Violência em Salvador: entenda os números e como a cidade enfrenta o crime

Segundo Anuário Brasileiro de Segurança Pública, Salvador voltou a ser, em 2024, a capital mais violenta do Brasil

Por Anna Caroline Santiago.

Como a quinta capital mais populosa do Brasil, atrás apenas de São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Fortaleza, Salvador enfrenta um dos maiores desafios da sua história recente: a segurança pública. Ranqueada como a capital mais violenta do país em 2024 pelo Anuário Brasileiro de Segurança Pública, a cidade registra índices alarmantes de homicídios, crimes armados e violência urbana.

Violência em Salvador: entenda os números e como a cidade enfrenta o crime.Foto: Reprodução

Para traçar um panorama dos casos mais recentes, o Aratu On consultou registros da Polícia Civil referentes ao primeiro semestre de 2025. Entre janeiro e junho, foram contabilizados 378 homicídios dolosos - quando há intenção de matar - sendo 95% das vítimas homens e 5% mulheres. Ainda foram registrados 10 casos de latrocínio (roubo seguido de morte).

No Anuário de Segurança Pública, que mede homicídios e lesões graves com intenção de matar, Salvador apresentou taxa de 52 mortes por 100 mil habitantes, acima da média nacional, de 20,4.

No total, 1.335 mortes violentas foram registradas na cidade nesse período, representando quase 30% do índice nacional em apenas seis meses. Segundo o anuário, a capital baiana ultrapassou Macapá, enquanto a Bahia se mantém como o segundo estado mais violento do país, atrás apenas do Amapá.

+ Mortos em chacinas policiais crescem 235% no primeiro semestre de 2025

Dados do Instituto Fogo Cruzado, que monitora a violência armada, mostram que entre janeiro e junho de 2025, Salvador registrou 485 mortos e 129 feridos por armas de fogo. Embora o número de tiroteios tenha caído 9% em relação ao mesmo período de 2024 - passando de 917 para 839 episódios - houve aumento no número de baleados: 864 pessoas atingidas, metade delas (50%) durante operações policiais.

Dessas vítimas, 305 morreram e 42 ficaram feridas. Entre os confrontos com agentes, 42% dos tiroteios, 43,5% das mortes e 26% dos feridos ocorreram durante ações policiais.

 Salvador registrou 485 mortos e 129 feridos por armas de fogo.Foto: Imagem Ilustrativa | Istock

O número de chacinas policiais também subiu de 17, em 2024, para 57 em 2025, enquanto as chacinas em geral passaram de cinco para 14 em um ano. O número de adolescentes baleados em ações policiais teve aumento expressivo: de três, em 2024, para 14 em 2025. 

Paralelamente, a Bahia tem a segunda polícia mais letal do Brasil, com a taxa de 40,6 mortes por 100 mil habitantes decorrentes de intervenções policiais.

Outros crimes

Crimes sexuais

Entre janeiro e junho de 2025, foram notificados 316 casos de estupro em Salvador, sendo 68% das vítimas menores de idade, incluindo 114 crianças de 0 a 11 anos. Vítimas do sexo masculino representaram 8% do total. Foram registrados ainda 24 casos de importunação sexual, com maior incidência entre jovens de 18 a 24 anos. Os crimes ocorreram tanto em residências quanto em áreas urbanas.

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Furtos e roubos

Nos primeiros seis meses de 2025, Salvador contabilizou 12.266 denúncias de furtos, ocorrendo principalmente em escolas, vias públicas, residências e estabelecimentos comerciais. A distribuição por gênero das vítimas foi de 46% homens e 42% mulheres, com o restante sem identificação.

No caso dos roubos, foram registradas 10.660 ocorrências, com 54% das vítimas homens e 43% mulheres. A faixa etária mais atingida está entre 35 e 64 anos, com mais de 1.500 denúncias. Entre os roubos de transporte público, 188 casos ocorreram em ônibus, e furto e roubo de veículos totalizaram 3.120 registros, destacando-se: 1.000 carros, 1.999 motocicletas e 8 caminhões.

Outros crimes registrados no período incluem:

  • Ameaças: 2.974 casos, incluindo ameaças domésticas, em zonas urbanas, estabelecimentos e ambientes virtuais;

  • Injúria: 333 ocorrências, com vítimas entre 18 e mais de 65 anos;

  • Calúnia: 318 casos, principalmente contra pessoas de 25 a 64 anos;

  • Difamação: 255 registros, com destaque para vítimas entre 30 e 64 anos.

Perfil das vítimas letais

A partir dos dados do Instituto Fogo Cruzado, é possível traçar um novo recorte no perfil das vítimas por violência armada na cidade. Ao todo, 370 pessoas foram identificadas como negras, 17 como brancas e 476 não tiveram o recorte racial identificado. Em 2024, o levantamento apontou 358 pessoas negras, 14 brancas e 488 sem recorte racial definido.

Entre as 864 pessoas baleadas no primeiro semestre de 2025:

  • 809 eram adultos (94%), com 668 mortes e 121 feridos;

  • 35 adolescentes foram baleados, 23 morreram e 12 ficaram feridos;

  • 11 idosos foram baleados, 5 morreram e 6 ficaram feridos;

  • 3 crianças foram baleadas, 2 morreram e 1 ficou ferida.

Além disso, cinco bairros se destacaram como os mais violentos, com base no número de tiroteios registrados no período. São eles: 

  • Lobato: 23 tiroteios, 18 mortos, 5 feridos;

  • Beiru/Tancredo Neves: 22 tiroteios, 5 mortos, 5 feridos;

  • Mussurunga: 19 tiroteios, 14 mortos, 4 feridos;

  • Fazenda Coutos: 18 tiroteios, 18 mortos, 3 feridos;

  • Narandiba: 14 tiroteios, 13 mortos, 2 feridos.

Além da geografia, esses bairros têm em comum a periferia de Salvador, concentrando grande parte da violência armada da cidade. “A violência armada tem cor, raça, classe e território muito bem definidos”, define Tailane Muniz, coordenadora regional do Instituto Fogo Cruzado na Bahia, sobre o Mapa da Violência em Salvador.

No Mapa da Violência em Salvador, Lobato é considerado o bairro mais violento.Foto: Google Street View

Como vivem os moradores dos bairros mais violentos?

Raissa Dámasio, 23 anos, publicitária e moradora de Narandiba, relata: “Evito sair antes das 6h e depois das 19h. Eu e meu companheiro mapeamos caminhos e transportes alternativos”. O horário coincide com o pico de roubos e furtos de celulares, das 10h às 20h, segundo o Anuário.

Em contraste, Júlio Cesar Borges, 24 anos, estudante em Mussurunga, afirma não sentir impactos na rotina. “Minha mãe tem comércio no bairro e não precisou alterar horários de funcionamento por conta da violência”.

Polícia Militar na Bahia: 

Apesar das estratégias e investimentos em segurança, a letalidade da PMBA permanece como uma das mais altas do país. Segundo Anuário de Segurança Pública, a Bahia é o segundo estado com as maiores taxas de mortes causadas por policiais em 2024. 

Um dos episódios que mais chocaram a população ocorreu durante o Carnaval deste ano, no bairro Fazenda Coutos. Doze pessoas foram mortas durante uma operação da PM, incluindo dois adolescentes de 17 anos. Segundo a corporação, houve confronto armado, mas nenhum policial foi ferido.

Primeiro semestre de 2025, registrou que 42% dos tiroteios ocorreram em ações policiais. Foto: Polícia Militar Bahia

Na ocasião, o governador Jerônimo Rodrigues solicitou que a Polícia Civil investigasse um “possível exagero” na ação. O Ministério Público da Bahia também instaurou um procedimento, conduzido pelos Grupos de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) e de Atuação Especial Operacional de Segurança Pública (Geosp), para apurar a atuação da PM.

A Polícia Civil afirmou que o episódio decorreu de uma disputa territorial entre grupos criminosos da região. Nenhum policial foi afastado após a ação. A reportagem procurou a Civil para mais detalhes, mas não obteve retorno.

Bahia no ranking da violência

A Bahia figura como o 2º estado mais violento do Brasil em 2024, segundo o Anuário. O ranking é liderado pelo Amapá (45,1 mortes por 100 mil habitantes), seguido por Bahia (40,6), Ceará (37,5), Pernambuco (36,2) e Alagoas (35,4).

No total, foram registrados 6.036 homicídios na Bahia em 2024 - uma taxa de 40,6 por 100 mil habitantes. Apesar do número elevado, houve uma queda de 8,4% em relação a 2023, quando a taxa era de 44,4.

A Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA) afirma que tem atuado para mudar esse cenário. Em nota ao Aratu On, o órgão destacou a contratação de 6 mil novos policiais em dois anos, além de investimentos em estrutura, armamento, inteligência e operações integradas contra facções.

Como resultado, a SSP-BA aponta uma redução de 16,6% das mortes violentas na capital baiana no primeiro semestre de 2025. 

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