Cultura

Por trás das latinhas: Sujeitos à violência, catadores sobrevivem em meio a invisibilidade e o risco no Carnaval

Por trás das latinhas: Sujeitos à violência, catadores sobrevivem em meio a invisibilidade e o risco no Carnaval

Por Diorgenes Xavier

Por trás das latinhas: Sujeitos à violência, catadores sobrevivem em meio a invisibilidade e o risco no CarnavalDinaldo dos Santos

Disputadas como ouro, no Carnaval, as latinhas de cervejas descartadas pelos foliões, após a ingestão do líquido, são produtos importantes para o complemento da renda de muita gente. O alumínio, metal que compõe o vasilhame, não chega a ser raro, mas é, de fato, precioso para quem dele tira o seu sustento.


Em uma festa popular desta dimensão é bastante comum a presença maciça dos ?catadores de latinhas?. Eles estão por toda a parte: seja na porta dos camarotes, na frente dos bares e até próximo às cordas dos blocos. Em meio à folia, todo esforço é válido para reunir o material.


Transformar a coleta em dinheiro não é tarefa das mais difíceis. Nos circuitos da folia existem muitos postos de captação. Segundo o gerente de uma das cooperativas que atua na Rua Marques de Leão, Nilton Moreira, somente no circuito Dodô há dezenas de pontos de troca.


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Nos circuitos, caminhões das cooperativas recolhem as latas adquiridas. Foto: Dinaldo dos Santos


 


?A gente sabe que tem muitos viciados que catam latinhas para conseguir comprar drogas, mas tem também muitos pais e mães de famílias que trabalham para sustentar a casa,? comenta Moreira.


Este é o caso do sapateiro e vendedor de picolé Jurandir Silva, de 55 anos. Morador do bairro de Pirajá, no início da tarde deste sábado, ele estava trocando 2kg de latinhas por R$ 6,00. ?Essa foi a minha primeira viagem de hoje. Não costumo demorar muito aqui e levo para casa, mais ou menos, R$ 25,00.


Segundo ele, o dinheiro que ganha consertando sapato e vendendo picolé  não dá para pagar as despesas da casa, mesmo contando com a ajuda da esposa, que trabalha como faxineira, para complementar a renda e garantir o ?pão? de três filhos.


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Jurandir é sapateiro e também vende picolé. Foto: Dinaldo dos Santos


O idoso, João José Santos Nascimento, de 63 anos, é carpinteiro fora do Carnaval. Ele é divorciado e os seus filhos ?já estão criados?. Mas apesar de ter uma profissão, José se sente excluído do mercado de trabalho e vê nas latinhas a alternativa que lhe garante um trocado.


?Quando a gente passa dos 40 anos fica difícil arranjar emprego?, lamentou, no momento em que recebia R$ 6,00 pelo produto vendido. ?Sêo? José disse que neste sábado não ia trabalhar até mais tarde, porque não estava com um calçado apropriado para enfrentar a multidão e temia acabar com os pés machucados.


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O idoso João José lamenta o calçado inadequado para encarar a multidão. Foto: Dinaldo dos Santos


A luta pelas latinhas vazias faz parte até daqueles que vendem o vasilhame cheio da ?loirinha?. Ivanilda Castro, 52 anos, é vendedora ambulante e, na medida do possível, recolhe as latas descartadas pelos seus clientes. A ambulante no momento da reportagem havia vendido 3,5 kg do produto e faturou R$ 10,50.


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Ivanilda vende a cerveja e aproveita as latinhas. Foto: Dinaldo dos Santos


Da mesma forma, procede o adolescente de 13 anos, que preferiu se identificar como Tatai. A mãe dele também vende cervejas e o menor aproveita a oportunidade para ganhar um trocado com as latinhas. Ele é morador de Cajazeiras e aluno da 5 série da rede estadual. ?Vou aproveitar esse dinheiro para fazer uma merenda?, disse após ganhar R$ 14,30 em um posto que estava pagando R$ 2,60 no quilo.


CRIME NO CIRCUITO


Infelizmente, nem todos que exercem a atividade nos circuitos da folia têm o compromisso de trabalhar para o sustento. Dentre eles, sempre há pessoas de índoles duvidosas inseridas e, por isso, ocorrências policiais envolvendo catadores não são pouco frequentes.


Na manhã deste sábado (6/02), a Polícia Civil emitiu nota à imprensa informando que investiga as circunstâncias de uma briga entre catadores de lata que resultou na morte de Evilasio dos Santos, de 35 anos, por volta das 23h de ontem (05/2), no final do circuito Dodô, no bairro de Ondina.


A vítima, conhecida como Cara de Cachorro, foi esfaqueada e socorrida por uma equipe do Corpo de Bombeiros Militar, mas não resistiu aos ferimentos, morrendo em um posto policial da avenida Adhemar de Barros. O caso está sendo investigado pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).


LEIA TAMBÉM: ASSASSINATO: Polícia investiga morte de catador de lata esfaqueado no circuito do Carnaval


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