Saúde e Bem-Estar

Os desafios de viver com a endometriose

Colunista On: Dra. Anita RochaAlgologista e especialista no tratamento da dor
Os desafios de viver com a endometriose

Foto: ilustrativa/Pexels


 


A endometriose é uma doença inflamatória provocada pela presença de endométrio, camada que reveste o útero e que é eliminado mensalmente durante a menstruação, fora da cavidade uterina. Geralmente é uma condição crônica e debilitante que traz várias limitações a vida da mulher, sendo caracterizada principalmente por dor pélvica crônica e infertilidade.


Sabe-se que a endometriose tem uma grande carga social e econômica, afetando aproximadamente 1 em cada 10 mulheres em todo o mundo. No Brasil não é diferente. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, 7 milhões de mulheres sofrem de endometriose no Brasil. Destas, 57% apresentam dor crônica, 62% cursam com cólicas intensas e 55% apresentam queixas intestinais cíclicas. A infertilidade tem sido relatada em 30 a 50% dos casos. Apesar dessa carga, a etiologia e a patogênese da endometriose permanecem mal definidas, enquanto as intervenções terapêuticas eficazes permanecem limitadas.


Não há um biomarcador para endometriose e o diagnóstico muitas vezes é desafiador. Estudos demonstram haver um hiato de cerca de oito anos entre o início dos sintomas e a definição da sua origem. Em verdade, a endometriose tem sido diagnosticada através da avaliação clínica cuidadosa, seguida da realização de alguns exames de imagem específicos, como ultrassonografia e ressonância nuclear magnética e/ou pela realização de cirurgia.


Considerando-se os aspectos clínicos, verifica-se uma associação entre endometriose e algumas comorbidades, como distúrbios da bexiga e do cólon irritável, o que pode traduzir o papel do sistema nervoso na perpetuação da dor. As pacientes com endometriose geralmente referem dor no baixo ventre, dor ao evacuar, sensação de aperto ao urinar, desconforto no momento do ato sexual, dor nas costas, alteração do fluxo menstrual, cansaço crônico e dificuldade para engravidar. Estas queixas são consideradas sinais de alerta para a presença de endometriose.  


Muitas pacientes são tratadas cirurgicamente, através da ablação (queima) e remoção das lesões presentes fora do útero, entretanto a remoção cirúrgica de lesões endometriais não está necessariamente associada ao controle dos sintomas e da dor. Nestes casos indica-se o uso de agentes farmacológicos hormonais e não-hormonais, que objetivam a prevenção da menstruação e o bloqueio da progressão da doença e da inflamação. A proposta é bloquear os hormônios que alimentam o crescimento da endometriose e quando isto não é possível inibir a liberação de substâncias inflamatórias que contribuem para a persistência dos sintomas, principalmente da dor. Neste cenário são realizadas injeções, aplicação de medicações por meio de adesivos, implantes hormonais e DIU.  Nos casos refratários propõe-se a indução temporária da menopausa, com todos os riscos e desconfortos a ela atrelados: ganho de peso, ondas de calor, redução da libido e ressecamento vaginal. 


Estudos demonstram que mesmo nas pacientes que melhoram inicialmente após a remoção dos focos de endometriose, a dor crônica, sintoma cardinal da endometriose, pode retornar. Isto demonstra haver uma desconexão entre a presença da lesão e a presença de dor, havendo necessidade de se implementar um tratamento diferenciado, com a atuação de uma equipe multiprofissional composta por médicos de diferentes especialidades, fisioterapeuta, nutricionista e psicólogos. Estes profissionais em conjunto definem a melhor estratégia a ser adotada.


Fala-se em associação de medicações como antinflamatórios não-hormonais, fármacos opioides, fármacos gabapentinoides, antidepressivos e “canabis medicinal”. Algumas pacientes irão se beneficiar da realização de acupuntura e bloqueios analgésicos. Havendo comprometimento da atividade sexual e presença de desconforto ao urinar e ao evacuar, propõe-se algumas técnicas de fisioterapia como terapias manuais, vibração, mobilizadores de tecidos e estimulação elétrica transcutânea. 


HÁBITOS


A mudança nos hábitos de vida é parte integrante do tratamento. Cuidar da mente e do corpo tornam-se mandatórios neste contexto. Deve-se buscar um estilo de vida equilibrado, acompanhamento psicológico especializado, compreender a doença e, acima de tudo, as medidas capazes de proporcionar uma melhor evolução.


O diagnóstico precoce é fundamental, uma vez que o atraso no diagnóstico permite a progressão de uma doença complexa, aumentando a probabilidade de dor, infertilidade, sofrimento e acima de tudo de comprometimento da qualidade de vida das pacientes. As práticas de esportes devem ser regulares. Recomenda-se atividades aeróbicas como nadar, correr, pedalar, pois estas modalidades esportivas estão sabidamente associadas a liberação de endorfinas e de substâncias capazes de inibir a dor, como serotonina e noradrenalina. 


Dietas ricas em fibras e pobres em alimentos pró-inflamatórios serão sempre bem-vindas. A atenção com a ingesta de água e com a qualidade da alimentação irá contribuir para o controle do peso, para a regularização do hábito intestinal e sobretudo para a redução da inflamação. Deve-se evitar farinha branca, alimentos processados, frituras, refrigerantes e alimentos açucarados. Estes alimentos estão associados a uma cascata de reações químicas que produzem substâncias capazes de promover dano tecidual e modificações no DNA das células do organismo. 


*Este material não reflete, necessariamente, a opinião do Aratu On.


Importante: Os comentários são de responsabilidade dos autores e não representam a opinião do Aratu On.

Dra. Anita Rocha

Dra. Anita Rocha

Dra. Anita Rocha é médica Algologista , coordenadora do Itaigara Memorial Clínica da Dor, membro titular da Sociedade Brasileira de Anestesiologia; da Sociedade Brasileira de Dor e da Sociedade Brasileira de Médicos Intervencionistas da Dor. Possui residência médica em Anestesiologia pelo CET Obras Sociais Irmã Dulce; em Clínica da Dor pela UNESP-Botucatu e formação em Técnicas Intervencionistas para o tratamento da dor na Singular/Campinas. 

Instagram: @draanitarocha
 

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