'Periferia não é só miséria', diz criador do Acervo da Laje, museu no Subúrbio Ferroviário de Salvador
José e Vilma Santos são os criadores do Acervo da Laje, espaço ganhador do troféu 'O Bem Transforma' na categoria 'Educação'
Espaço de memória artística, cultural e de pesquisa sobre o Subúrbio Ferroviário de Salvador. Este é o Acervo da Laje, situado em São João do Cabrito, na capital baiana, vencedor do troféu "O Bem Transforma", iniciativa da TV Aratu, na categoria "Educação", em outubro.
"A periferia não é só miséria. Não é só violência. Tem muita gente engajada para diminuir as dificuldades. A gente trabalha muito com educação, pra arte, memória...", diz José Eduardo Santos, um dos criadores do Acervo da Laje.
A Associação Cultural Acervo da Laje é formada por duas casas que contém bibliotecas, hemeroteca, coleções de CDs, discos, manuscritos, croquis, conchas, tijolos, azulejos e porcelanas antigas, artefatos históricos, quadros, esculturas em madeira e alumínio, fotografias e objetos que contam a história do Subúrbio. A ideia principal é dialogar com toda a cidade e mostrar que também há beleza e elaborações estéticas nesse território.
"Você está na periferia, mas há possibilidade de sonhar, acreditar no futuro e tocar nas obras de arte, na beleza... fazer uma experiência do sensível e do excelente nesses territórios que, muitas vezes, são considerados só como vulneráveis", acrescenta José.
Em 2021, o uso dos espaços foi repensado e analisado. "Na primeira casa tem a exposição de todas as obras, e a segunda é onde tem as atividades, encontros, bate-papos... crianças e professoras", explica Vilma Santos, cocriadora do Acervo.
No fim das contas, o espaço simboliza muito mais. "É a nossa casa, que abriu pra todo mundo visitar, é uma escola, porque agrega conhecimento, e é um museu, porque é um conjunto de várias obras de diferentes artistas do Subúrbio e do mundo", complementa José.
Para eles, é muito importante ter um espaço como o Acervo da Laje em um local periférico, ainda mais em uma cidade como Salvador, na qual os equipamentos de arte estão situados, geralmente, no Centro, "e as periferias estão 'ao léu'".
"Quanto mais você tiver de espaço de arte, memória, cultura, filmes, poesias e artes visuais, mais isso vai dar repertório para outras gerações, porque eles não vão ser tolhidos dessa experiência estética que é tão importante para se desenvolver. Quem tem mais repertório, tem mais possibilidades de enfrentar as dificuldades nas transições da vida", reflete José.
O que o casal - e todos os envolvidos - fazem é criar um "trabalho preventivo", através de exposições, oficinas, bate-papos, etc., para que o Acervo da Laje seja a "casa da arte" dessas pessoas, e que elas tenham possibilidade de, dentro dessa experiência, ganhar o mundo.
"As famílias se engajam, as escolas... a gente está sempre dialogando com elas, com os pais, professores, e eles contribuem com o nosso trabalho no Acervo", fala Vilma. "É ter uma riqueza no lugar onde eles moram", completa.
"A gente abriu não só as nossas casas, mas todo o conhecimento e repertório que construímos na vida. Com o Acervo na Laje e toda a generosidade desses artistas, de democratizar a arte e fazer com que essa arte chegue a quem sempre teve que chegar", conclui José.
EXPOSIÇÃO - MEMÓRIAS PARA DONA ANTÔNIA
Dona Antônia | Fotografia: Ana Dévora
Neste sábado (25), a partir das 14h, a Casa 2 do Acervo da Laje vai abrir uma exposição especial em homenagem à mãe de Vilma, intitulada "Memórias para Dona Antônia". A matriarca faleceu em fevereiro deste ano, em decorrência do Alzheimer.
A mostra vai reunir obras de 25 artistas - do Brasil e do mundo -, com releituras de uma fotografia de Dona Antônia, feita pela fotógrafa espanhola Ana Dévoras. "Talvez seja uma das primeiras exposições onde vamos ter uma homenagem tão forte pra uma mulher negra, da periferia, e que fez tanto pelo Subúrbio Ferroviário de Salvador", pontua José.
"Memórias para Dona Antônia" ficará disponível ao público de 25 de novembro a 4 de fevereiro, diariamente, das 9h às 17h, na Casa 2 do Acervo da Laje.
SERVIÇO
Memórias para Dona Antônia
Quando: 25 de novembro a 4 de fevereiro, das 9h às 17h
Onde: Casa 2 do Acervo da Laje, Rua Sá Oliveira, bairro de São João do Cabrito, Salvador-BA
Quanto: aberta ao público
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