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Conjuração Baiana: um dos movimentos populares mais marcantes do Brasil completa 225 anos

Também conhecida como Revolta dos Alfaiates ou Revolta dos Búzios, Conjuração aconteceu em 1798 e foi um movimento do povo para o povo

Por Bruna Castelo Branco

Conjuração Baiana: um dos movimentos populares mais marcantes do Brasil completa 225 anosRedes Sociais

Há 225 anos, começava a Conjuração Baiana, movimento que tinha, entre os principais objetivos, abolir a escravatura, separar a Bahia de Portugal e melhorar a vida das camadas mais desfavorecidas da população. A Conjuração, também conhecida como Revolta dos Alfaiates ou Revolta dos Búzios, aconteceu em 1798, e foi um movimento do povo para o povo - especialmente os pretos, ex-escravizados, escravizados, brancos pobres e trabalhadores urbanos.


Intelectuais e membros da Cavaleiros da Luz, primeira loja maçônica da Bahia, apoiaram o movimento por compartilharem de ideais iluministas trazidos da Europa naquela época. Os principais líderes da manifestação, porém, eram pretos e vinham das classes baixas: os alfaiates João de Deus e Manuel Faustino dos Santos Lira, e os soldados Luís Gonzaga das Virgens e Lucas Dantas. Os quatro foram condenados à morte. Os intelectuais e maçons que participaram receberam penas mais leves ou foram absolvidos.


Líderes dos movimentos, alfaiates João de Deus e Manuel Faustino dos Santos Lira e soldados Luís Gonzaga das Virgens e Lucas Dantas foram executados na Praça da Piedade

Ao Aratu On, o historiador Rafael Dantas, especialista em História da Bahia, explicou que esse contexto revolucionário começou a tomar uma forma diferente na Bahia em 1763 - ano em que a coroa portuguesa transferiu a capital do Brasil colônia de Salvador para o Rio de Janeiro, reduzindo a atenção, os investimentos e a importância da cidade.


"A gente pode falar que a mudança da capital, de uma forma de outra, estabelecem um panorama rico, fértil, para tensões das mais diversas, inclusive, as que acontecem no final do século 18", comenta o historiador.


Na entrevista, Rafael também falou sobre as raízes populares do movimento, a relação da Conjuração com a Revolução Francesa e a Revolução Haitiana, as desigualdades sociais que assolavam Salvador no século 18, e a participação de pessoas escravizadas na revolta.


"Diversos agentes participaram desse movimento. Integrantes das classe médias urbanas, homens negros libertos. Os ideais mais variados estavam em jogo, principalmente aqueles ligados à ideia de libertação contra Portugal. A participação desses agentes, a pluralidade da participação desses agentes, reflete justamente o lado progressista das ideias que estavam sendo debatidas".


CONFIRA A ENTREVISTA NA ÍNTEGRA:


O que foi a Revolta dos Búzios? 


A Revolta dos Búzios, ou Revolta dos Alfaiate, foi um movimento importantíssimo no contexto do século 18, que veio com ideias progressistas no sentido de romper com o jogo português, com o domínio português. Entre as pautas defendidas estavam, inclusive, o fim da escravidão, o que coloca o evento no patamar de tensões do século 16 muito mais à frente do que outros movimentos que aconteceram no Brasil Colônia, inclusive, da Conjuração Mineira, que acontece também nesse mesmo período.


Esse movimento tem alguma relação com o 2 de Julho?


Não diretamente, porque o 2 de Julho acontece no século 19. Mas, ele serve para a gente compreender o panorama de tensões que aconteceram no período da colônia aqui no Brasil, ou seja: não é só o processo de idependência com o nosso 2 de Julho que marcou esse contexto de insatisfação, de rebeldia, de tentativa de rompimento com os portugueses. Mas, antes mesmo, tivemos diversas revoltas que, de uma forma de outra, perambulou pelo imaginário como um referencial entre os baianos durante tempos.


A Conjuração Baiana foi de alguma forma influenciada por outros movimentos populares que aconteciam no mundo naquela época, como Revolução Francesa e a Revolução Haitiana?


O que aconteceu na Bahia bebeu diretamente das ideias iluministas ou das revoluções que aconteceram naquele período no mundo. O que estava em jogo naquele contexto no mundo era a insatisfação com os domínios políticos presentes naquele período, a questão da monarquia, da realidade dos impostos, das operações existentes aqui, ou seja, tudo aquilo que exprimia alguma tentativa de opressão estava sendo questionado. E essas ideias circulam no contexto mundial do século 18, chegam em Salvador. Salvador é uma cidade portuária, uma cidade de relevância do Hemisfério Sul. Então, muitos dos questionamentos presentes na Europa também estavam presentes na Bahia.


Anos antes da Conjuração, a capital do Brasil foi transferida para o Rio de Janeiro. Como ficou Salvador depois dessa mudança? A cidade sofreu alguma consequência negativa?


Salvador deixou de ser capital em 1763. Pós-década de 60, o prestígio econômico da cidade passa por mudança significativas. E, evidentemente, essa mudança no sentido econômico e no sentido político abala, sim, as elites locais, e pode ter algum tipo de influência nos rumos que acontecem nas décadas seguintes. A gente pode falar que a mudança da capital, de uma forma de outra, estabelecem um panorama rico, fértil, para tensões das mais diversas, inclusive, as que acontecem no final do século 18. Não é uma consequência direta, mas é, sem dúvida, um panorama que tem uma ligação, sim.


É dito que, no dia 12 de agosto de 1798, a cidade de Salvador amanheceu coberta de papéis manuscritos pregados nos muros das igrejas. Isso realmente aconteceu, ou é mito? Pode falar sobre esse acontecimento?


Aconteceu, sim, são os famosos manuscritos ou panfletos sediciosos. São documentos que exprimiam, justamente, esse sentimento de rompimento com Portugal e essas defesas ideias. Não só a favor da república, da liberdade, mas, também, outros contextos em que o povo proclamava sua liberdade. Acontece que isso ficou no campo das ideias, não chegou a ter êxito.


O que explica a participação de pessoas escravizadas nesse movimento?


Diversos agentes participaram desse movimento. Integrantes das classe médias urbanas, homens negros libertos. Os ideais mais variados estavam em jogo, principalmente aqueles ligados à ideia de libertação contra Portugal. A participação desses agentes, a pluralidade da participação desses agentes, reflete justamente o lado progressista das ideias que estavam sendo debatidas. Isso explica pauta voltada para a participação popular. Os culpados, os condenados nesse processo, foram, justamente, as pessoas menos abastadas, as pessoas mais pobres e os homens negros, que foram os quatro enforcados e esquartejados na Praça da Piedade.


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