Saúde e Bem-Estar

Você sabia que pacientes com alterações do padrão do sono são mais suscetíveis a desenvolver dor crônica?

Colunista On: Dra. Anita RochaAlgologista e especialista no tratamento da dor
Você sabia que pacientes com alterações do padrão do sono são mais suscetíveis a desenvolver dor crônica?

Foto: ilustrativa/Pexels

 


sono é um processo fisiológico e comportamental complexo que permite ao indivíduo isolar-se parcialmente do ambiente externo, sendo considerado essencial para a recuperação psicológica e física do ser humano,para a consolidação da memória e para a modulação da emoção, do desempenho e da aprendizagem.


Há duas fases que se destacam na compreensão da fisiologia do sono, a fase não-REM (NREM) e a fase REM. A fase não-REM é conhecida como a fase de movimentos não rápidos dos olhos, enquanto que a fase REM tem sido denominada como fase de movimentos rápidos dos mesmos. Cada uma destas fases encontra-se associada a elementos fisiológicos, comportamentais, neuroquímicos e eletrofisiológicos próprios.


O sono NREM é subdividido em três estágios, N1, N2 e N3. Os estágios N1 e N2 representam o “sono leve”, enquanto que o N3 é o “sono profundo”, caracterizado por limiares de excitabilidade mais elevados e domínio da atividade cerebral de ondas lentas. É na fase NREM que ocorre a redução da atividade física e mental, da frequência cardíaca, da pressão arterial e da respiração. No ciclo do sono, esta fase é seguida pela fase REM, momento em que se observa intensa atividade cerebral, redução ou inatividade da musculatura e instabilidade dos parâmetros fisiológicos. A medida que a noite avança, a duração e a frequência do estágio N3 diminuem, o estágio 2 torna-se mais proeminente e as fases REM tornam-se mais longas. É durante a fase REM que predominam os sonhos, a consolidação da memória de curto prazo e o aprendizado.


Numerosos estudos têm sido realizados no sentido de identificar a relação entre sono e dor. Em verdade, o que se sabe é que o sono é um impulso regulado pelo comportamento, que tem por função manter a homeostase do organismo e otimizar a função em vários sistemas fisiológicos. A dor, por sua vez, é um sinal físico e emocional de dano corporal que motiva fortemente o comportamento. Sono e dor estão relacionados. As queixas de sono estão presentes em 67-88% dos distúrbios de dor crônicae pelo menos 50% dos indivíduos com insônia, distúrbio de deficiência do sono mais comumente diagnosticado, sofrem de dor crônica. 


Embora a relação entre má qualidade do sono e dor crônica pareça óbvia, sua bidirecionalidade tem sido alvo de vários questionamentos. Análises qualitativas recentes de estudos longitudinais e não longitudinais apontam para um efeito unidirecional em favor do pensamento de que os distúrbios do sono causam exacerbação da dor e hiperalgesia, fenômeno responsável pelo aumento da sensibilidade à estímulos dolorosos. Em contraste, outros trabalhos tem demonstrado que estímulos nociceptivos podem interromper o sono e produzir significativo aumento dos despertares noturnos, o que se traduz em piora da qualidade de vida, queda da produtividade e aumento do sofrimento. Isto demonstra o quanto é importante investir em uma melhor compreensão destes fenômenos e também das variáveis biopsicossociais que contribuem para o desenvolvimento de transtornos do sono e da dor, buscando identificar aqueles que são passiveis de serem trabalhados de forma preventiva. Sabe-se que afetos negativos como humor depressivo são fatores preditivos positivos para o desenvolvimento de insônia. Um estudo publicado na ClinicalJournalofPain demonstrou que humor negativo media a relação entre sono e dor em pacientes portadores de dor nas costas, fibromialgia e dor facial. 


Diferentes estratégias têm sido propostas para o controle e prevenção dos distúrbios do sono e consequentemente da dor. Dentre elas destacam-se medidas simples de prevenção primária, as quais são representadas pela realização de atividade física regular, cuidados com a alimentação e a adoção de condutas que venham a contribuir para a redução de estresse. Neste contexto, é fundamental estipular um horário fixo para deitar e acordar, mesmo nos finais de semana, evitar consumo de bebidas alcóolicas e cigarro, pelo menos quatro horas antes de deitar, evitar a ingesta de bebidas e alimentos com cafeína antes de dormir, praticar esportes de forma regular, porém evitar faze-lo próximo ao horário de dormir, tornar o quarto um ambiente confortável, silencioso e com pouca luz e manter-se longe de dispositivos eletrônicos como celular e televisores nas horas que antecedem o momento de ir para a cama. 


*Este material não reflete, necessariamente, a opinião do Aratu On.



 

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Dra. Anita Rocha

Dra. Anita Rocha

Dra. Anita Rocha é médica Algologista , coordenadora do Itaigara Memorial Clínica da Dor, membro titular da Sociedade Brasileira de Anestesiologia; da Sociedade Brasileira de Dor e da Sociedade Brasileira de Médicos Intervencionistas da Dor. Possui residência médica em Anestesiologia pelo CET Obras Sociais Irmã Dulce; em Clínica da Dor pela UNESP-Botucatu e formação em Técnicas Intervencionistas para o tratamento da dor na Singular/Campinas. 

Instagram: @draanitarocha
 

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