'Quem mais preserva meio ambiente é o produtor rural', diz presidente da FAEB

Presidente da FAEB, Humberto Miranda, defende protagonismo do Brasil na sustentabilidade e prevê grave crise decorrente do tarifaço

Por João Tramm.

O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado da Bahia (FAEB), Humberto Miranda, defendeu em entrevista exclusiva ao Linha de Frente, da Aratu, que os produtores rurais são os verdadeiros responsáveis pela preservação ambiental no Brasil. Segundo ele, o setor é, ao mesmo tempo, motor de geração de emprego e renda, além de protagonista na conservação das matas nativas.

“Hoje nós temos mais de 60% das florestas nativas preservadas dentro das propriedades rurais. Na Bahia, por exemplo, ao comprar uma fazenda de 1.000 hectares, o proprietário precisa manter 20% da área intacta, preservando toda a vegetação nativa. É como comprar um apartamento de cinco quartos e deixar um fechado apenas para cuidar e zelar. Isso está na legislação e mostra que temos um dos Códigos Florestais mais rígidos do mundo”, destacou.

Miranda defendeu que o Brasil assuma uma postura de liderança em eventos internacionais, como a COP, mostrando ao mundo os índices de preservação e cobertura vegetal do país. “Quando comparamos rios e áreas preservadas da Europa com as do Brasil, vemos que damos um show em sustentabilidade”, afirmou.

Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

O presidente ainda rebateu as críticas relacionadas com alterações na legislação sobre o licenciamento ambiental. as recentes mudanças nas regras de licenciamento ambiental. Miranda disse que o impacto não é de prejuízo nem de benefício direto, mas de maior agilidade.

O projeto relacionado a Licenciamento chegou a ser classificado como PL da Devastação

“Hoje, para construir uma estrada que vai beneficiar milhares de pessoas, os processos ambientais podem levar anos de análise. O que a legislação busca é dar praticidade, sem flexibilizar o que é proibido. Se houver risco a nascentes, por exemplo, o pedido continuará sendo negado. O que muda é a rapidez nas respostas, sem retirar direitos da sociedade e sem dar carta branca ao produtor”, explicou.

Preocupação com o tarifaço

Outro tema tratado com preocupação por Humberto Miranda foi o tarifaço, resultado do agravamento das tensões comerciais entre Brasil e Estados Unidos. Para ele, a medida, que entrou em vigor no início deste mês, pode trazer efeitos devastadores para a economia do estado, afetando empregos, renda e preços de alimentos, principalmente para os consumidores.

“Estamos vendo isso com muita preocupação. A sociedade brasileira, em virtude até das narrativas políticas de um lado a outro, não se atentou para o que isso pode causar na economia da Bahia, no emprego, na renda e na inflação que vai bater à porta, inclusive dos pequenos, que vão pagar mais caro nos alimentos”, disse Miranda.

O presidente da FAEB explicou que a Bahia é o segundo maior produtor de frutas do país, perdendo apenas para São Paulo, e que produtos perecíveis como manga e uva estão sendo colhidos exatamente neste período: “Não dá para você pedir tempo para daqui dois, três, quatro meses colocar no mercado de outros parceiros", destacou. 

Miranda ainda criticou o entendimento de que a manga vai ficar mais barata no mercado nacional, o que foi classificado por ele como ‘lei do engano’. 

"Você pode achar mais barato rapidamente por uma ou duas semanas, mas a manga está em um preço tão baixo que sequer vai ser colhida. Não vai chegar ao consumidor, porque o produtor paga para colher, em torno de 20% do preço do custo, vai ser melhor deixar perder. Só que aí vem outro problema, sanitário: quando a fruta fica no pé, o solo afeta a próxima safra. Por isso eu digo, a gente sabe onde começa, mas não onde termina.”

Previsão e futuro do agronegócio

Miranda também apontou para uma tendência que, segundo ele, pode redefinir a dinâmica social e econômica do Brasil: um êxodo urbano em direção ao interior.

“Sou um dos poucos brasileiros que faz essa previsão, mas acredito que cada vez mais pessoas vão migrar para o interior. Hoje, o campo utiliza ciência, tecnologia e inovação para gerar emprego. Com a conectividade, é possível viver no interior e trabalhar em home office. Isso vai se intensificar”, afirmou.

Ele lembrou ainda que o Brasil alimenta cerca de 1 bilhão de pessoas em 190 países, mas enfrenta o paradoxo da fome interna. “Temos os alimentos mais baratos do mundo no mercado internacional, mas ainda há brasileiros passando fome. Isso é resultado da falta de políticas públicas”, disse.

Apesar dos avanços, o presidente da FAEB apontou gargalos e desafios que ainda prejudicam especialmente os pequenos produtores. Entre eles, a precariedade da energia elétrica e da conectividade no campo.

“Não é possível manter nem um motor básico para irrigação em algumas propriedades. Fora das áreas urbanas, muitas vezes só existe a energia do programa Luz para Todos, que mal sustenta o básico da casa. Além disso, a falta de internet continua sendo um obstáculo para inclusão social e econômica”, completou.

Dr. Humberto Miranda, presidente da Faeb

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