Será que existe uma relação entre obesidade e dor?
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Obesidade e dor são problemas de saúde que impactam de forma direta na qualidade de vida e no surgimento de outras doenças. Relatórios recentes sugerem que quase metade da população do Reino Unido deverá ser obesa até 2030. Isto não é muito diferente no Brasil onde, em 2019, uma em cada quatro pessoas acima de 18 anos de idade estava obesa, o equivalente a 41 milhões de pessoas.
Diferentes estudos demonstram haver uma associação entre obesidade e dor crônica. Pessoas obesas tem 20% mais dor quando comparadas a aquelas que apresentam “índice de massa corpórea” (IMC) dentro do valor considerado como normal. O IMC é calculado dividindo-se o peso em quilograma pela altura, em centímetro, elevada ao quadrado. Considera-se normal o IMC que varia entre 18,5 Kg/m2 e 24,9 Kg/m2. Um IMC superior a 30mg/m2 reflete obesidade, a qual pode ser considerada obesidade grau I (IMC 30-34,9 Kg/m2), grau II (IMC 35-39,9 Kg/m2) e grau III (IMC > 40 Kg/m2). Um IMC maior que 40 é considerado “obesidade mórbida”. Esta tem uma relação com dor ainda maior quando comparada aos outros graus de obesidade, e representa uma associação que equivale a 200%.
Nenhuma relação causal isolada foi comprovada entre dor e obesidade. Acredita-se que esta ligação seja multifatorial e bidirecional. Vários estudos correlacionam positivamente a experiência de dor com o aumento do IMC e o aumento do IMC com a presença de um processo inflamatório crônico que favorece o surgimento de dor. Uma compreensão da relação entre obesidade e dor é crucial para efetivamente interromper o ciclo. Até o momento, a relação causal entre os dois permanece obscura: não se pode afirmar com segurança se a obesidade causa dor crônica, se a dor crônica causa obesidade ou algum outro fator causa as duas simultaneamente.
A obesidade é considerada causadora de dor devido ao excesso de tensões mecânicas e ao seu estado pró-inflamatório. A dor crônica pode resultar em obesidade devido à inatividade física e à utilização de medicamentos com efeito analgésico. Fatores genéticos, psicológicos ou metabólicos também podem causar obesidade e dor.
Pacientes obesos são considerados “inflamados”. Aqueles que defendem o papel das citocinas pró-inflamatórias na geração de um estado hiperalgésico advogam que uma quantidade aumentada de tecido adiposo em um indivíduo pode levar a uma resposta inflamatória aumentada com os mediadores químicos envolvidos na inflamação, como prostaglandinas, cininas e histamina, interagindo com o sistema nervoso para criar uma sensação de dor. Deve-se notar, entretanto, que há ainda muito pouca evidência para vincular diretamente a obesidade à dor por meio de processos inflamatórios e da produção de citocinas.
Vários estudos têm mostrado uma correlação positiva entre o aumento do IMC e a maior prevalência de dor musculoesquelética, particularmente da dor lombar e nos membros inferiores. A hipótese por trás dessa ligação é que sobrecarregar as articulações da região lombar, do quadril e do joelho causa lesão e degradação dessas estruturas, levando à osteoartrose e dor, entretanto é interessante notar que também existe uma correlação positiva entre o aumento do IMC e a dor em membros superiores, mas isso não poderia ser explicado por essa hipótese.
Tudo isto demonstra a necessidade de buscar outros fatores que venham a contribuir para a obesidade e para a dor. Dentre estes fatores destacam-se a síndrome metabólica, conceituada com a associação entre alterações relacionadas a metabolização da glicose, bem como dois ou mais dos diagnósticos seguintes: hipertensão, dislipidemia, obesidade central ou microalbuminúria. Outros fatores a serem considerados são depressão e elementos genéticos, alguns dos quais em princípio não são modificáveis.
É importante lembrar que embora alguns dos elementos citados tenham influência genética, que a não expressão dos mesmos pode ser trabalhada através do estimulo da população para que venha a adotar um estilo de vida saudável, pautado na prática de atividade física regular, na ingesta de uma alimentação saudável e no autocuidado.
*Este material não reflete, necessariamente, a opinião do Aratu On.