Algemas invisíveis: ansiedade na infância e adolescência
Foto: ilustrativa/Pexels
A ansiedade é um transtorno mental multifatorial que representa a resposta do cérebro a estímulos identificados como ameaçadores pela pessoa que o vivencia. Trata-se de uma emoção básica que não necessariamente é patológica, pois é adaptativa em muitos cenários, quando contribui para a preservação da integridade do indivíduo diante do perigo. Um conceito interessante é que a ansiedade se torna desadaptativa quando interfere nas atividades de vida diária, trazendo sofrimento ou prejuízo subjetivo. Embora a ansiedade na infância e na adolescência seja um tema pouco discutido, estas são as fases de risco central para o desenvolvimento de síndromes de ansiedade que podem variar de sintomas leves transitórios a transtornos de ansiedade completos. Os desafios são inúmeros, mas precisam ser ultrapassados, uma vez que quando a ansiedade patológica começa na infância ou na adolescência e não é tratada de forma adequada, pode dar origem a outras patologias e a um comprometimento da qualidade de vida do paciente na fase adulta.
É importante ressaltar que a diferenciação entre ansiedade normal e patológica pode ser particularmente difícil em crianças porque as crianças manifestam muitos medos e ansiedades como parte do desenvolvimento típico. Embora esses fenômenos possam ser extremamente angustiantes, eles ocorrem na maioria das crianças e são tipicamente transitórios. Exemplo de ansiedade transitória são comuns ao longo da vida da criança. Qual pai ou mãe não se deparou com a ansiedade de separação, que ocorre dos 12 a 18 meses, ou com o medo de trovões e relâmpagos frequente em crianças com 2 a 4 anos? Estas emoções são naturais e devem ser conduzidas como tais. Entretanto é importante estar atento, principalmente em algumas circunstâncias especiais, crianças maiores podem apresentar dificuldades cognitivas e emocionais, adotando um comportamento de evitação e sofrimento, o que pode dificultar o diagnóstico da ansiedade patológica. Estudos demonstram que os transtornos de ansiedade são os transtornos mentais mais frequentes em crianças e adolescentes e, portanto, parecem ser a primeira de todas as formas de psicopatologia, tendo uma prevalência de 8 a 12%, muito maior do que a observada com transtornos mais debatidos como Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), transtorno do espectro autista (TEA) e os outros transtornos do humor.
Há vários tipos de transtornos de ansiedade. Dentre estes destacam-se os transtornos de ansiedade de separação, já citado, alguns tipos de fobias específicas (particularmente de alguns animais, de injeção e do tipo ambiental), fobia social, transtorno do pânico, agorafobia e transtorno de ansiedade generalizado (TAG). Independente do tipo de transtorno de ansiedade apresentado, os sintomas apresentam características comuns. Há relato de sensação de angústia, de ameaça e/ou de bloqueio diante de situações corriqueiras. Em geral os sintomas são internalizantes, sendo mais vivenciados e sentidos por quem os sofre do que observáveis por pessoas do convívio da criança ou do adolescente. Muitas vezes a criança não consegue verbalizar o que sente e aquelas que o conseguem, observam as suas queixas serem pouco valorizadas e até mesmo ridicularizadas. Com isto, tornam-se vítimas ainda maiores não apenas das suas próprias emoções, mas do despreparo e do preconceito daqueles que o cercam. Para reverter este quadro é fundamental fazer um diagnóstico precoce o qual só será possível através de um olhar cuidadoso da família, do pediatra e dos educadores sobre o comportamento das crianças e adolescentes, buscando identificar a ansiedade desproporcional a idade diante de atividades do dia a dia como dormir, ir à escola, fazer apresentação diante de um grupo de familiares ou amigos. É importante ressaltar que há sinais de alerta que devem sempre ser pesquisados por serem sugestivos de tipos diferentes de transtorno de ansiedade. Crianças com transtorno de ansiedade de separação, por exemplo, geralmente perseguem os pais pela casa, tem dificuldade para dormir sozinho no quarto, tem dificuldade de ficar ou ir à escola e tem um comportamento de busca quando se veem sozinhos. Já os pacientes com transtorno de ansiedade social evitam situações em que podem ser avaliados negativamente, não aceitam críticas, evitam situações sociais por medo ou apresentam, quando expostos a estas, palpitação, tremores, sudorese, tensão muscular, rubor facial e até mesmo desconforto gastrointestinal.
É importante estimular que os “pequenos” tenham uma vida cercada de amor, de cuidado e sobretudo de incentivo ao desenvolvimento da auto-estima, da auto-eficácia, da assertividade, da confiança nos relacionamentos e da sensação de pertencimento. Isto só será possível através da criação de programas de prevenção e tratamento precoce, fatos que proporcionarão a superação dos obstáculos do dia a dia e um crescimento verdadeiramente saudável.
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