Fernanda Torres e a sua ligação com o candomblé após aborto traumático
A vencedora do Globo de Ouro de melhor atriz de drama, acaba de ser indicada ao Oscar 2025
Por Diorgenes Xavier.
Fernanda Torres tem sido um dos temas mais comentados no país nas últimas semanas — a vencedora do Globo de Ouro de Melhor Atriz de Drama acaba de ser indicada ao Oscar 2025. O talento pode ser público, a obra, vasta e interessante, como a própria personagem que ela encarna na vida real. O que alguns talvez não conheçam é a relação dela com o candomblé, religião de matriz africana tão presente no DNA da Bahia.
A história de Fernanda com os orixás é recheada de atravessamentos. Tem superação, drama e final feliz, como em um bom roteiro de filme. O depoimento aparece no filme Jogo de Cena, dirigido pelo documentarista Eduardo Coutinho, lançado em 2007. Nele, a artista conta que procurou pela tia "Aurinha", mãe de santo e irmã de Fernanda Montenegro, após ter sofrido um aborto espontâneo.
"Eu queria muito ter filho, né? Aí, eu engravidei e perdi, o que é normal, um mês e meio [depois]. Mas, eu fiquei com muito medo, entrei no maior buraco... será que vai dar problema na minha vez? Será que isso vai virar um drama?", conta.
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A tia e mãe de santo, Aurinha, tinha um terreiro em Tinguá, no Rio de Janeiro. E foi a ela a quem Fernanda recorreu eu um de seus piores momentos. "Eu liguei para ela e falei: 'Tia, acho que eu quero ir para Tinguá'".
Nas memórias de Fernanda, a mulher, que é definida pela atriz como "rainha", se vestia de branco, colocava os pontos de Iansã e comandava o local. Foi através dela e pela conexão com o candomblé que a artista teve uma de suas experiências mais reveladoras e aprendeu a lidar com medos e traumas, não sem antes superar questões que a afligiam.
"O dia foi passando, a gente foi conversando, e eu comecei a sacar que, talvez, tivesse matança de bicho, de galinha, e comecei a ficar com medo. Minha tia olhou para mim e falou assim: 'Nanda, você me pediu para vir. Agora, temos que fazer'".
Fernanda conta que passou a noite na camarinha, local onde os filhos de santo ficam recolhidos e, aí, começou a ressignificar o sentido da vida e, sobretudo, dos traumas recentes que a fizeram questionar a si própria e as coisas ao seu redor. "Eu tive um descargo de energia, de tristeza. Foi uma loucura. E você tinha que dormir na camarinha com a oferenda. No chão. Tinha rato. Eu dormi ali".
Na manhã seguinte, ela explica que encontrou a tia, toda vestida de branco, e com um pombo preso em uma gaiola. "Eu fui ficando 'griladaça'. Ai, meu Deus, a minha tia vai matar esse pombo. Ela virou para mim e disse: 'É horrível lá dentro, né? Pois é, Nanda, aquilo é a morte. É dali que você tem que sair'". A pomba que Fernanda pensava que seria morta representava o nascimento, um novo momento: "Essa pomba é você! Eu vou é te soltar!".
Curada da "melancolia", da "morbidez", ela diz ter entendido o sentido da vida. Compreendeu que a camarinha "era a morte", que a pomba era ela. Fernanda engravidou cerca de um mês depois do seu primeiro filho e Tia Aurinha, coincidência ou não, morreu logo após o evento revelador na vida da sobrinha. Livre para voar, a atriz ganhou o mundo. A tia, de onde estiver, testemunha, orgulhosa, os voos dessa nova mulher, surgida depois da sua experiência com o candomblé.
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