Filho de Mãe Bernadete relata medo de quilombolas em denunciarem abusos

Júnior Pacífico, filho de Mãe Bernadete, diz que morte de sua mãe e omissão da Justiça fazem com que quilombolas tenham medo de também serem assassinados

Por João Tramm.

O filho de Mãe Bernadete, líder quilombola assassinada em 2023, denunciou o clima de medo e intimidação que atinge comunidades quilombolas na Bahia após o crime. Nesta sexta-feira (8), Jurandir Pacífico ainda lembrou da de seu irmão, Binho Galinho, também executado por lutar por políticas públicas para povos tradicionais. 

“É uma covardia o que fizeram com minha família, porque há sete anos atrás assassinaram meu irmão, Flávio Binho do Quilombo, por lutar por políticas públicas para os povos tradicionais. O assassinato de minha mãe deixou as lideranças quilombolas com medo de serem assassinadas. As lideranças quilombolas não botam a cara para falar. A morte de minha mãe fragilizou a luta dos povos quilombolas”, afirmou em entrevista coletiva.

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Apesar de prisões nos dois casos, parte dos suspeitos já foi solta, o que, segundo a família, reforça a sensação de impunidade e enfraquece a mobilização das lideranças.

“Peço justiça por Binho do Quilombo e Mãe Bernadete. Os assassinos do meu irmão, foram dois suspeitos presos e os dois já estão soltos. Saíram pela porta da frente da cadeia. De Mãe Bernadete já soltaram um. Então peço justiça por Mãe Bernadete e Binho do Quilombo. Pessoas que lutaram por políticas públicas para todas as comunidades tradicionais. Em especial quilombos”

Jurandir ainda disse que se sua mãe estivesse viva ela estaria lutando para o fortalecimento da Lei 10.635, que prevê o estudo das escolas indígenas e afros nas escolas. Segundo o ativista, a norma foi aprovada mas ainda não está sendo aplicada na prática.

Cerimônia

A fala foi feita durante cerimônia do Ministério das Comunicações e Caixa Econômica Federal. No ato, realizado em Salvador nesta sexta-feira (8), foi assinado acordo de cooperação técnica em que o Quilombo de Mãe Bernadete receberá o computadores inutilizados pela Caixa, mas que poderão ser reutilizados após ação do Ministério.

“Agora dia 17 de agosto faz dois anos que ceifaram a vida de minha mãe. O local onde implantaremos esses computadores, o laboratório digital, será justamente onde minha mãe foi assassinada. Era um sonho dela, que está sendo realizada agora. A gente quer atingir 200 pessoas estudando lá. Isso vai mudar demais a realidade lá"

O projeto de conexão da Caixa já levou 703 computados, que virariam resíduo sólido, para reconstrução e nova destinação da Bahia. Dentre os centros de acolhimento estão 2 quilombos baianos.

"Quero agradecer ao Ministério das Comunicações e faço o pedido que conecte todos os quilombos, que são comunidades ausentes de políticas públicas. Nós ficamos 7 minutos do Polo Petroquímico de Camaçari e não tínhamos nem sequer internet. Foi um tabu que foi quebrado”, finalizou.

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Cerimônia de doação de computadores

 

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