Aluno nega ter chamado professora da UFBA de 'vadia': 'Desatenção'

Professora da UFBA, Juliana Damasceno, alega ter sido chamada de "vadia" durante conferência online em 6 de outubro

Por Anna Caroline Santiago.

O Centro Acadêmico Ruy Barbosa (CARB) se manifestou em defesa do aluno Pedro São Paulo, presidente da entidade, após a professora da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Juliana Damasceno, acusá-lo de ataques de misoginia. Segundo a gestão do centro acadêmico, o episódio em que a professora teria sido chamada de "vadia", pelo menos três vezes, não se dirigiu a ela.

Aluno nega ter chamado professora da UFBA de 'vadia': 'Desatenção'.Foto: Reprodução

O incidente ocorreu no último dia 6, durante uma reunião extraordinária da Congregação da Ufba, e ganhou repercussão após o ex-prefeito de Euclides da Cunha e pré-candidato a deputado estadual, Luciano Pinheiro - irmão da professora - se manifestar publicamente nesta quarta-feira (15), Dia dos Professores. Em nota, ele classificou o ataque como “covarde e inaceitável”, especialmente em um ambiente acadêmico “que deveria promover respeito e diálogo”.

Veja o momento:

"Desatenção"

De acordo com o Centro Acadêmico, o episódio teria sido resultado de um descuido. "O presidente participava remotamente a partir da sala do CARB, local de circulação comum de estudantes, onde ocorriam interrupções, conversas e provocações entre colegas", explicou.

Ainda segundo a nota, o xingamento ocorreu "em um momento de desatenção e estresse, com o microfone aberto por descuido, e foi direcionado a um colega próximo. A expressão, embora inadequada, não constituiu, em nenhum momento, ataque à docente ou a qualquer outra mulher".

O CARB acrescentou que, assim que percebeu o ocorrido, Pedro buscou esclarecer, inclusive em grupo institucional interno, que as palavras não haviam sido dirigidas à professora. Testemunhas podem confirmar o contexto do episódio.

Foto: Divulgação

O Centro também afirmou que houve um “desequilíbrio institucional” ao acusar publicamente um estudante, ressaltando que um professor detém poder simbólico capaz de prejudicar reputações e comprometer trajetórias acadêmicas.

O que diz a professora

Juliana destacou que as agressões são reflexo de uma cultura patriarcal que deslegitima a presença feminina em posições de liderança e decisão dentro da academia e do serviço público. Ela ressaltou ainda que o episódio ocorreu em um espaço no qual dedicou mais de 25 anos de sua trajetória profissional, como aluna, pesquisadora e professora.

A professora também citou a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher, que assegura às mulheres o direito de participar plenamente da vida pública e de viver livres de discriminação e violência.

Juliana informou que as providências necessárias para a sua proteção já estão sendo tomadas e que confia na atuação das autoridades públicas para investigar o caso e responsabilizar os envolvidos.

“É lamentável constatar que, mesmo em pleno século XXI, a violência de gênero ainda se manifesta nos mais diversos espaços, públicos e privados”, afirmou Pinheiro.

Ele destacou o profissionalismo e a trajetória da irmã, lembrando que o caso revela como o machismo persiste até em ambientes de alta formação intelectual.

“Minha irmã Juliana Damasceno, mãe, mulher, professora de uma universidade pública federal e pessoa honrada, foi alvo de um ataque misógino praticado por um aluno durante uma sessão da Congregação da Faculdade de Direito da UFBA”, acrescentou.

Até o momento, a Universidade Federal da Bahia não se pronunciou oficialmente sobre o episódio.

Outros casos

Esta não é a primeira situação em que mulheres são submetidas a esse tipo de constrangimento. Em maio deste ano, a ministra Marina Silva foi alvo de ataques durante sessão deliberativa no Plenário do Senado Federal.

Marina Silva. Foto: Agência Brasil

Em 2024, a a então deputada estadual Ivana Bastos (PSD), hoje presidente da Assembleia Legislativa da Bahia, insinuou que o machismo era o principal fator responsável pelas tentativas de tirá-la da disputa pela presidência da entidade. 

Este tipo de comportamento tem provocado, também, reações positivas da sociedade. Em abril, o Ministério Público do Estado da Bahia instituiu uma política de cotas para mulheres vítimas de violência doméstica em contratos de prestação de serviços contínuos de mão de obra firmados pela Instituição.

 

 

Siga a gente no InstaFacebookBluesky e X. Envie denúncia ou sugestão de pauta para (71) 99940 – 7440 (WhatsApp).

Comentários

Importante: Os comentários são de responsabilidade dos autores e não representam a opinião do Aratu On.

Nós utilizamos cookies para aprimorar e personalizar a sua experiência em nosso site. Ao continuar navegando, você concorda em contribuir para os dados estatísticos de melhoria. Conheça nossa Política de Privacidade e consulte nossa Política de Cookies.