A dor e o sofrimento da síndrome pós-Covid
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A maioria dos pacientes com Covid-19 apresenta sintomas leves a moderados que se restringem a fase aguda da doença. Entretanto, alguns indivíduos desenvolvem o que tem sido denominado de síndrome pós-covid, uma condição inflamatória difusa e multissistêmica que representa uma complicação da infecção pelo SARS-Cov-2. A síndrome pós-Covid envolve o surgimento de novas alterações de saúde, as quais envolvem diferentes sistemas, são recorrentes ou contínuas e acometem pessoas que foram infectadas com o vírus SARS-Cov-2. Frequentemente este quadro persiste por mais de quatro semanas após os sintomas iniciais, mas pode estar presente mesmo naqueles que não apresentaram queixas quando foram infectados.
A síndrome pós-covid pode se apresentar de diferentes formas e se prolongar por muito tempo. Há presença de cansaço, dificuldade de concentração, perda do paladar ou do olfato, tontura, fibrose pulmonar, insuficiência renal crônica, aumento da frequência cardíaca, palpitação, falta de ar, tosse, desnutrição, transtornos do humor como depressão e/ou ansiedade e dor de múltiplas etiologias. Pacientes com síndrome pós-covid podem cursar com dor nas articulações, dor abdominal, dor torácica, cefaléia, dor muscular e dor de origem neuropática, sintomas estes que pioram após atividades físicas ou mentais. Estes sintomas álgicos são mais comuns naqueles que necessitaram de internamento em unidade de terapia intensiva. Não se tem dados específicos relacionados aos pacientes portadores de Covid-19 quanto a prevalência de dor crônica decorrente desta patologia, entretanto acredita-se que os dados não sejam diferentes daqueles observados em pacientes com síndrome pós-cuidados intensivos. É provável que aqueles pacientes que apresentaram a forma grave da Covid-19 tenham uma maior chance de desenvolver dor crônica, uma vez que foram submetidos a inúmeros fatores de risco, como: dor aguda mal tratada, agressões neurológicos, diferentes doenças coexistentes, imobilização prolongada, bloqueio neuromuscular e posição pronada. Esta pode favorecer o aparecimento de dor, decorrente de lesões do plexo braquial, subluxações articulares e desequilíbrio muscular.
Durante a pandemia, verificou-se uma sobrecarga de trabalho da equipe e uma indisponibilidade de analgésicos em algumas instituições. Isto pode ter se traduzido em uma maior exposição a dor. Por outro lado, um número grande de pacientes fez uso de medicamentos que favorecem o desenvolvimento de desequilíbrio muscular e dor, como corticosteroides e de relaxantes musculares. A fadiga e a dor muscular decorrentes do uso destes fármacos e da própria doença, muitas vezes são agravadas pela dificuldade de mobilização associada. Isto representa um ciclo vicioso que se retroalimenta e contribui para a perpetuação da dor. O fato é que a síndrome pós-covid traz sofrimento físico e psíquico prolongados, elementos que só podem ser trabalhados de forma adequada, através da atuação de uma equipe multiprofissional. Os pacientes neste contexto necessitam ser submetidos a atividades de reabilitação, orientação nutricional, suporte psicológico e acompanhamento médico especializado.
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