Saúde e Bem-Estar

Síndrome de hipermobilidade articular benigna e dor: quando a flexibilidade deixa de ser uma virtude

Colunista On: Dra. Anita RochaAlgologista e especialista no tratamento da dor
Síndrome de hipermobilidade articular benigna e dor: quando a flexibilidade deixa de ser uma virtude

Foto: ilustrativa/Pexels

 


A dor musculoesquelética crônica ou recorrente é uma queixa comum nos consultórios de pediatria, afetando entre 10% e 20% das crianças e representando um dos motivos mais frequentes de encaminhamento aos serviços especializados. Dentre as diferentes causas de dor musculoesquelética destacam-se as síndromes de hipermobilidade representadas por síndrome de hipermobilidade articular benigna, síndrome de Ehlers-Danlos, síndrome de Marfan, síndrome de Loeys-Dietz e síndrome de Stickler. Quanto nome difícil! Mas o que estas condições têm em comum além da dor? Representam em sua maioria condições genéticas.


Entre as síndromes citadas, a síndrome da hipermobilidade articular benigna merece ser discutida por ser bastante comum, afetando de 10-20% das crianças e adolescentes, em uma ou várias articulações. É mais frequente no sexo feminino e tende a regredir com o avançar da idade. Ainda assim, a hipermobilidade articular pode estar presente em até 30% dos homens e 40% das mulheres durante o início da idade adulta. Nesta condição, as crianças apresentam articulações hipermóveis e amplitude de movimento considerada excessiva, achados que geralmente estão associados a dores articulares ou dores em regiões periarticulares como tendões e ligamentos, as quais são noturnas ou estão presentes após atividade física desempenhadas pela criança no dia a dia. 


Apesar de ser uma patologia comum, a síndrome da hipermobilidade articular benigna é sub-diagnosticada. Esta observação é algo preocupante, uma vez que muitas crianças tendem a apresentar redução do desempenho nas atividades esportivas e acabam abandonando-as progressivamente, o que impacta negativamente na interação com outras crianças, na sua saúde global e na sua qualidade de vida. O diagnostico da síndrome da hipermobilidade articular benigna é clínico, realizado a partir da história clínica e do exame físico. Não existem exames de laboratório ou de imagem que possam contribuir para a identificação desta patologia. 


A queixa predominante na síndrome da hipermobilidade articular benigna é a dor, porém há relato de fadiga excessiva, dificuldade de desempenhar algumas atividades como escrever ou fazer caligrafia e presença de estalido articular. Ocasionalmente observa-se inchaço articular com duração de horas a dias, além de subluxações com redução espontânea. Já a dor nas costas é uma queixa comum, sendo agravada pelo uso de mochilas pesadas naquelas crianças que se encontram em idade escolar. 


Por muitos anos a síndrome da hipermobilidade articular benigna esteve associada apenas a dor e a comprometimento da funcionalidade e da qualidade de vida dela decorrente, entretanto, há evidências crescentes da presença de outros queixas, tais como, alterações do ritmo intestinal, alterações urinárias, disfunções autonômicas e alterações na pele. Paciente com síndrome da hipermobilidade articular benigna geralmente apresentam diarréia, constipação, cólicas abdominais, urgência para urinar, alteração do padrão do sono, transtornos do humor, palpitação, dor de cabeça, hematomas e até mesmo uma maior facilidade para apresentação de estrias. 


O tratamento dos pacientes com síndrome da hipermobilidade articular benigna é sempre um desafio. Apesar de não existir estratégias de manejo baseadas em evidências, este deve ser individualizado e multiprofissional, considerando os sintomas apresentados e o seu impacto na qualidade de vida do paciente. Pais e filhos devem ser orientados quanto a presença e consequências da hipermobilidade. É fundamental provê-los de autoconfiança na prática de exercícios físicos orientados e de instrumentos para a prevenção e tratamento da dor, quando esta estiver presente. Geralmente recomenda-se fortalecimento muscular, crioterapia, acupuntura, práticas de relaxamento e quando estes não forem efetivos no controle dos sintomas, a utilização de medicamentos sob prescrição médica. Um aspecto importante a ser considerado é a necessidade de acompanhamento psicológico do paciente e de seus familiares, uma vez que a síndrome da hipermobilidade articular benigna, apesar de ser benigna, está associada a grande sobrecarga para todos os envolvidos.


*Este material não reflete, necessariamente, a opinião do Aratu On.


Importante: Os comentários são de responsabilidade dos autores e não representam a opinião do Aratu On.

Dra. Anita Rocha

Dra. Anita Rocha

Dra. Anita Rocha é médica Algologista , coordenadora do Itaigara Memorial Clínica da Dor, membro titular da Sociedade Brasileira de Anestesiologia; da Sociedade Brasileira de Dor e da Sociedade Brasileira de Médicos Intervencionistas da Dor. Possui residência médica em Anestesiologia pelo CET Obras Sociais Irmã Dulce; em Clínica da Dor pela UNESP-Botucatu e formação em Técnicas Intervencionistas para o tratamento da dor na Singular/Campinas. 

Instagram: @draanitarocha
 

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