Órgãos do patrimônio zelam pelo passado? Podem eles olhar nosso futuro?

As formas e processos e protocolos que garantem a preciosidade de nosso patrimônio histórico - material ou imaterial - podem ser atualizados para as exigências e demandas que colocamos em nossa contemporaneidade?

Por Pablo Reis.

Todas as postagens, análises e críticas possíveis ainda vão ser insuficientes para expor quão absurdo e grotesco é a morte da jovem Giulia Panchoni Righetto. Uma garota de 26 anos foi vítima de… turismo.


É estarrecedor do ponto de vista familiar, pessoal, sob uma visão humanista. É péssimo do ponto de vista da cultura, da religião, da proteção do Estado


Não entraremos em mérito da responsabilidade sobre quem deve pagar pelo fato de uma visitante ser soterrada no interior de uma Igreja de 300 anos, que pode ser considerada a joia da Coroa do catolicismo na Bahia. Para isso, já existe a competência da Polícia Federal investigando os pormenores de quem fez, quem deixou de fazer e quem fingiu que não era com ele.


O incidente aconteceu em 5 de fevereiro, resultando na morte de uma turista e deixou outras cinco pessoas feridas. | Foto: Defesa Civil de Salvador

O incidente aconteceu em 5 de fevereiro, resultando na morte de uma turista e deixou outras cinco pessoas feridas. | Foto: Defesa Civil de Salvador




A questão subjacente está nas atividades dos órgãos criados para zelar pelo nosso patrimônio, o material e o imaterial. 


O Iphan, de dimensão federal, o IPAC no âmbito estadual, a Fundação Gregório de Mattos, do município, possuem corpo técnico inquestionável. Profissionais de boa-fé e conhecimento acadêmico. 


A dúvida levantada pela Arquidiocese sobre celeridade de atuação (é importante lembrar que equipamentos tombados só podem passar por intervenções após aval dos órgãos) também pode ser de toda a sociedade: como são os protocolos e processos que os profissionais devem se basear? Eles ainda atendem às necessidades de uma sociedade cada vez mais veloz em muitos sentidos?


Se um processo ficou estabelecido para uma época em que as medidas eram tomadas com papel timbrado, protocolado na recepção da repartição, com quatro vias, carimbado por três servidores públicos, ele ainda se adapta a uma dinâmica em que muitas das demandas podem se resolver com troca de duas mensagens de ZAP entre supervisores, gerentes, superintendentes?


Os prédios históricos sofrem com o efeito cumulativo do tempo e Salvador é pródiga em pretérito.


Se esses órgãos respondem com zelo pela manutenção do nosso rico passado, quais são os que vão responder pela riqueza que está em nosso futuro?


Nem sempre, mas muitas vezes, as práticas em prol de um e de outro podem ser divergentes. Aí precisamos do adulto na sala para avaliar o que pode ser modificado e adaptado aos novos tempos. 


Modernidade e nostalgia, preservação e evolução. É possível essa convivência. Mas alguém, com autoridade, precisa puxar essa discussão. Ela é urgente. Como era a vida de Giulia.


O MPF recomendou medidas emergenciais após o desabamento na igreja. | Foto: Defesa Civil de Salvador

O MPF recomendou medidas emergenciais após o desabamento na igreja. | Foto: Defesa Civil de Salvador




LEIA MAIS: Iphan anuncia obras emergenciais para igreja após desabamento em Salvador

Siga a gente no InstaFacebookBluesky e X. Envie denúncia ou sugestão de pauta para (71) 99940 – 7440 (WhatsApp).

Comentários

Importante: Os comentários são de responsabilidade dos autores e não representam a opinião do Aratu On.

Nós utilizamos cookies para aprimorar e personalizar a sua experiência em nosso site. Ao continuar navegando, você concorda em contribuir para os dados estatísticos de melhoria. Conheça nossa Política de Privacidade e consulte nossa Política de Cookies.