Ensino médio na Bahia: como funciona, escolas modelo e índices finais
Escolas estaduais atendem 85,5% das matrículas do ensino médio na Bahia. Escolas privadas atendem 11,1%
Por Júlia Naomi.
A rede estadual de educação é a principal responsável pelo atendimento de estudantes que cursam o ensino médio na Bahia, atendendo 85,5% das 510.586 mil matrículas do estado na etapa da educação. O dado foi disponibilizado no Anuário Brasileiro da Educação Básica 2025, feito pela organização independente Todos Pela Educação.
Com duração mínima de três anos, o ensino médio é a última etapa da educação básica no Brasil, equivalente ao que, tempos atrás, era chamado de segundo grau. Seu objetivo é consolidar os aprendizados adquiridos no ensino fundamental e promover o desenvolvimento integral do estudante enquanto cidadão.
De acordo com a Secretaria de Educação (SEC), a rede estadual de ensino médio na da Bahia é composta por 974 unidades escolares estaduais (UEE). Do total, 794 são de oferta exclusiva desta etapa da educação e 180 têm oferta compartilhada com o ensino fundamental. O Censo Escolar 2024 mostra que 83,9% delas estão localizadas em áreas urbanas e 16,1% na zona rural.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), que rege as normas educacionais no Brasil, estabelece que a etapa final da educação básica tem como finalidades:
- A consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos adquiridos
no ensino fundamental; - Preparar o estudante para o mercado de trabalho e para a cidadania, de modo que ele seja capaz de continuar aprendendo e se adaptar a novas condições de ocupação;
- O aprimoramento do educando como pessoa humana, com formação ética, desenvolvimento da autonomia intelectual e pensamento crítico;
- A compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos dos processos produtivos, com relação entre teoria e prática no ensino de cada disciplina.
Ensino médio técnico na Bahia
Além de estabelecer as normas para a formação básica regular dos estudantes, a LDB permite que o ensino médio seja articulado com a educação técnica, de forma integrada ou concomitante. Isso acontece em 502 escolas estaduais da Bahia, número correspondente a 52,5% da oferta de unidades escolares estaduais (UEE).
No modelo integrado, os cursos devem ser planejados de modo que o aluno faça o ensino médio junto com a formação técnica, na mesma escola, com uma única matrícula. As instituições devem cumprir com as normas complementares dos respectivos sistemas de ensino.
Já na formação concomitante, o aluno matriculado no ensino médio pode efetuar uma segunda matrícula em cursos técnicos ou profissionalizantes, na mesma instituição de ensino ou em uma instituição distinta.
Ensino médio em colégios militares estaduais
Em toda a Bahia, existem 16 Colégios da Polícia Militar (CPMs). Destes, cinco estão localizados em Salvador (Cajazeiras, Dendezeiros, Lobato, Ribeira, Luiz Tarquínio) e 11 no interior do estado, nas cidades de Alagoinhas, Barreiras, Bom Jesus da Lapa, Candeias, Feira de Santana, Ilhéus, Itabuna, Jequié, Juazeiro, Teixeira de Freitas, Vitória da Conquista.
Os CPMs estaduais obtiveram oito dos dez melhores resultados no Enem entre as escolas públicas estaduais da Bahia: CPM Vitória da Conquista (1º colocado), Itabuna (2º lugar), Luiz Tarquínio (3º), Barreiras (4º), Teixeira de Freitas (5º), Dendezeiros (6º), Juazeiro (8º) e Jequié (10º).
Adequação do ensino médio na Bahia ao contexto local
De acordo com o artigo 36 da LDB, o currículo do ensino médio deve ser composto pela Base Nacional Comum Curricular e por itinerários formativos, organizados por meio da oferta de diferentes arranjos curriculares, conforme a relevância para o contexto local e a possibilidade dos sistemas de ensino.
Esta diretriz deve ser aplicada em todas as escolas da etapa final da educação básica, mas se torna mais evidente em modalidades como escolas indígenas e quilombolas, que são estruturadas para respeitar a diversidade de línguas, tradições e modos de vida. De acordo com o Censo Escolar 2024, na Bahia, 23 escolas estaduais indígenas e 26 quilombolas ofertam o ensino médio.
Na educação técnico, a adaptação ao contexto local é expressiva nos Centros Territoriais de Educação Profissional (CETEP), que visam atender às demandas regionais dos territórios identidade em que estão inseridos.
Ensino médio em tempo integral
A SEC também informa que 214 escolas estaduais ofertam o ensino médio em tempo integral. As diretrizes para essa forma de ensino foram publicadas no dia 6 de agosto de 2025, em uma resolução do Conselho Nacional da Educação. De acordo com a Secretaria de Comunicação Social do estado da Bahia, em todas as etapas da educação básica, o ensino em tempo integral teve um aumento de 42% em relação a 2024.
A ampliação desse modelo educacional segue o Programa Escola em Tempo Integral, lançado pelo Governo Federal em 2023, que tem como objetivo aumentar as matrículas na Educação Básica com o oferecimento de suporte técnico e financeiro, beneficiando especialmente alunos em situação de maior vulnerabilidade social.
Entre as ações do governo do estado para a expansão da modalidade está o Programa Baiano de Educação Integral Anísio Teixeira, que propõe estratégias como a Educa Mais Bahia. A iniciativa disponibiliza, no contraturno escolar dos anos finais do ensino fundamental e no ensino médio, oficinas de atividades artísticas, esportivas, culturais, de saúde e de cidadania, para a formação integral dos estudantes.
Resultados da Bahia no Enem 2024
A Bahia se encontra entre os quatro últimos colocados no ranking do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2024, que considera a média de desempenho dos candidatos nos 26 estados e no Distrito Federal. Para fazer o levantamento, a reportagem do Aratu On analisou os microdados da avaliação, divulgados pelo Ministério da Educação por meio do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).
Entre as escolas baianas com melhores médias de desempenho no Enem 2024, predominam instituições privadas. No topo do ranking está o Colégio Bernoulli, que alcançou a nota média de 730,49, consolidando-se como a melhor escola de Salvador e da Bahia no Enem 2024. Em seguida, estão o Centro Educacional Villa Lobos (687,10) e o Colégio Integral (682,83), ambos privados e reconhecidos pela qualidade do ensino oferecido.
As únicas escolas públicas no ranking dos 100 melhores desempenhos médios no estado são de dependência administrativa federal. São elas: o Colégio Militar de Salvador, que ocupa a 28° posição, com média de 658,36 pontos, e o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (IFBA) - Campus Salvador, em 98° lugar, com média de 628,86 pontos.
Os Institutos Federais protagonizam 25 dos 30 melhores resultados entre as escolas públicas da Bahia no Enem 2024. Já os colégios militares se destacam entre as instituições estaduais, com as melhores classificações no ranking.
O Colégio da Polícia Militar CPM Eraldo Tinoco, de Vitória da Conquista, é a escola estadual melhor classificada, ocupando o 234° lugar na classificação geral do estado, com média de 586.97 pontos. Quando são consideradas apenas instituições públicas, o CPM figura na 19º posição.
A partir da edição de 2025, a avaliação volta a servir como conclusão do ensino médio e como declaração parcial de proficiência nessa etapa de ensino, desde que o participante alcance a pontuação mínima em cada área de conhecimento das provas.
O desafio da evasão escolar no ensino médio
A Bahia é o terceiro estado do Brasil com maior atendimento na pré-escola (97,3%) e tem 99,5% de escolarização entre crianças e adolescentes de 6 a 14 anos, que é a idade correspondente ao ensino fundamental. Desse modo, a idade correspondente ao curso ideal do ensino médio (15 a 17 anos), em que a taxa de escolarização cai para 95,9%, apresenta o principal desafio para o enfrentamento da evasão escolar.
Os dados são do Panorama de acesso à Educação Infantil no Brasil de 2024 e da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua Anual do 2º trimestre de 2025, respectivamente.
Em entrevista ao Aratu On, publicada no dia 25 de setembro, o assessor especial da Secretaria Estadual de Educação (SEC-BA), Manoel Calazans, explica que a evasão escolar tem motivações complexas. Dentre elas, estão as necessidades financeiras da família.
"Existe uma questão muito forte relacionada à sobrevivência, à economia e ao orçamento familiar. Muitos jovens começam a trabalhar em mercadinhos, em oficinas, vão ser estagiários e acabam saindo da unidade escolar. Então, a gente vê essa concentração da evasão escolar no ensino médio, muito por conta da ida para o mercado de trabalho."
Entre as iniciativas para o combate este desafio estão o programa Bolsa Presença, que oferece um incentivo financeiro associado à frequência escolar a estudantes de baixa renda. Manoel Calazans também cita a estratégia Busca Ativa Escolar, desenvolvida pela UNICEF para ajuda estados e municípios a identificar e auxiliar estudantes que deixaram a escola ou têm risco de evasão.
O assessor aponta reprovação escolar como outro fator de risco para o abandono dos estudos. "Existem diversos estudos acadêmicos que comprovam que a multirrepetência favorece a defasagem idade-série e, consequentemente, a evasão escolar".
Para combater a multirrepetência, a Secretaria da Educação do Estado da Bahia implementa o Regime de Progressão Parcial (RPP), em que o aluno avança os estudos, mas "fica devendo os componentes curriculares em que ele não foi aprovado".
A SEC dispõe de um ambiente virtual de ensino chamado Plataforma Plural, em que o estudante tem aulas referentes à série anterior, com o objetivo de prestar avaliações. "Inclusive, existem professores que têm uma carga horária por escola já para acompanhar esses meninos que estão em RPP", explica o assessor.
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