Quais setores da Bahia devem ser mais afetados pelo tarifaço de Trump?
Para especialista, apesar dos impactos sofridos pela Bahia, os Estados Unidos devem sofrer mais com tarifaço promovido por Trump
Por Matheus Caldas.
Quais setores da Bahia devem ser mais afetados pelo tarifaço de Trump? Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, os mais impactados devem ser segmentos ligados às exportações de celulose, e de produtos siderúrgicos e da indústria petroquímica.
Na última quarta-feira (9), o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou sobretaxa de 50% sobre produtos brasileiros. Como justificativa, o norte-americano citou os processos contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), no âmbito do Supremo Tribunal Federal (STF), e decisões da Corte de remover conteúdos de redes sociais americanas.
Apesar das sanções impostas por Trump, especialista aponta que os Estados Unidos devem sofrer mais que a Bahia com os próprios embargos promovidos, caso a Lei de Reciprocidade anunciada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) seja aplicada aos estadunidenses (entenda abaixo).
Mas como 'tarifaço de Trump' afeta exportações baianas?
Em 2024, a Bahia exportou R$ 1,2 bilhão de materiais ligados à celulose, como pastas de madeira ou papel. Foi o setor que concentrou o maior saldo positivo para o estado, se somados os custos e lucros com exportações e importações.
Em segundo lugar, o setor com maior saldo positivo foi o da siderurgia, notadamente a de produção de ligas de ferro: R$ 391,7 milhões. Outro setor impactado diretamente é o da produção de cacau, responsável por R$ 283,6 milhões em exportações.
Há outros segmentos que exportaram montantes maiores, mas que, na balança comparativa com as importações, obtiveram lucros menores, como é o caso os da produção de borracha e da indústria petroquímica.
No ano passado, os Estados Unidos foram responsáveis por receber 7,4% das exportações baianas, ficando atrás, apenas, da China (28%) e Singapura (10%).
Os norte-americanos, contudo, são o segundo maior parceiro comercial da Bahia, concentrando 16% das negociações comerciais, sejam importações ou exportações. O primeiro é a China, com 19%.
Para o especialista em comércio internacional, logística e políticas para o desenvolvimento, Henrique Oliveira, apesar dos impactos sofridos pela Bahia, os Estados Unidos devem sofrer mais com os próprios embargos promovidos.
Caso aplicada a Lei de Reciprocidade prometida por Lula, as taxas de 50% serão, majoritariamente, aplicadas aos norte-americanos. “Os Estados Unidos são o terceiro maior destino, mas é de onde a gente principalmente compra. É o principal fornecedor da Bahia. Então, a coisa pode ter impacto até mais para eles”, analisa, em entrevista ao Aratu On.
Em 2024, a Bahia exportou arrecadou R$ 4,9 bilhões com as exportações para os Estados Unidos. Contudo, registrou gastos de R$ 15,5 bilhões com importações.
Nesta quinta-feira (10), o governador Jerônimo Rodrigues (PT) afirmou que se reunirá com representantes da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb) para debater os impactos da medida americana. "O setor produtivo não pode pagar essa conta. A política não pode atrapalhar o setor produtivo. Na medida em que um presidente escreve uma carta, dizendo que não concorda com o procedimento jurídico do Estado, que não é dele, ele quebra a soberania de um país. Isso é muita irresponsabilidade", lamentou.
Exportações baianas aos Estados Unidos em 2025
De acordo com os dados do governo federal, neste ano os Estados Unidos perdem para China, destino de 24% das exportações baianas, e Canadá, para onde 9,4% das exportações baianas foram destinadas entre janeiro e julho deste ano. Os estadunidenses ficam na terceira colocação, com 8,3%.
Até o momento, os maiores superávits baianos no ano foram registrados na indústria cacaueira R$ 260,4 milhões e celulose, com R$ 258,7 milhões.
O café representou, somente neste ano, saldo positivo de R$ 57,2 milhões na balança corrente, entre importações e exportações.
Para Henrique Oliveira, as taxas impostas por Trump devem culminar em um acentuamento da desconfiança dos países com os Estados Unidos. “A tendência é os Estados Unidos perderem ainda mais espaço no comércio. Aí muda o governo lá e muda tudo. Que negócio é esse? E eu não sei se Estados Unidos têm esse poder que tinha antes”, pontua.
Aspectos políticos
Na visão de Oliveira, o clã Bolsonaro vem “agindo contra o Brasil”. O pesquisador entende que a ida do filho do ex-presidente, Eduardo Bolsonaro, aos Estados Unidos, foi fator preponderante para a aplicação do tarifaço de Trump.
“Eles fazem esses movimentos para que o presidente dos Estados Unidos aplique sanções ou constrangimentos ao Brasil, porque eles perderam as eleições ou porque estão sendo julgados por golpe”, critica.
Diante deste cenário, o pesquisador ressalta que o anúncio feito por Trump “é sem precedentes na história das relações entre os dois países”.
Ele pontua que os Estados Unidos “descumprem as regras criadas por eles mesmos”. “Dentro de um contexto normal da Organização Mundial do Comércio, tendo o regime normal do comércio internacional, isso que o Trump fez nunca seria possível. Se criar uma taxação assim do nada. É porque órgão de apelação do Sistema de Soluções de Controvérsias da Organização da OMC está travado justamente pelo próprio Trump”, observa.
Henrique Oliveira classifica a relação entre Brasil e Estados Unidos como “frustração”, por considerar que os norte-americanos possuem mais ganhos que perdas. “Isso é dado. É consenso na literatura. A diplomacia brasileira sempre age de uma forma muito pragmática e com o pé atrás, com certa desconfiança”, opina.
Diante deste contexto, o especialista destaca haver janelas de oportunidades no mundo para relações mais difundidas entre os países. “Os Estados Unidos vivem um momento muito diferente do que viveram nos anos 90. Eles enfrentam queda no poder relativo, na posição de hegemonia. O mundo está passando de uma balança de poder unipolar para uma balança de poder mais multipolarizada”, afirma.
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