deste mês, que estão enfrentando dificuldades para cuidar da própria mente. Safadão chegou a suspender a sua agenda, enquanto Baco pediu a compreensão dos fãs após sofrer críticas em um show em Pernambuco. Richarlison, por sua vez, foi visto chorando em um jogo da Seleção Brasileira, e logo depois admitiu que buscaria ajuda psicológica.

Outro caso que chamou atenção foi o da ex-jogadora de vôlei Walewska Oliveira, que morreu após cair de um prédio no último dia 21. Em uma de suas últimas postagens nas redes sociais, ela escreveu sobre a pressão que o mundo exerce para que estejamos felizes o tempo todo, como se isso fosse possível. “Essa pressão pode ser extremamente assustadora e nos gerar culpa caso a gente se sinta em desacordo com o resto da sociedade”, concluiu.

Casos como esses nos permitem refletir e chegar a uma conclusão muito direta: no fim das contas, ninguém está bem o tempo todo. Mesmo quando se trata de artistas e atletas, pessoas que muitas vezes nos conquistam pela simpatia, no fundo, sempre existem pressões, medos e inseguranças. E eu acredito que o caminho não passa por negar esses sentimentos e reprimi-los, mas sim pela compreensão de que eles fazem parte da vida e que precisamos conversar sobre isso.

Existe uma situação muito comum do nosso cotidiano que, para mim, ilustra bem como a gente aprende a não falar sobre os nossos sentimentos. Quando alguém lhe faz uma pergunta do tipo “tudo bem?” ou “como vai você?”, quantas vezes você dá uma resposta automática dizendo que está bem, mesmo que não seja totalmente
verdade? Somos ensinados culturalmente a agir dessa maneira, e esse é um comportamento que só reforça o tabu em torno dos debates sobre saúde mental.

Nas tradições orientais, cujos ensinamentos têm sido cada vez mais popularizados no Ocidente, a noção de que o sofrimento faz parte da vida é algo bem estabelecido há séculos. Os budistas, inclusive, criaram um conceito específico para isso, chamado dukkha. Assim, admitindo a existência de um estado mental que pode nos deixar desconfortáveis, eles entendem que estão mais perto da iluminação.

Eu costumo escrever que, para resolver um problema, antes é necessário reconhecê-lo. É por isso que eu penso ser tão importante que a gente comece a naturalizar as conversas sobre saúde mental, porque elas podem ser uma fonte de alívio para quem está passando por algum tipo de sofrimento. Sem contar que, ao ter coragem de se abrir com alguém, você pode acabar descobrindo que a outra pessoa também passa por algo parecido e ajudá-la a lidar com a situação.

Também é importante lembrar que existem serviços baratos, ou até mesmo gratuitos, que podem ajudar quem precisa de apoio profissional. O Centro de Valorização da Vida atende 24 horas por dia, por meio de chat e ligação telefônica, de forma gratuita. Há também a Rede de Apoio Psicossocial, braço do SUS que você pode ter acesso em qualquer Centro de Atenção Psicossocial (CAPS). Por fim, recomendo o Mapa Saúde Mental, site que reúne uma lista de clínicas e psicólogos que trabalham voluntariamente ou que cobram valores sociais.

Vivemos sob uma cultura que nos diz que precisamos estar bem o tempo todo, exibindo a vida perfeita nas redes sociais. E isso nos leva a acreditar que se sentir vulnerável ou inseguro é algo anormal, que não pode ser demonstrado. Mas a mensagem que quero deixar com esta coluna é que não há nada de errado em ter esse tipo de sentimento, porque todo mundo tem. Se a gente começar a falar mais sobre isso, tenho certeza que o nosso mundo se tornará um lugar mais saudável e acolhedor para todas as pessoas.

*Este material não reflete, necessariamente, a opinião do Aratu On.

Cidadania

Pão, circo e carne: o Carnaval como rito de passagem

Democracia participativa em ação: o projeto de lei popular Via Cidadã

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Salvem o Dique do Cabrito!

No fundo, ninguém está bem (e isso é normal)

Alexandre Darzé

Allysson Raia

Dra. Anita Rocha

Dra. Anna Paula Greck

Bianca Ramos

Chef Caco Marinho