Dia do Fisiculturismo: Baianos trazem bastidores do universo bodybuilding

Neste Dia do Fisiculturismo, atletas baianos e outros profissionais que fazem parte do esporte trouxeram alguns batidores desse universo bodybuilding

Por Lucas Pereira.

A arte e contemplação ao corpo existe desde os tempos antigos, basta lembrar das estátuas gregas, de musas e heróis com corpos “perfeitos”, musculosos e bem delimitados. Na atualidade, o culto à perfeição corporal se tornou esporte, ganhou outro nome e, neste dia 30 de outubro, sua data comemorativa. No Dia do Fisiculturismo, o Aratu On conversou com profissionais do universo “bodybuilding” que contaram os bastidores das competições e como é feito o processo de preparação dos atletas, que é mencionado como “duro” e de “sacrifícios” — tudo isso em busca do shape perfeito.

Neste Dia do Fisiculturismo, atletas baianos e outros profissionais que fazem parte do esporte trouxeram alguns batidores desse universo bodybuilding. Foto: Mr Olympia

Dia do Fisiculturismo

Para quem orbita esse universo, todo dia é dia do fisiculturismo, já que a preparação e o trabalho são constantes. É comum termos no imaginário a figura do fisiculturista como alguém de músculos torneados, definidos; aquela pessoa conhecida no vocabulário popular como “marombada”. São eles mesmos!

Pessoas comuns que vivem em prol da competição, do esporte, sempre trabalhando para manter a forma física, seja na academia ou em outras modalidades de musculação. No bairro da Cidade Nova, em Salvador, encontramos o atleta Robson Júnior, de 28 anos, em mais um dia de treinos, de olho na próxima competição de fisiculturismo que acontece neste mês de novembro.

O assessor de base sindical contou ao Aratu On que uma zoeira feita por um amigo foi o gatilho para que ele resolvesse retomar com os treinos, ainda em 2023, e que depois disso, o foco — da mesma forma que os pesos usados no treino — só aumentaram.

“Foi um comentário de um amigo meu, na brincadeira. Na época eu tava um pouquinho magro. Bastante, para falar a verdade. Aí ele fez um comentário, eu levei na brincadeira, mas ali eu tive aquele impulso de querer voltar a treinar, que eu tinha parado. E aí, do início de 2023 para cá, não parei mais e surgiu a vontade em mim de virar atleta de fisiculturismo”.

A partir do começo das atividades ter sido em 2023, Robson conta que só começou a competir neste 2025, tendo chegado com tudo: foi o primeiro colocado na categoria Men’s Physique no Concurso Bodybuilder, realizado aqui em Salvador.

Robson Júnior antes e depois de virar atleta de fisiculturismo. Foto: Arquivo Pessoal

Para o atual treinador de Robson, Neto Teixeira, não existe fórmula milagrosa para o condicionamento ou mesmo um tempo exato para que uma pessoa, aspirante a atleta de fisiculturismo, esteja pronta; é um trabalho de construção constante:

“Depende muito da onde a pessoa vai partir, como é que ela está atualmente, entende? Se o atleta tiver com um peso de gordura abaixo, dá para fazer uma preparação mais rápida. Mas acredito que uma preparação assim, colocando em número de semanas, que é o que a gente utiliza geralmente, acredito que entre 16 semanas e 18 semanas para trabalhar já se faz um condicionamento tranquilo, trabalhando todos os dias”, afirma o educador físico.

Robson e seu antigo coach, Mário Jr,  conquistaram uma competição de fisiculturismo em Salvador. Foto: Arquivo Pessoal

O exemplo que marca e inspira

O termo “fisiculturismo” teve uma explosão de buscas entre os dias 10 e 13 de outubro, devido à realização do concurso Mr. Olympia, principal competição da modalidade, que aconteceu no dia 12, em Las Vegas, nos Estados Unidos. O brasileiro Ramon Dino — o Dinossauro Acriano — foi campeão da categoria Classic Physique, sendo o primeiro atleta do Brasil a vencer o torneio.

No final de semana seguinte, foi a vez da Bahia mostrar sua força no fisiculturismo nacional. Natural de Brejões, no Vale do Jiquiriçá, Rodrigo “Pantera” foi o campeão do Mr.Olympia Brasil, também na categoria Classic Physique. Sem patrocínios ou contratos de apoio, Pantera deixou a profissão de feirante para se dedicar à criação de conteúdo digital e ao fisiculturismo, tendo acumulando quase seis milhões de seguidores no TikTok por compartilhar sua rotina fitness e dieta.

Além desses dois exemplos de campeões, Robson Júnior citou o exemplo um outro baiano fisiculturista que serve de motivação para ele e que o abraçou nos primeiros passos no esporte, ou melhor, nos primeiros pesos puxados: “Foi um cara que estudou comigo, Ramon Bahia. Ele é atleta hoje. Eu já acompanhava o trabalho dele, ele me incentivava também a treinar, e aí eu fui acompanhando cada vez mais de perto, assistindo campeonato, quando ele me fez tipo um desafio, que queria me ver também nesses palcos. De lá para cá tomei para mim esse sonho e não tenho arrependimento algum”.

 Ramon Dino e Rodrigo Pantera, campeões de fisiculturismo e inspiração para os brasileiros no esporte. Foto: Redes Sociais

Dificuldades no fisiculturismo

Como todo atleta, os fisiculturistas precisam fazer sacrifícios em prol do esporte e da excelência física. Robson revela que um dos pontos mais sensíveis de sua rotina de preparação é a dieta e que é preciso abrir mão de certos “prazeres”: 

“É puxado, porque a gente deixa certos prazeres momentâneos da vida para a gente poder seguir a risca e não poder errar a dieta, principalmente. Eu não bebo tem três anos; nesse momento eu tô em preparação [para competição], não posso sair e se eu sair tenho que levar marmita. Então, é questão de escolha também. O principal tormento na vida de um atleta, pelo menos na minha, é resistir as tentações da dieta. Quem tem irmã pequena dentro de casa mesmo, quem tem filho também, a gente abre o armário, vê lá o doce, salgadinho, aí para segurar é complicado [risos]”.

 

De acordo com profissionais, treino constante e alimentação são a chave no fisiculturismo. Foto: Ilustrativa/Pexels

Outro ponto abordado é a dificuldade em custear e se manter no fisiculturismo. O treinador Neto ressalta a importância do atleta ter um acompanhamento de profissionais para ter alguma assistência durante as preparações, visto que o corpo é o objeto do esporte e que é necessário um cuidado enorme com ele.

Para além de treinador, nutricionista, coach de competições e custos com academia, inscrições e etc, Neto relata que a suplementação alimentar e os produtos consumidos devem ser de boa qualidade; e que o barato pode sair caro:

“Eu acredito que o investimento é o maior obstáculo para quem quer competir hoje. E aí a minha preocupação como treinador é ver pessoas que não tem condições entrando no esporte na tora. Aí vai trabalhar com qualquer um, não paga o médico, não faz exame, toma qualquer coisa que vem pela frente e quando chega lá, está pior e não consegue entregar um bom resultado; só gastou dinheiro, saúde e tempo. Hoje, atletas que vivem do esporte, a gente conta de dedo, porque, na verdade, a maioria vive para o esporte, não do esporte”.

+Filho de Carla Perez e Xanddy entra para o fisiculturismo: '100% natural'

Diferente da musculação convencional, é normal que os fisiculturistas façam uso de hormônios e anabolizantes para “potencializar” os desempenhos. De acordo com Neto, o uso de “suco”, como é chamado, deve ser feito com acompanhamento e serve como mais um elemento na preparação e não deve ser confundido como algo que vai “fazer mágica”.

“Quando a gente fala do suco, uma pessoa comum que quer utilizar o suco, primeiro tem que saber os malefícios. Então, tem que tomar todo cuidado. O problema é quando a pessoa comum está querendo utilizar as mesmas coisas que um atleta utiliza. Um atleta ele come bem, dorme bem, vive para isso, geralmente. Ele tem todo cuidado, tem todo toda a questão também de manipulação, que não é barato”, listou o profissional.

Neto ainda conta que são vários fatores que contribuem para que uma pessoa fique “big”, não apenas é o uso de químicos que vai fazer isso. “Existe uma porção de fatores. Uma delas é a genética. E quando eu falo genética, eu não tô falando genética somente ganho de massa muscular, mas também pele e do metabolismo. É dieta, é treino, é muito trabalho. O suco ele vem para potencializar o que você tá fazendo de melhor. Se você não come e não faz dieta, consequentemente, o suco não vai fazer efeito nenhum. Você só vai colher o que é de ruim, os colaterais, que é um fato”.

O uso de anabolizantes e hormônios, conhecidos como

Bastidores das competições de fisiculturismo

Mais do que colocar sunga/biquíni/short, subir ao palco e botar os músculos para jogo, uma competição de fisiculturismo começa a valer na semana que antecede o dia da apresentação, considera como a “mais importante” por Neto. Nela, os atletas passam por um racionamento de calorias e de desidratação controlada, para poder chegar no derradeiro dia com a musculatura enxuta e na melhor das aparências.

“É uma semana onde tudo pode dar certo ou pode dar muito errado. Então é de mega importância que a gente tome todo o cuidado possível, porque o atleta ele está fraco, sendo necessário ter muita atenção nesses últimos dias e muito acompanhamento”, conta o profissional.

Um detalhe curioso que Robson disse ao Aratu On foi sobre os bastidores das competições. Como os atletas utilizam pinturas corporais, que também são critérios de avaliação, os ar-condicionados são sempre muito frios, para ajudar no combate à sudorese, que pode desbotar a tinta.

As competições de fisiculturismo envolvem categorias masculinas e femininas. Foto: Mr Olympia

Depois de um olhar de quem está competindo, chegou a vez de entender o outro lado, a ótica de um juiz de fisiculturismo. Atleta de judô desde os nove anos de idade e com graduações em educação física e biomecânica, Iago Cardoso, de 32 anos, atua também como árbitro em competições do esporte. 

A partir de um curso para a função, promovido pela International Fitness and Bodybuilding Federation (IFFB-Brasil), Iago conta que a função de um juiz é avaliar, de maneira imparcial, os competidores a partir dos critérios de cada categoria do fisiculturismo. A categoria Classic Physics, vencidas por Dino e Pantera, por exemplo, busca uma estética mais clássica, com foco em proporção e simetria, a partir da proporção entre peso/altura. Já a categoria feminina Wellness julga outros critérios; foca nas pernas e glúteos volumosos e bem desenvolvidos, com uma cintura fina e forma mais curvilínea.

Ressaltando a importância das conquistas brasileiras para o esporte, afirmando que “trazem muita referência para o Brasil e para os atletas daqui”, Iago ainda refletiu sobre a “debilidade” do fisiculturismo no norte-nordeste do nosso país: 

“Quando a gente começa a criar essa relação com outras regiões, a gente percebe que a região norte/nordeste é um pouco mais carente de apoio, de patrocínio, e isso traz uma certa debilidade. A gente percebe uma inferioridade em números de atletas, com relação a campeonatos que acontecem no Sul, em São Paulo, Rio. É um pouco mais difícil para os atletas que moram aqui nessa parte mais acima, até por falta de incentivo mesmo”.

Fisiculturismo é saúde

Todos os entrevistados ressaltaram a importância do esporte para a saúde — seja física ou emocional — e para a qualidade de vida dos praticantes, quando feito de maneira responsável. 

O juiz Iago ainda convidou a uma reflexão à cerca de quem critica o fisiculturismo, seja por preconceito ou ignorância: 

“Pense, seja racional; é muito melhor que o cara esteja praticando a atividade física do que ele esteja sedentário em casa, comendo besteira ou saindo para perder noite. É criar essa consciência de que a musculação ela pode ser tanto um esporte, quanto uma atividade para melhorar questão psicológica, de uma forma terapêutica ou até de uma forma lúdica para melhorar a qualidade de vida em geral”.

Incentivador de Robson e multicampeão em competições regionais, Ramon Bahia trouxe um relato muito pessoal sobre a importância do esporte em sua vida e como o fisiculturismo o salvou, literalmente. 

“Sou atleta de fisiculturismo há quatro anos e há quatro anos ele vem mudando minha vida. Sou ex-depressivo, vivi uma vida com depressão, foi muito ruim, tentei tirar minha vida duas vezes. Hoje sou um vencedor, literalmente da vida, campeão da vida. Só de estar vivo hoje, dando felicidade à minha família”, revelou o atleta.

Ramon Bahia, um dos nomes mais importantes do fisiculturismo baiano atual. Foto: Arquivo Pessoal

Dono de seis títulos pela NPC (NPC Worldwide Musclecontest) e dois títulos pela Copa Bahia de Fisiculturismo, o profissional de 29 anos, Ramon conta que o foco e a disciplina, seja para atletas ou mesmo para quem almeja fazer exercício físico com regularidade, são a chave para o sucesso; que mesmo sendo difícil manter rotina no início, após um tempo o processo entra no automático:

“A gente que é atleta tem uma rotina bastante corrida, acaba vivendo isso no automático. Logo no início não é fácil geralmente concilia trabalho com academia. Quem trabalha o dia todo geralmente tem só o tempo da noite, para conciliar essas questões de treino. É um pouco difícil, mas geralmente a gente acaba criando uma rotina e isso a gente acaba vivendo isso já no automático”, finalizou.

Mais que carregar o peso das anilhas ou da barra de uma alimentação restrita e regrada, o fisiculturismo mostra que é preciso disciplina, esforço e comprometimento com a causa. Mais que força física, o esporte é um exemplo de força de vontade.

 

Siga a gente no InstaFacebookBluesky e X. Envie denúncia ou sugestão de pauta para (71) 99940 – 7440 (WhatsApp).

Comentários

Importante: Os comentários são de responsabilidade dos autores e não representam a opinião do Aratu On.

Nós utilizamos cookies para aprimorar e personalizar a sua experiência em nosso site. Ao continuar navegando, você concorda em contribuir para os dados estatísticos de melhoria. Conheça nossa Política de Privacidade e consulte nossa Política de Cookies.