O desafio de lidar com a dor no idoso
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A população mundial está envelhecendo. Segundo dados das Nações Unidas, o envelhecimento populacional está prestes a se tornar uma das transformações sociais mais significativas do século XXI. Estima-se que o número de idosos, com 60 anos ou mais, duplique até 2050 e mais que triplique até 2100, passando de 962 milhões em 2017 para 2,1 mil milhões em 2050 e 3,1 mil milhões em 2100. Esta mudança traz implicações transversais para todos os setores da sociedade, resultando em um aumento da prevalência de vários problemas enfrentados pelos idosos, dentre eles a dor crônica.
A prevalência de dor crônica em idosos varia muito em todo o mundo, sendo de 15,2 % na Malásia a 69,8% na Alemanha. Esta ainda é maior em lares para idosos, quando alcança valores de 83%. No Brasil não é diferente. Um estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostra que a população brasileira vai envelhecer de forma constante e acelerada nos próximos anos. Segundo o mesmo, 40,3% dos brasileiros serão idosos daqui a aproximadamente 90 anos. Estes dados trazem preocupações uma vez que a dor no idoso é subnotificada e está associada a redução da funcionalidade, da interação social e principalmente a muito sofrimento. Alterações fisiológicas, múltiplas comorbidades e o risco de polifarmácia entre os idosos tornam o diagnóstico e o manejo da dor nesta população um grande desafio.
Os adultos mais velhos são conhecidos por terem a maior incidência de doenças, muitas dos quais podem ser dolorosos, estando associadas a dificuldade de manejo. Dentre estas causas destacam-se os distúrbios musculoesqueléticos, como osteoartrose e fratura patológica decorrente de osteoporose; dor de origem neuropática; dor isquêmica e dor secundária ao câncer e ao seu tratamento. As taxas de cirurgia, intervenções processuais, lesões e hospitalização também são mais altas nesta faixa etária. O envelhecimento é frequentemente relacionado a uma cicatrização mais lenta e a uma recuperação mais fraca de lesões e isso pode resultar em um risco potencialmente maior de desenvolver um problema de dor persistente e contínuo.
A dor em idosos está associada a um aumento da incidência de desfechos adversos, incluindo comprometimento funcional, quedas, depressão e distúrbios do sono. O manejo da dor em idosos difere significativamente daquele em pessoas mais jovens. Doenças crônicas concomitantes dificultam a avaliação e o tratamento da dor em idosos. Além disso, os idosos respondem de forma diferente a várias terapias, geralmente com menor eficácia e reações adversas mais graves, incluindo riscos adicionais de polifarmácia e vícios. Para instituir o tratamento adequado, torna-se necessária uma avaliação cuidadosa do paciente, no intuito de esclarecer não apenas o diagnostico etiológico da dor, mas também de identificar o seu impacto na funcionalidade e na qualidade de vida do indivíduo. Muitos idosos apresentam algum grau de comprometimento cognitivo, o que tem impacto na capacidade de relatar a dor, resultando em avaliação e manejo inadequados deste sintoma.
Várias opções de tratamento estão disponíveis, dentre as quais destacam-se o uso de medicações e a aplicação de algumas medidas não farmacológicas. As modalidades de tratamento farmacológico incluem medicamentos não opioides e opioides, medicamentos moduladores da dor, agentes tópicos e outras terapias mais recentes. Ao prescrever medicamentos analgésicos para pacientes geriátricos, a recomendação geral é comece baixo e vá devagar.
Infelizmente, há pesquisas limitadas sobre a dosagem de medicamentos analgésicos em idosos, especialmente para antidepressivos e anticonvulsivantes, em comparação com o necessário para o controle da dor em pacientes mais jovens. Em função do exposto, as medidas não farmacológicas tornam-se particularmente importantes em pacientes idosos, pois apresentam menor frequência de reações adversas em comparação com as abordagens farmacológicas e seu benefício geralmente é aumentado quando combinado com estratégias medicamentosas. As abordagens não farmacológicas eficazes incluem fisioterapia, terapia cognitivo-comportamental e, mais importante, intervenções de educação do paciente e do cuidador.
*Este material não reflete, necessariamente, a opinião do Aratu On.